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Educação
10/12/2022 19:00:00

Da feira livre da periferia paulistana para a Harvard

Menino preto que via no futebol a única chance de vencer na vida, se graduou em uma das mais renomadas universidade americana, ocupa importante posto em um banco e hoje ajuda pessoas de baixa renda a buscar um lugar ao sol


Da feira livre da periferia paulistana para a Harvard

Aos 34 anos, André Menezes é prova viva de que a educação e a perseverança são ingredientes essenciais para encurtar caminhos entre o sonho e a realização profissional. Criado no bairro dos Pimentas, na periferia de Guarulhos (SP), ele experimentou parte da infância relativamente confortável até os 13 anos, quando se viu obrigado a trabalhar em uma feira livre para ajudar no sustento da casa. Recém-formado em Harvard, uma das universidades mais prestigiadas do mundo, ele está, hoje, empenhado em ajudar o maior número possível de pessoas menos favorecidas a encontrar um lugar ao sol.

Até agora, desde que se graduou em Master of Liberal Arts (ALM) in Extension Studies, field of Management (Mestre em Artes Liberais com foco em Administração), na conceituada instituição norte-americana, Menezes já orientou, voluntariamente, pelo menos 30 pessoas de todo o país a buscar crescimento profissional nas mais diferentes áreas, sobretudo na tecnológica. "Meu foco é mentoria de carreira para pessoas pretas que querem se se desenvolver profissionalmente, assim como na parte acadêmica, como aprender inglês ou estudar em outro país", diz.

Essa empreitada, segundo ele ainda informal, será melhor estruturada no próximo ano, com a criação de um programa abrangente, pautado por conferências e encontros em comunidades periféricas. A ordem, adianta, é furar bolha das redes sociais, partindo para o corpo a corpo, uma vez que a desigualdade digital ainda impera no país.

André Menezes, durante sua formatura na universidade Harvard, em maio deste ano
André Menezes, durante sua formatura na universidade Harvard, em maio deste ano(foto: Arquivo pessoal)

Menezes pretende conciliar sua ação voluntária com o cargo de gerente do banco digital Nubank. Sua função na fintech é gerenciar grandes iniciativas e projetos especiais. No mesmo grupo, integra o grupo de afinidade Nublacks, que busca promover ampla discussão, agregar cultura e organizar pensamentos dos participantes para a luta diária na sociedade, debatendo e criando um caminho de transformação, aumentando, assim, a conscientização e a igualdade para a comunidade negra.

No início da sua trajetória, quando conquistou seu primeiro emprego, começou a ver com outros olhos a área de tecnologia da informação. Logo após essa transição de carreira, iniciou cursos na área, como MBA na Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP) em gestão de tecnologia da informação e gestão de processos.

Conquistas que, para quem cresceu com a ideia de que pessoas negras foram talhadas somente para jogar futebol, fizeram grande diferença. "A única referência que tinha e onde me via quando criança era como um craque. Não conseguia vislumbrar uma posição de sucesso em minha vida senão como artilheiro ou zagueiro", lembra Menezes, que chegou a tentar uma vaga na categoria de base da Portuguesa, sem sucesso.

André Menezes, durante sua formatura na universidade Harvard, em maio deste ano(foto: Arquivo pessoal)

Apesar de ter nascido em uma família sem muitos recursos, Menezes sempre estudou em escola particular. Os pais eram donos de uma locadora de vídeo, e fecharam o negócio com o advento da internet, quando ele tinha 13 anos. Se viu, então, obrigado a trabalhar em uma feira livre, decidido a custear as mensalidades, passando a estudar no período noturno, feito que levou a cabo até os 18. Segundo ele, fator preponderante para que pudesse cursar uma universidade fora do país. "Sempre acreditei que a educação poderia mudar minha vida e a de minha família", afirma. 

Fã incondicional do Racionais MC's, Menezes se encontrou recentemente com seu maior ídolo, Mano Brown, integrante do grupo de rap e com atuação importante na história dos movimentos negros. "Contei minha história e ele ficou comovido. Me ensinou que a gente cresce no meio das dificuldades e disse que preciso levar os outros comigo, que é importante reverberar minha história e ajudar cada vez mais pessoas", conta o hoje executivo, que dispensa o rótulo da meritocracia.

André Menezes pode ser conectado por meio de seu endereço no Instagram @amenezes88

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