A Rússia instou às forças ucranianas que ainda resistem em Mariupol para se renderem na manhã deste domingo (17/04) e se comprometeu a poupar as vidas daqueles que depuserem as armas. O ultimato foi dado a combatentes ucranianos e estrangeiros que se encontraram cercados numa siderúrgica da cidade.
"A todos aqueles que depuserem as armas é garantido que suas vidas serão poupadas", afirmou o chefe do Centro de Controle de Defesa russo, o coronel general Mikhail Mizintsev. Segundo ele, os combatentes estão "numa situação desesperada, praticamente sem comida e água".
De acordo com o Ministério de Defesa da Rússia, tropas russas já ocuparam toda a área urbana da cidade, restando apenas um grupo de combatentes ucranianos numa siderúrgica. A alegação de Moscou, no entanto, não pode ser verificada de maneira independente. Cenário dos combatentes mais pesados e da pior catástrofe humanitária da guerra, Mariupol pode ser a primeira grande cidade a ser tomada pela Rússia desde o início do conflito.
Situada no mar de Azov, Mariupol é um dos principais objetivos dos russos no esforço para obter controle total da região de Donbass e formar um corredor terrestre, no leste da Ucrânia, a partir da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. A queda da cidade seria a maior vitória da Rússia em mais de 50 dias de guerra.

Descrita com uma fortaleza na cidade, a siderúrgica fica numa região industrial com vista para o Mar de Azov e ocupa uma área de mais de 11 quilômetros quadrados. No local, estariam fuzileiros navais, além de combatentes da guarda nacional e do Batalhão de Azov – uma milícia nacionalista de extrema direita. Não há informações sobre o número de combatentes que estão no local.
Ainda não houve uma resposta de Kiev ao ultimato russo.
Num discurso à nação, no sábado à noite, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, advertiu que "a situação em Mariupol continua tão grave quanto possível, simplesmente desumana" e culpou a Rússia por "continuar deliberadamente a destruir cidades".
Zelenski sublinhou que os russos "estão deliberadamente a tentar aniquilar todos aqueles que ficam em Mariupol". Ele afirmou ainda que o governo ucraniano tentou, desde o início da invasão russa, encontrar "uma solução, militar ou diplomática, para salvar" a população, mas "até agora, não tem havido uma opção 100% sólida".
Pouco depois em entrevista ao portal de notícias ucraniano Ukrainska Pravda, Zelenski reiterou que a situação em Mariupol é muito difícil. "Nossos soldados estão cercados, feridos estão cercados. Há uma crise humanitária. No entanto, eles estão se defendendo".

O presidente disse ainda que "a eliminação" dos últimos soldados ucranianos em Mariupol "colocará fim a quaisquer negociações de paz" com Moscou. Ele afirmou que as duas partes se encontram "num impasse".
Situada há semanas, Mariupol enfrenta uma das maiores catástrofes humanitárias do atual conflito. A cidade foi alvo de intensos bombardeios e está em ruínas. De acordo com autoridades locais, pelo menos 20 mil civis já morreram na região, desde o início da invasão russa, e cerca de 120 mil habitantes ainda estão na cidade sitiada.
Tropas russas anunciaram na sexta-feira que assumiram o controle de uma outra siderúrgica da cidade que era um dos pontos de defesa dos ucranianos. Jornalistas da Reuters estiveram no local e relataram que a siderúrgica foi reduzida a ruínas e também noticiaram a presença de diversos corpos de civis espalhados nas ruas próximas.
CN (Reuters, Lusa, DW)
dw.com/pt-br