com antonio aragão // grabriel siqueira (colaborador)
Eng. Civil Marcos Carnaúba - Consultor
Desde a infância acompanho as cheias dos rios Paraíba e Mundaú quase sempre no inverno quando festejava o São João em Viçosa, terra natal do José Carnaúba meu saudoso pai. O acesso era de trem porque um atoleiro contínuo cobria as rodovias, o Mundaú inundava Satuba e o Paraíba urrava na cidade de Atalaia onde havia uma ponte precária várias vezes destruída pelas enxurradas.
O tempo passou, o progresso chegou, as matas sumiram os rios caudalosos o ano inteiro minguaram plenos de areia e lixo. De vez em quando novas cheias ocorrem com intervalo semelhante à ocorrência de secas,
Dessa vez foi diferente, houve um fato novo em situação atípica e atrevo-me, como pesquisador de semi-árido, a explicar o desastre por uma linha de lógica ainda não abordada.
O verão no agreste foi atípico e os açudes e barragens não secaram mantendo os níveis de Água em meia altura e mais alto em várias regiões. No agreste de Pernambuco chuvas de trovoadas ocorrem há meses, sem reflexos nos rios alagoanos porque ali existem milhares de pequenos e médios açudes e barragens que seguraram a Água e vários sangraram.
Surgiu, então, um fenômeno climático retratado pela onda de calor, e temperatura mais alta do oceano, que perdurou durante meses em toda a região de Alagoas e Pernambuco. Desde o início da semana trágica uma onda de ar aquecido fluía do oceano com muita umidade e se espraiava sobre a região. No dia 17 um distúrbio atmosférico que os meteorologistas chamam de Onda de Leste disparou o gatilho ao adentrar no continente, o ar aquecido subiu gerando nuvens pesadas que se transformaram em chuvas torrenciais sobre o agreste de Pernambuco e de Alagoas. Cento e oitenta litros de água por metro quadrado em só são dia são a chuva de um mês inteiro.
Açudes e barragens já quase cheios verteram água em excesso para todos os rios da região, que escoaram em grande velocidade gerando ondas nas cachoeiras e as inundações cujos rastros de destruição estão visíveis. Foi isso. Nada a ver com rompimentos de barragens que continuam lá, ainda vertendo água tão amarga quanto às lágrimas derramadas pelo nosso povo.
Reflorestar as margens ciliares, sim - impõe-se - reconstruir cidades, sim - planejar é missão da engenharia, mas fora das áreas de risco delimitadas pelas cruzes que serão fincadas ‘in memoriam’ dos que se foram.