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Saúde
02/06/2021 08:00:00

Mucormicose: entenda em 9 pontos a infecção causada por fungos e sua relação com a Covid-19

Fungos da ordem 'Mucorales' causam surto na Índia. Casos no Brasil são raros, mas infecções causadas por outros tipos de fungos podem ocorrer nas UTIs durante período .


Mucormicose: entenda em 9 pontos a infecção causada por fungos e sua relação com a Covid-19

Um surto de mucormicose entre pacientes de Covid-19 na Índia registrado nas últimas semanas tem chamado a atenção do mundo. Causada por fungos da ordem Mucorales, a doença pode acometer os pulmões e mutilar os seios da face. A taxa de letalidade também assusta: costuma matar em 50% a 60% dos casos.

Abaixo, em uma sequência de nove perguntas e respostas sobre a mucormicose, entenda o que ela é, como se prolifera e qual a sua relação com o coronavírus:

  1. O que é mucormicose?
  2. Como ocorre a infecção?
  3. A infecção por fungos ocorre no Brasil?
  4. Quem é mais vulnerável a mucormicose?
  5. Por que a mucormicose causa mutilações no rosto?
  6. Por que é popularmente chamada de "fungo preto"?
  7. Como é o tratamento?
  8. Qual a relação entre mucormicose e a Covid?
  9. Por que a Índia passa por um surto de mucormicose entre os pacientes de coronavírus?

1. O que é mucormicose?

A mucormicose é uma infecção causada pelos fungos Mucorales e é conhecida há mais de um século, tendo sido descrita pela primeira vez em 1885.

Falta de higiene pessoal e esterilização inadequada de ambientes e aparelhos hospitalares estão entre fatores que ajudam na proliferação dos fungos causadores da mucormicose e de outras doenças.

Segundo o infectologista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávio Queiroz Telles, os fungos da ordem Mucorales têm dezenas de espécies patogênicas e existem por toda a parte.

"Os fungos Mucorales, agentes de mucormicose, são ubíquos [onipresentes], podendo estar no ar, na água, e etc. Medidas de higiene, esterilização de material médico-cirúrgico e a filtragem de ar podem diminuir o risco de mucormicose [em ambientes hospitalares]", explica Telles.

O infectologista Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que os fungos Mucorales podem acometer qualquer pessoa com o sistema imunológico deprimido.

"Todo fungo é oportunista: ele se aproveita da queda de imunidade em alguns pacientes para se instalar no organismo", afirma Otsuka. Apesar de ser visível na face do infectado, ele explica que a mucormicose pode atingir até mesmo o sistema nervoso.

2. Como ocorre a infecção?

Os fungos causadores da mucormicose são transportados pelo ar, segundo o consultor da SBI, Leonardo Weissmann.

"Os fungos Mucorales crescem rapidamente e liberam um grande número de esporos que podem ser transportados pelo ar. A infecção ocorre pela inalação desses esporos ou, menos frequentemente, através de uma laceração na pele", explica Weissmann.

3. A infecção por fungos ocorre no Brasil?

A mucormicose é considerada rara no Brasil. Apesar disso, o infectologista Marcelo Otsuka explica que infecções fúngicas não são incomuns em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) de Covid.

 "Temos visto faz tempo infecções fúngicas em pacientes da Covid, desde o ano passado. Por aqui, temos visto mais casos de outro fungo, o aspergilose, enquanto que na Índia ocorre o surto de mucormicose. Mas essas infecções em UTI Covid não são de agora", relata Otsuka.

A aspergilose causa feridas no corpo e no esôfago, que levam dificuldade na deglutição de alimentos.

4. Quem é mais vulnerável a mucormicose?

Otsuka explica que pessoas com o sistema imunológico debilitado, chamados de imunossuprimidos, diabéticos e pacientes internados em UTI são mais vulneráveis à mucormicose.

"É por isso, por exemplo, que costumamos ver casos de mucormicose em pacientes oncológicos que passam por quimioterapia, principalmente os de câncer dermatológico, assim como em pessoas que utilizam medicamentos que deprimem o organismo, como os corticoides", exemplifica Otsuka.

Telles acrescenta que pacientes com neoplasias hematológicas (leucemia, por exemplo) e transplantados de medula óssea e de órgãos sólidos também estão mais vulneráveis à doença fúngica.

5. Por que a mucormicose causa mutilações no rosto?

O fungo da mucormicose atinge, principalmente, os vasos sanguíneos da via área e dos seios da face, comprometendo a circulação do sangue até necrosar os tecidos nestes locais.

"A mucormicose é uma doença muito grave porque o fungo causador cresce no interior de vasos sanguíneos, causando áreas de necrose (ângio invasiva)", explica Telles.

Quando a infecção já está no estágio de necrose, as áreas afetadas precisam ser removidas com cirurgia, mutilando os seios da face.

6. Por que é popularmente chamado de "fungo preto"?

O nome popular de "fungo preto" tem duas explicações. Uma delas diz respeito ao aspecto escurecido da pele necrosada nos pacientes da mucormicose. A outra se refere ao fungo agente da infecção.

"O termo fungo preto ou negro refere-se à coloração da cultura de fungos, cinza escura, com aspecto de teia de aranha, mas este nome para a mucormicose é incorreto", aponta Telles.

7. Como é o tratamento?

Além da remoção cirúrgica dos tecidos necróticos descrita acima, a doença também é tratada com medicamentos controlados.

"Utilizamos drogas antifúngicas, como formulações lipídicas de Anfotericina B e/ou Isavuconazol. Todos medicamentos de uso intra-hospitalar", explica Telles.

Otsuka ressalta que além de um tratamento complexo e caro - cada frasco desses remédios custa cerca de R$ 2 mil -, o diagnóstico da mucormicose é difícil.

"Fungos crescem de maneia silenciosa no organismo. É semelhante ao que ocorre em um pão: quando vemos o bolor na casca, não adianta raspar a parte afetada, provavelmente o pão inteiro já está embolorado por dentro", diz Otsuka.

Cada dia de atraso no diagnóstico e início do tratamento da mucormicose aumenta de 10% a 20% o risco de morte, alerta o infectologista da SBI.

8. Qual a relação entre mucormicose Covid-19

 
Fungo perigoso ameaça pacientes com Covid-19 na Índia

Os infectologistas acreditam que não seja a Covid nem o coronavírus os causadores do surto de mucormicose na Índia, mas o próprio estado debilitado dos pacientes hospitalizados e o tratamento da Covid-19 grave. 

"A relação entre essas duas infecções ainda não é clara. Muito provavelmente, infecção pelo fungo é secundária ao uso de corticosteroides pela doença pulmonar", explica Weissmann.

Além disso, a mucormicose tem predileção pelas vias aéreas e pelos pulmões, regiões que já estão comprometidas no paciente de coronavírus. "Isso piora se o paciente estiver com ventilação mecânica, que retira da pessoas todos os reflexos dos pulmões de se autolimparem, como tossir", afirma Otsuka.

"Os casos graves da Covid causam uma inflamação muito intensa, deixando o organismo muito deprimido. Além disso, o único tratamento científico para a Covid é com grandes quantidades de corticoide, que leva a queda da imunidade, favorecendo a infeção pelos fungos", diz Otsuka.

9. Por que a Índia passa por um surto de mucormicose?

Telles afirma que o surto de mucormicose em pacientes com Covid na Índia deve-se à elevada incidência de diabetes na população indiana, além do recrudescimento da pandemia no país desde o começo do ano.

"O número crescente de pacientes internados em UTIs (por causa da piora da pandemia de coronavírus), que estão usando altas doses de corticoide para controlar a inflamação da Covid, e a elevada incidência de diabetes favorecem o surto de mucormicose neste momento na Índia", explica Telles.

As condições de higiene e do ar nos hospitais e UTIs da Índia neste momento também ajudam a explicar os casos do fungo entre os pacientes graves da Covid, segundo Ostuka.

G1



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