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02/05/2018 19:00:00

O escândalo de violência sexual que atingiu os homens da ginástica olímpica brasileira


O escândalo de violência sexual que atingiu os homens da ginástica olímpica brasileira

Três meses depois de o mundo ficar horrorizado com as denúncias que culminaram na queda da cúpula de toda a Federação de Ginástica dos Estados Unidos e na condenação do médico Larry Nassar a mais de 175 anos de prisão por abuso sexual de mais de 145 mulheres da equipe de ginástica olímpica norte-americana, um novo escândalo explodiu mas, desta vez, no Brasil.

 

Em reportagem do Fantástico, da TV Globo, no último domingo (29), o ex-treinador da seleção masculina de ginástica olímpica, Fernando de Carvalho Lopes, foi acusado de ter praticado abuso sexuais enquanto trabalhava pelo Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, por pelo menos 42 atletas.

 

Lopes foi afastado da Seleção Brasileira em 2016 justamente por conta de uma denúncia que o acusava de ter abusado sexualmente de um menino durante os treinos. À época Lopes fazia parte da comissão técnica da seleção brasileira, às vésperas dos Jogos do Rio. Foi afastado e nunca mais voltou ao cargo. Agora, são mais de 40 as acusações contra o treinador, que está fora do Mesc, clube no qual trabalhava, e sob investigação do Ministério Público de São Paulo.

 

Anos de violência sexual

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Petrix Barbosa falou abertamente sobre as acusações de assédio e fez revelações bombásticas.

Os pais do garoto, cujo nome não foi revelado, e que também não quiseram se identificar confirmaram, em entrevista ao Fantástico, que a violência sexual cometida pelo treinador fez com que o filho desistisse do sonho de se tornar atleta olímpico.

 

"O moleque era megatalentoso, mas, depois disso cortou o sonho", testemunhou a mãe. "Era toda hora mãos nas nádegas do menino", emendou o pai da criança, que foi treinada por Lopes no Mesc dos 9 aos 13 anos.

Pedia para a gente mostrar o pênis, espiava no banho. Essa pressão em um garoto de 10, 11 anosPetrix Barbosa

Entre os que acusaram Fernando e se dispuseram a falar abertamente sobre o assunto está um ex-campeão pan-americano: Petrix Barbosa. O medalhista nos Jogos de Guadalajara, no México, em 2011, contou que Fernando foi seu primeiro treinador e que perdeu as contas de quantas vezes "acordou com a mão do técnico dentro de suas calças".

Segundo Petrix, que trabalhou dos 6 aos 13 anos com Fernando, o acusado usava táticas diferentes de abuso, mas todas com alto grau de constrangimento aos atletas.

"Ele perguntava como estava o nosso desenvolvimento e dizia que precisava acompanhar nosso crescimento para mudar o treino. Pedia para a gente mostrar o pênis, espiava no banho. Essa pressão em um garoto de 10, 11 anos...".

Alguns dos atletas abusados trocaram o clube de São Bernardo por um de São Caetano. E revelaram que o técnico Marcos Goto, responsável pela preparação do medalhista olímpico Arthur Zanetti e coordenador da seleção, sabia dos abusos e não fazia nada, a não ser piadas sobre o assunto.

Bullying no início da carreira

REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Diego Hypolito revelou ter sofrido bullying de atletas mais velhos.

Outro renomado atleta brasileiro que resolveu falar sobre os abusos foi Diego Hypolito. O medalhista olímpico, no entanto, não direcionou as acusações a Fernando de Carvalho Lopes. Em entrevista para o Jornal Nacional, na última segunda-feira (30), o atleta, de 31 anos, contou que sofreu bullying de companheiros de equipe mais velhos no início da carreira.

"Quando eu vi a matéria hoje, no Globo Esporte, foi a primeira vez que eu tive coragem de contar pra minha mãe que eles me faziam ficar pelado, e pegar com o ânus uma pilha colocando uma pasta de dente em cima e a questão da humilhação. E, neste dia, quando aconteceu isso, eu tive ataque epilético e, depois, por ter tido o ataque epilético, eu não consegui fazer a prova toda (...) Depois a gente tinha de colocar ainda com o ânus, não podia ajudar com a mão, você tinha de se agachar, pegar a pilha com o ânus e depois deixar dentro de um tênis, num buraquinho de um tênis. E, depois, (...) se a pilha caísse fora, você tinha de voltar e fazer a prova de novo. Eu fiquei muito nervoso com a situação acontecendo, me deu desespero".

O outro lado

A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) emitiu uma nota oficial se pronunciando sobre o caso e prometendo tomar providências drásticas contra a grave denúncia. Em nota enviada à imprensa, a CBG informou que está trabalhando em parceria com o Ministério Público para apurar os casos de abuso sexual na modalidade. E prometeu averiguar também as denúncias contra Marcos Goto.

"Relativamente à matéria exibida neste domingo no Programa Fantástico, da Rede Globo, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), por meio desta, informa que adotará providências urgentes, em consonância com orientações do Ministério Público do Trabalho, órgão que tem cooperação nessa área, no sentido de avaliar o melhor procedimento que o caso requer.

De todo modo, vale ressaltar previamente que a entidade fará a oitiva do treinador Marcos Goto sobre a acusação de comportamento inadequado.

Quanto aos aspectos preventivos e até repressivos na temática vale reiterar, conforme link abaixo, que a CBG firmou ajuste com o Ministério Público do Trabalho para combate à assédio e abuso moral e sexual, manipulação de resultado, doping e outras formas de violência ou fraudes no esporte.

A instituição já realizou seminário bastante exitoso em parceria com o COB acerca do assunto e implementou ações e atividades educativas e preventivas nesse aspecto. No mesmo sentido, foi aprovado na assembleia geral da CBG o código de ética, e está sendo composto o comitê de ética e integridade da Confederação para processo e julgamento de casos relacionados ao descumprimento da codificação mencionada.

Nenhum caso de Assédio ou Abuso ficará sem rigorosa apuração e eventual sanção, conforme a hipótese."

Fernando de Carvalho Lopes falou por telefone com o jornal O Globo e negou qualquer envolvimento em assédio sexual com os atletas que treinou. Segundo o agora desempregado treinador, tudo não passa de um mal-entendido e de "interpretação errada" sobre suas atitudes.

"Acho que eu tive o problema de muitas vezes misturar, achar que era mais do um técnico. Isso talvez tenha dado uma margem de interpretação errada. Eu tenho minha consicência limpa: nunca estuprei, nunca molestei ninguém da forma como está sendo colocado".



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