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Eduardo Tavares.
As pessoas têm me perguntado, ultimamente, porque eu deixei de escrever sobre outros temas como o fazia outrora, publicando textos sobre política, economia, direito e outro assuntos! Respondo dizendo que, apesar ter reunidos hoje cerca de 500 ( quinhentos) artigos, maior parte deles publicada no jornal "Gazeta de Alagoas", há mais de vinte anos, e mesmo sendo um bom observador dos acontecimentos cotidianos, adquiri uma certa aversão a determinadas coisas, sobretudo à política.
Sobre temas relacionados ao Direito, tenho me manifestado somente em processos nos quais atuo, como titular da Primeira Procuradoria de Justiça Criminal do meu querido Ministério Público.
Hoje, prefiro direcionar os meus escritos para assuntos relacionados à ecologia, à sustentabilidade e às coisas simples da vida, como velejar, prosear com as pessoas mais humildes e tomar uma golada no boteco do "Zé do Bode", por exemplo. Passeando pelo interior, era capaz de passar horas a fio conversando com os trabalhadores do campo.
Grande amizade fiz, dentre tantas, com o saudoso Baeta, carpinteiro competente, mas, digamos assim, não muito delicado. Uma pergunta mal formulada bastava para que o Baeta detonasse quem o estava inquirindo. Daí o apelidei de "Seu Lunga", aquele cidadão sertanejo que inspirou o personagem "Tolerância Zero" do programa de TV. Certa vez, montando uma cancela, em meu humilde sitio, o carpinteiro pede ao seu ajudante, o "Peba", que lhe levasse a furadeira. O "Peba", com aquele ar preguiçoso, indagou ao patrão: vai furar a cancela? Baeta prontamente respondeu: “não, eu vou é coçar meu ouvido com a broca”. A mangação era geral. Gosto de sentar com essas pessoas e falar sobre a seca, a chuva, o rio, os animais e as coisas da roça. Aprendo muito com essa gente tão humilde, mas tão sábia. E mais: tem coisa melhor do que você acordar com as vacas muguindo no seu quintal? Tem música mais bonita do que a sinfonia tocada pelos sabiás, pelos canários e pelas rolinhas fogo- apagou? E o entardecer e o amanhecer do Sertão? Um espetáculo diario. Existe vista mais linda do que uma casinha branca lá na curva da estrada?
Gosto de apreciar o vôo das garças. Não existe nada mais prazeroso, para mim, do que subir nas serras do meu lindo Traipu e observar a beleza da Caatinga ( bioma em extinção) com as suas mais variadas formas de vegetação, como a coroa de frade, o xique-xique, o mandacaru e outros cactáceos. É belíssimo o desabrochar da flor do mandacaru.
Sentir a brisa do "Velho Chico" somente se compara a receber o vento que sopra em meu rosto quando, à bordo de minha pequena embarcação à vela, singro as águas azuis da linda enseada da Pajuçara, o que faço com frequência. Comecei sozinho mas, atualmente, temos uma comunidade de amantes desse pedaço de mar. É assim. Acho que viver é amar as pessoas e a natureza. A idade me fez perceber esses detalhes importantes. Tive uma vida de lutas. Uns gostam de mim, outros talvez não! É normal. Fazer política deveria ser tarefa de homens e mulheres altruístas, generosos e solidários, além de inteligentes. Discutir por causa de politica é coisa para os tolos. Aprendi, contudo, a gostar de todos. Somos filhos da Terra. Nada temos. Apenas possuímos por breve período. O dono de tudo e o Planeta no qual vivemos, inclusive dos nossos corpos. O que temos mesmo - é assim que penso hoje - é a nossa consciência.
Gente, tudo é tão efêmero, tão fugaz! Quando partimos quem partiu foram aspectos do nosso mundo interior. Penso que a consciência, ou o espírito, ou o eu interior, como queiram, têm uma jornada infinita a seguir, rumo ao aprimoramento.
Deixemos, pois, as sementes da generosidade e do zelo pelo nosso habitat plantada. A Terra agradece. As futuras gerações de passageiros - os nossos descendentes e a posteridade, agradecem. A criação Divina é perfeita. O Universo é belo, e nós, encarnados ou não, dele fazemos parte.
Vale àpena deixar o legado.
