Precisamos pensar em como queremos que elas aprendam. Se quisermos que seja naquele contexto escolar mais tradicional, vai ser necessário estimular nas crianças processos cognitivos que envolvam treinos de atenção, memória, autonomia e flexibilidade mental, consideradas funções cognitivas maiores. Então, por exemplo, uma criança que consiga controlar sua atenção por mais tempo vai conseguir, evidentemente, prestar atenção por mais tempo. E uma criança com uma boa memória operacional vai conseguir dar significados para os aprendizados por mais tempo. E como a gente pode preparar as crianças para aprender melhor? Dando estímulos que sejam cada vez mais complicados, mais complexos, e que exijam mais função cognitiva dentro de um processo contínuo. É sempre importante definir qual é o foco do aprendizado.
Essas habilidades cognitivas e socioemocionais são aquelas que são colocadas diariamente para as crianças e é importante que seja assim. Porque não adianta o cérebro desenvolver só as habilidades cognitivas ou só as socioemocionais ou vice-versa. Mas para dizer como a gente vai conseguir estimular tudo isso será necessário analisar as particularidades do ambiente em que a criança está inserida e as características da família e do ambiente escolar.
Para o cérebro, é tudo memória. Toda vez que eu tenho uma conexão neuronal, tenho uma memória. A diferença entre aprendizado e memória é qualitativa. O aprendizado tem a ver com a construção de redes neuronais. Definir quais aprendizagens existem depende de entender quais as redes neuronais que aquele que está aprendendo tem e organiza. Inteligência pode ser definida como o que fazemos com as nossas memórias. Inteligência é a nossa capacidade de resolver nossos problemas. Quando pensamos em cérebro, obrigatoriamente pensamos em conexão. E quando a gente fala em aprendizagem, não estamos falando obrigatoriamente dos aprendizados na escola. Porque para a neurociência não existe Português, Matemática, História ou Geografia. É tudo conexão, e quando essa conexão se repete em um determinado tempo, o cérebro entende que ela é importante, e a gente forma uma aprendizagem.
É a capacidade de adaptabilidade do nosso cérebro. Por isso que conseguimos transitar em ambientes com demandas sociais diferentes. As pessoas tendem a pensar nisso quando há uma lesão, considerando a capacidade do nosso cérebro de se regenerar, por exemplo. Mas não é só isso. Essa capacidade é posta à prova diariamente. O cérebro leva mais ou menos seis meses para automatizar um comportamento e executá-lo com o menor gasto de energia possível.
Exatamente isso. O cérebro é regido pelas mesmas leis de um corpo biológico. Quanto mais eu faço uma coisa, mais tranquilo fica realizá-la. Quem continuou exercitando a atenção, por exemplo, vai estar melhor depois da pandemia.
Não são os impactos no Português ou na Matemática, isso a gente recupera. O problema está no fato de que o cérebro está “destreinado”. Quanto tempo as crianças ficaram sem treinar a atenção delas, por exemplo. A gente está vendo casos de crianças estressadas, nervosas. As memórias não foram “treinadas”. O cérebro está despreparado para voltar ao contexto escolar e social.
A melhor forma de lidar com esse problema é fazer a associação com aquilo que já se sabe. Quando pego coisas que já sei, estou ativando as redes neuronais com aquelas conexões que já tenho.
Exato, o gostar significa que você já tem redes neuronais preparadas para isso. E aí o aprendizado fica mais tranquilo.
Quando a gente fala em telas, também é importante pensar no que estamos falando. Um jornalista, por exemplo, deve passar uma boa parte do tempo no computador. Mas ele tem um trabalho com muito estímulo intelectual. Se você está num joguinho de computador, com pouco estímulo intelectual, o cérebro se acostuma com isso e aí que vem o problema.
A questão não é a tela em si, é o tipo de estímulo ao qual a pessoa está sendo submetida. É lógico que estou analisando a questão do ponto de vista da neurociência. É lógico que você pode ter problemas de postura, por exemplo, se ficar muito tempo no computador
Hoje não. Muitas vezes falta o entendimento do professor de que o veículo para receber as informações é o cérebro. Mas hoje o conhecimento da neurociência está acessível e cabe aos profissionais de educação buscar.
estadão
msn