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Especial
26/06/2021 00:00:00

Ações de educação sobem com otimismo do mercado: dá para voltar a investir?


Ações de educação sobem com otimismo do mercado: dá para voltar a investir?

Poucos setores foram tão castigados pela pandemia de covid-19 como o de educação. Com o distanciamento social e a perda de renda das famílias, escolas e universidades tiveram dificuldade para captar e reter alunos. Alguns estudantes resolveram adiar a entrada em novos cursos, enquanto outros, que sempre haviam tido aulas presenciais, não quiseram prosseguir de forma online.

Por isso, quando o governo paulista anunciou duas antecipações que adiantaram o calendário de vacinação no Estado em 45 dias, o mercado financeiro reagiu com empolgação. No pregão do dia seguinte ao segundo anúncio, ações de setores que haviam sido afetados pela restrição à circulação de pessoas tiveram altas expressivas. Cogna e Yduqs, as duas ações de educação que fazem parte do Ibovespa, cresceram 9,45% e 4,07%, respectivamente. No mês, esses papéis já acumulam altas de 10,42% e 5,13%.

Essas altas refletem a expectativa de que, depois de tantas idas e vindas, a recuperação da economia finalmente está mais próxima, o que também foi reforçado pelos números revisados para cima do PIB. Por isso, perguntamos a especialistas quais são as perspectivas do setor e se esse é um bom momento para colocar educação no portfólio.

A pandemia trouxe os fantasmas da inadimplência e da evasão escolar. Como as empresas de educação enfrentaram isso? A pandemia foi muito negativa para o setor como um todo, mas não atingiu todas as empresas da mesma maneira. As maiores vítimas foram escolas de educação básica, segmento pouco representado na Bolsa e ainda muito pulverizado. Grupos educacionais que tinham uma gestão menos profissionalizada sucumbiram às dificuldades e acabaram quebrando.

“A situação do setor só não foi ainda pior porque a medida provisória que permitiu reduções de jornada e suspensão temporária de contratos de trabalho ajudou as empresas a segurar caixa no pior momento da pandemia”, afirma Leonardo Nascimento, sócio da Urca Capital Partners. “As que sobreviveram começam a se recuperar, mas a inadimplência ainda está alta.”

E os grandes players do setor? Não que eles tenham escapado sem arranhões. A Cogna, que tinha um modelo de negócio mais apoiado em ensino presencial, foi uma das mais afetadas. “Ela teve que reestruturar seus campi, entregando algumas operações e reestruturando outras”, conta Luís Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos.

Já a Yduqs sofreu menos porque, desde 2018, já vinha ajustando sua estratégia de crescimento em direção à ampliação do ensino à distância (EAD) e da oferta dos chamados “cursos premium”. Essa categoria, que inclui medicina, odontologia, veterinária, engenharia, administração e economia, tem tíquetes mais altos, taxas de evasão menores e acaba sendo menos sensível a intempéries macroeconômicas. Foi de olho nesses cursos mais rentáveis que a Yduqs comprou o Ibmec, em abril de 2020.

“Com essas mudanças, a receita deles com ensino presencial caiu de 80% para 54%, enquanto EAD cresceu de 14% para 27% e a fatia de cursos premium, que inclui Medicina e os do Ibmec, saltou de 7% para 19%. Ou seja, a Yduqs conseguiu blindar quase metade da sua receita contra os efeitos da pandemia”, diz Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável da Inter Asset. “A evasão foi compensada pelo EAD, e a base de alunos deles caiu apenas 2% em relação ao primeiro trimestre de 2020.”

O EAD já existia antes da pandemia, mas ganhou um impulso muito maior por força do distanciamento social. Até instituições que só ofereciam aulas presenciais tiveram que se adaptar. É algo que veio para ficar? Uma coisa é certa: nada será como antes. O tíquete médio é bem mais baixo que o de um aluno presencial, mas os custos envolvidos também são – e é possível ampliar o número de estudantes de forma exponencial, o que dá um enorme ganho de escala para o negócio. A base de alunos da Yduqs, por exemplo, passou de 236 mil em 2019 para 417 mil neste ano, uma alta de 77%. No mesmo período, sua receita com ensino digital quase dobrou: foi de R$ 146 milhões para R$ 290 milhões.

Além disso, o EAD consegue penetrar em localidades daquele Brasil mais interior, que fica distante da costa e das capitais e tem oferta escassa de faculdades. Para isso, é fundamental a participação de centros de ensino locais, que funcionam como polos parceiros. “O operador de uma escola de inglês, por exemplo, monta 2 ou 3 salas de apoio, em que os alunos têm internet de qualidade para acessar os conteúdos transmitidos pela universidade”, explica o gestor da Inter Asset.

Nem tudo são flores, porém. Alguns players que eram mais fortes no ensino presencial, como Cogna e Ser Educacional, tiveram certa dificuldade para virar a chave na velocidade exigida pela pandemia.

“Elas migraram alguns cursos para o modelo online, mas nenhuma estava preparada para oferecer algo com a mesma qualidade. Tiveram que se adaptar no meio do caminho e ainda precisam acertar melhor suas estratégias”, diz Sales. “Além disso, a ampliação do EAD não foi suficiente para cobrir os custos fixos. Se você tinha 100 mil alunos com tíquete de R$ 1.000 e todos passam a pagar R$ 150 por mês, acaba não compensando.”

No ensino básico, o assunto é bem mais delicado. Não havia uma experiência prévia com EAD, até por questões regulatórias. “A pandemia provocou uma quebra de paradigma e serviu como pontapé inicial para que se use a tecnologia em maior escala, mas ainda há algumas barreiras educacionais”, afirma Nascimento. “Para o aluno do ensino básico, não é tão simples estudar à distância. Mas há várias ferramentas para os empresários construírem soluções nesse sentido.”

Quais são os desafios que as empresas de educação têm no horizonte daqui pra frente? O primeiro é a economia: a melhora das condições macroeconômicas é essencial para o setor. O desemprego continua acima de 10% e uma recuperação robusta da renda é o primeiro passo para que a demanda volte a crescer. “Com a crise, muitas pessoas concluíram que não fazia sentido investir em uma graduação cara e não conseguir emprego na área pretendida depois. Elas buscaram caminhos alternativos”, diz o estrategista da Guide.

Outro ponto de atenção é a concorrência cada vez mais acirrada. As empresas têm se esforçado para se diferenciar, e investir na melhoria do EAD é uma das questões cruciais, especialmente para quem ainda não tinha essa operação tão bem azeitada. A Ser Educacional, por exemplo, anunciou um empréstimo de R$ 200 milhões para investir em uma plataforma digital. “Acho possível inclusive que big techs de fora, como a Google, queiram entrar com força no setor, por meio da EAD”, acredita Maciel. “Não acho que isso ocorrerá no curto prazo, mas é uma preocupação que as empresas de educação devem ter no radar.”

Nascimento destaca que a gestão de caixa ainda é um ponto sensível, o que deve intensificar o processo de consolidação que já vinha ocorrendo antes da pandemia, quando players maiores, em especial Cogna e Yduqs, avançaram sobre outros menores. “Quando se está apertado de caixa, consolidar é uma forma de ganhar escala, reduzir custos e ampliar margens”, ele justifica. “Os grandes têm estrutura de capital mais robusta que os pequenos: conseguem tomar dívida mais barato, podem captar recursos via follow-on. No ensino básico, ainda muito pulverizado, há espaço para consolidar e já se veem movimentos nesse sentido.”

As ações do setor ainda estão descontadas. É um bom momento para ir às compras? Nascimento explica que os preços atuais dos papéis refletem riscos que ainda não se dissiparam completamente para o setor. “Pode haver uma terceira onda de covid-19, ainda que ela pareça pouco provável, isso sem falar nas questões políticas. É difícil precisar o timing certo de quando tudo voltará ao normal”, pondera.

Maciel confia que o avanço da vacinação será decisivo para a reabertura do mercado como um todo e que as instituições de ensino presencial serão especialmente beneficiadas. “O investidor deve ser seletivo neste momento. Ele tem que fazer o dever de casa e entender as estratégias dos principais players do setor”, recomenda.

Sales tem opinião parecida. “Há boas oportunidades, mas é preciso ficar mais atento a detalhes das empresas. Enquanto em companhias aéreas o macro faz mais sentido, em educação é o micro que tem que ser olhado com mais calma, o que cada empresa está fazendo”, finaliza.

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