O ambiente escolar é um local que deve passar a sensação de segurança e conforto, além de harmonia entre funcionários e estudantes. No entanto, é neste mesmo lugar que podem ocorrer agressões físicas, verbais, psicológicas e sexuais, além do conhecido “bullying”, termo em inglês que significa “agressões contínuas”.
Recentemente, estudantes de um colégio de Maceió denunciaram um caso de assédio sexual cometido por um aluno de 13 anos, trazendo à luz a gravidade desse tipo de violência dentro das escolas. De acordo com a equipe de profissionais da escola, as providências foram tomadas e os alunos esclareceram o ocorrido.
Em outra escola particular da capital, na primeira metade do ano de 2022, uma jovem sofreu bullying por parte de seus colegas de classe, que inventaram que ela iria cometer um atentado no local. A menina foi bombardeada com mensagens de ódio e ficou muito abalada com a situação. As medidas cabíveis foram tomadas pela instituição de ensino.
Pensando nisso, o CadaMinuto conversou com pais, profissionais da educação e órgãos públicos para debater sobre o assunto.
Orientação
O Policial Militar Arthur Lima conta que orienta sua filha de 13 anos, Isabelle Lima, a ficar atenta e se afastar de pessoas que apresentem comportamento violento e que possam fazer algum mal a ela. “Oriento ainda, em caso de agressão, de qualquer tipo, a sempre informar a direção do estabelecimento e a mim”, completa.
Arthur considera, ainda, que é preciso conversar com os filhos ainda na infância a respeito de assédio sexual, pois muitos deles passam a conviver entre pessoas de todas as idades, que podem abusá-los.
“Acho importante aconselhar a criança a sempre ficar atenta e se necessário, longe de pessoas, conhecidas e desconhecidas, que busquem um contato físico mais íntimo”, frisa o policial.
Ao ser perguntado sobre quais medidas tomaria caso sua filha fosse vítima de violência em ambiente escolar, o policial comenta que buscaria a colaboração da escola para reunir provas contra o agressor. Ainda segundo Lima, ele também acionaria a Polícia Civil.
Já a escola, de acordo com Arthur, deve ajudar os pais do aluno, colaborar com a identificação do agressor e denunciá-lo às autoridades competentes.
Bullying
A pedagoga e policial militar Pâmela Gomes, afirma que, desde cedo, instrui seu filho, Arthur Borba, de dez anos de idade, a conversar sobre os acontecimentos do cotidiano escolar, para garantir que ele não sofra nenhum tipo de violência.
Pâmela também orienta que seu filho não participe, mesmo que de forma passiva, na prática de bullying contra outros colegas de classe. “Sempre digo a ele que brincadeira só é brincadeira quando todas as partes envolvidas sorriem e se divertem, quando alguma das partes sente-se oprimida, diminuída, envergonhada ou coagida já não é brincadeira. Trata-se de desrespeito”, ressalta.
Ela ainda salienta que a escola é um lugar em que Arthur, assim como os outros alunos, devem se sentir seguros e protegidos, qualquer sensação que passar disso deve ser comunicada imediatamente a algum adulto do espaço escolar e, em seguida, aos pais da criança.
A conversa sobre assédio sexual pode ser delicada, mas é necessária e, para a policial, a partir do momento em que a criança é inserida no ambiente escolar.
“Meu filho hoje tem 10 anos, desde que ele era mais novo eu o ensino, por exemplo, que algumas partes no corpo dele ninguém pode tocar, que não é certo comentar e zombar sobre a aparência de nenhum amiguinho. Tento instruir ele de todas as possíveis violências e também para que ele não pratique e nem apoie esse tipo de comportamento”, frisa Pâmela.
A pedagoga pontua que seu filho cursa o 5º ano do fundamental 1, estuda em escola particular e, apesar de ser orientado de todas as formas, sofreu violência na escola.
“Ao voltar da escola relatou que um aluno do 7º ano, do fundamental 2, caçoou dele, contou que o menino ficou zombando do casaco dele do personagem Sonic. Perguntei ao meu filho se ele realmente acha que existe algum motivo de gozação com o casaco, já que o casaco é bem bonito, ele respondeu que não. Mesmo assim, ao perguntar se ele queria deixar o casaco em casa e ir com outro para a escola, ele falou que não, porque gostava muito do casaco do personagem”, exemplifica Pâmela.
Nesse caso, ela não considerou ser necessário ir à escola, por acreditar ser uma situação pontual, não o início de uma agressão. No entanto, após uma semana, esse mesmo aluno, acompanhado de um colega, aproximou-se de Arthur e fingiu que iria bater nele, além de o xingar com um palavrão.
Na segunda ocasião, Pâmela foi à escola relatar a situação para a coordenadora, pois não sentia mais segurança. “O que mais me preocupou e me deixou desconfortável foi o fato dele não ter a segurança de contar a alguém da escola”, conta.
A coordenação resolveu a situação das crianças, o aluno pediu desculpas pela ação e as desavenças, até o momento, cessaram.
Ministério Público
Para coibir a violência no ambiente escolar, o Ministério Público de Alagoas tem o projeto de “Direitos Humanos em Pauta”, que vai às escolas da capital e do interior, com o objetivo de levar conceitos de cidadania, de direitos humanos e de conscientização sobre os males causados pelo bullying e outras formas de agressão, preconceito e discriminação.
Além deste, também existe a ação “Notificar é Preciso”, que visa especificamente o enfrentamento ao abuso sexual. São promovidas capacitações com toda a rede que envolve assistência às crianças e adolescentes, inclusive com profissionais da educação, para que, em caso de qualquer suspeita de violência sexual, várias instituições, cada uma na sua atribuição, sejam acionadas para a adoção das medidas cabíveis.
Em qualquer destes casos, o Ministério Público deve ser acionado. O promotor de Justiça, ao ser comunicado, irá mobilizar as autoridades competentes na busca da solução do problema e apurar a irregularidade ou crime praticado.
Papel da escola
A coordenadora pedagógica Sandra Paes, está há 16 anos atuando na equipe da Escola Municipal Zilka Oliveira Graça, localizada na parte alta de Maceió, considera que, em casos de agressão, é papel da escola conversar com os alunos, para mediar a situação. Em seguida, é preciso explicar às famílias sobre a situação, a fim de investigar os motivos da criança se comportar de forma agressiva.
“Pode ser que essa criança também seja vítima de algum tipo de violência, seja ela física, psicológica ou verbal, no ambiente familiar”, relata Sandra.
Ela também acredita que dentro da escola é necessário tratar sobre temas como bullying, racismo, homofobia, intolerância religiosa, discriminação religiosa, econômica ou regional, agressão física e psicológica, violência doméstica e abuso sexual.
“Todos esses temas precisam fazer parte do cotidiano da escola. Além do trabalho desenvolvido pelos professores em sala de aula, a Zilka tem parceria com o teatro do SESC, que visita a instituição mensalmente”, exemplifica a coordenadora.
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