"Eu me calei por muito tempo! Eu sofria com minha filha, sem apoio até dos que se diziam estar ali para ajudar, que eram coniventes e presenciavam tudo calados, sem interferir com a desculpa que eu tinha que aguentar calada porque era o 'jeito dele'. Era esse 'o temperamento dele' e que se eu quisesse viver com ele teria que me sujeitar e ser submissa!", escreveu Pamella Holanda em suas redes sociais após expor episódios das absurdas agressões físicas que sofria do DJ Ivis, seu então companheiro.
Culpa, medo, esperança de que o agressor mude e baixa autoestima são os principais sentimentos que impedem vítimas de violência doméstica de denunciar os seus algozes, de acordo com a psicóloga Adriana Severine, especialista em terapia cognitivo-comportamental.
"Normalmente, as mulheres têm muita dificuldade de denunciar. Porque a pessoa violenta volta, pede desculpa e diz que vai melhorar. E como você está muito envolvida, a tendência é acabar acreditando nisso", afirma.
"Além disso, a nossa autoestima e autoconfiança estão la no pé. Com isso, a gente acaba acreditando que ele agiu assim por causa de algo que fizemos. Esse mecanismo de acreditar que a culpa é nossa se intensifica a cada nova agressão. E a gente acha que qualquer atitude nossa, por exemplo, falar com ele em um momento inoportuno, seria motivo para a agressão", acrescenta a especialista.
A psicóloga explica que o ato de pedir desculpa e demostrar arrependimento é típico de abusadores e faz parte do chamado "ciclo da violência", composto, respectivamente, por três fases: aumento da tensão, ataque violento e lua de mel.
"Durante o relacionamento abusivo, se você só apanhasse, seria mais fácil ir embora. Mas acontece que o abusador volta e a mudança de comportamento dele é gritante. Ou ele volta como se nada tivesse acontecido ou se mostra muito arrependido. E aí te dá carinho, te dá presente", descreve, em relação à fase da lua de mel.
"Por isso, sozinha, a pessoa não consegue sair desse ciclo. É muito difícil, porque ela não consegue perceber que está sendo abusada", completa.
R7