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Economia
14/04/2022 22:00:00

Idosos são penalizados por escalada dos preços em planos de saúde

Idosos com 60 anos ou mais representam 38,4% da parcela que gasta mais de 40% da renda com convênios médicos, diz estudo

Idosos são penalizados por escalada dos preços em planos de saúde

Regina Souza, de 64 anos, vive com a renda da aposentadoria e banca planos de saúde para ela e seu marido, Antonio Luis, também de 64. Por mês, mais de 70% do ganho da ex-auxiliar administrativa é direcionado ao pagamento do convênio, o que dificulta manter as outras contas da casa.

“Meu marido não conseguiu se aposentar devido a problemas de saúde. Tenho que equilibrar os gastos da alimentação, às vezes falta [dinheiro] para o remédio”, conta a idosa ao Metrópoles.

Um estudo recente aponta que planos de saúde fazem com que um percentual significativo dos idosos assuma faturas salgadas. Ou seja, um gasto que os obriga a abrir mão de outras despesas essenciais, como habitação, alimentação e lazer.

“É muito difícil, não tenho nada. Mas a gente enfrenta problemas de saúde. Tenho problemas na válvula cardíaca, então faço acompanhamento médico todo mês”, explica a aposentada. “Meu marido também precisa disso. Ele sofre de diabetes, é hipertenso e traz quatro stents no coração.”

O levantamento mostrou que, do total de pessoas que paga por planos de saúde no Brasil, idosos com 60 anos ou mais representam 38,4% da parcela que gasta mais de 40% da renda com os convênios.

Gastos superiores a 40% são observados em 5,6 milhões de pessoas com 59 anos ou mais e que pagam planos de saúde. A análise foi feita a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, entre as faixas etárias de 19 e 79 anos ou mais.

Em entrevista ao Metrópoles, o pesquisador Ricardo Moraes, um dos autores da análise da UFRJ, em parceria com o IBGEFiocruz e ANS, afirma que os gastos com planos de saúde crescem mais do que o aumento da renda da população.

“Isso é um dos fatores que levam as pessoas a um comprometimento tão alto da renda. Existem regras que limitam quanto a mensalidade de pessoas mais velhas pode ser mais alta que a de pessoas com faixas menores de idade. Mas a capacidade financeira dos usuários não cresce tanto ao longo da vida quanto o preço dos convênios, que pode ser até seis vezes maior, a depender da idade”, explica.

Reajuste

Segundo projeções da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), os reajustes para este ano devem ficar entre 15% e 18,2%, superando o recorde de 13,57% registrado em 2016. No ano passado, os planos individuais tiveram um desconto de 8,19%, devido à redução da demanda de uso dos serviços médicos oferecidos em 2020.

Esse reajuste preocupa dona Regina, que já está no limite de gastos com a saúde: “Meu plano de saúde deve chegar a uns R$ 4.700, não tenho mais como manter. Não sei como vai ficar o futuro, é incerto, e a gente depende de médico, de tratamento, isso é desesperador. Mas eu não tenho alternativa”, afirma.

Ricardo Moraes avalia esse cenário como complexo. “Você pode ter uma pessoa sendo expulsa do sistema privado por incapacidade de pagamento e essa pessoa vai para o SUS, que não está conseguindo crescer, devido ao teto de gastos. A situação fica complicada para a pessoa que, possivelmente, passou a vida inteira gastando com saúde e para o sistema de saúde como um todo. A saúde pública acaba sobrecarregada e a privada perde os clientes”, explica.

Metrópoles