Líderes dos dez maiores partidos ouvidos pelo jornal Estado de S. Paulo e pelo Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) pretendem direcionar os recursos eleitorais em 2018 para campanhas de candidatos que já tenham mandato político. Além disso, também devem priorizar o espaço da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV para caciques partidários e candidatos conhecidos em seus redutos. Com recursos limitados - o fundo eleitoral terá R$ 1,7 bilhão - e um período menor de propaganda gratuita, os partidos avaliam que precisam concentrar a estratégia em quem já é conhecido para garantir a eleição. A tática vai na contramão da expectativa de que as novas regras eleitorais, aprovadas no fim de setembro no Congresso, pudessem acelerar uma renovação na política.
O
cenário começou a se desenhar nesta semana, com a aprovação do Orçamento da
União de 2018, que manteve o atual montante de recurso público destinado a
financiar as campanhas. Sem perspectiva de aumentar esse valor, as maiores
legendas já começaram a discutir como vão dividir o bolo internamente. Partidos
como PT, PSDB, PSB, PDT e DEM vão priorizar aumentar suas bancadas para a
próxima legislatura.
No
caso da propaganda no rádio e na TV, pela primeira vez, candidatos aos governos
dos Estados e à Presidência da República se apresentarão aos eleitores, em rede
nacional, somente a partir de 1.º de setembro. O primeiro turno das eleições
está marcado para 7 de outubro. Em 2014, a propaganda começou em 19 de agosto.
"A
campanha eleitoral começa mais tarde e vai priorizar os que têm mandato. Essa é
uma vantagem comparativa grande. Todos eles vão ter menos votos do que tiveram
na eleição passada, mas vão se eleger porque terão mais condições do que os
novos (na política)", disse o diretor do Departamento Intersindical de
Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.
Permanência
A
reportagem procurou os presidentes dos dez maiores partidos e seus respectivos
líderes no Congresso. Em comum, há o discurso de que deputados federais e
senadores que já possuem mandato ficarão com o maior quinhão dos recursos para
garantir a permanência em seus cargos.
A
explicação para essa estratégia passa pelas regras de distribuição do fundo
eleitoral, definidas na reforma política. Os partidos com as maiores bancadas
no Congresso recebem mais recursos do que os outros. Com isso, as grandes
legendas devem investir a maior parte do dinheiro na eleição para a Câmara dos
Deputados.
"É
claro que vamos ter de priorizar para eleger deputado federal. A gente tem a
pretensão de dobrar a bancada, subir de 20 deputados para 40. Isso é a nossa
prioridade", explicou o presidente do PDT, Carlos Lupi. "Como também
temos um candidato à Presidência da República, temos de dar prioridade à
candidatura nacional, o que ajuda as candidaturas nos Estados. Uma coisa puxa a
outra, a tendência é essa."
O
presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, disse que vai reservar pelo
menos R$ 500 mil para cada um dos deputados da bancada na Câmara, que hoje tem
16 parlamentares. Esse valor poderá ser maior, caso haja espaço orçamentário. A
sigla deverá receber cerca de R$ 67 milhões do fundo eleitoral, além dos
recursos do Fundo Partidário.
Esse
cenário, no qual os recursos para as campanhas já estão predefinidos, deve
influenciar até mesmo na decisão dos partidos de lançar ou não candidato à
Presidência da República. É o caso do PMDB, que ainda não se definiu sobre uma
possível candidatura à reeleição do presidente Michel Temer. Segundo um
dirigente peemedebista, se o partido tiver candidato a presidente, sobrará
menos dinheiro para dividir entre os candidatos a outros cargos. Essa,
portanto, não deve ser a prioridade da legenda.
De
acordo com a proposta aprovada na reforma política, caberá à cúpula de cada
partido definir como será a distribuição dos recursos do fundo eleitoral. Com
isso, algumas legendas estão reavaliando suas normas internas para definir os
critérios de divisão de verba. Com informações do Estadão Conteúdo.