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Comportamento
02/06/2021 02:00:00

Como combater os efeitos do racismo na saúde de crianças negras?

Projeto busca melhorias e apoio a serviços comunitários e profissionais de saúde, começando em comunidades quilombolas no Vale do Ribeira, em São Paulo


Como combater os efeitos do racismo na saúde de crianças negras?

“O racismo determina desigualdades ao nascer, viver e morrer para quase metade da população brasileira. O racismo desumaniza e desqualifica o trabalho em saúde e tem como resultado uma expectativa de vida menor para a população negra: as taxas de morte materna e infantil são maiores; a violência produz mais mortes e mortes mais precoces neste grupo.”

A fala do professor Marcos Kisil, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, é baseada em dados de órgãos como o Unicef, OMS, IBGE, além de seu trabalho como pesquisador em gestão de saúde e sua experiência de mais de 30 anos atuando como empreendedor social no Brasil, América Latina e Caribe.

E para levar o conhecimento produzido na Universidade e pela ciência, Kisil foi convidado pela Fundação José Luiz Egydio Setubal (FJLES), instituição filantrópica e sem fins lucrativos, para ajudar na formulação e implantação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento à Saúde da Criança e do Adolescente Negro. 

Para entender o propósito do projeto, primeiro é preciso falar de ciência, mais especificamente, da relação entre a primeira infância e o estresse tóxico. A neurociência tem trazido evidências de que as experiências passadas pela criança na primeira infância, 0 a 6 anos, vão moldar os circuitos cerebrais, que são a base do desenvolvimento humano. “Todos nascemos com potencial, a questão é saber se vamos contribuir para o desenvolvimento ou teremos ações humanas para impedi-lo”, explica o professor da FSP.

 

Na primeira infância, a capacidade do nosso cérebro em criar sinapses é de 700 novas conexões neurais por segundo. “A neurociência nos mostra que, se não estimulamos o cérebro naquele momento, ele não avança. É a janela de oportunidades para nos desenvolvermos”, destaca Kisil.

E o que provoca esses estímulos é o ambiente em que a criança está: casa, escola, amigos e, principalmente, na relação com seus cuidadores. Viver na pobreza extrema, abuso físico e emocional recorrentes, negligência crônica, depressão materna grave, violência familiar, entre outras situações, geram o chamado estresse tóxico.

De acordo com Kisil, o estresse tóxico rompe a arquitetura cerebral, afeta órgãos de outros sistemas e leva a níveis mais baixos de responsividade dos sistemas de controle do estresse, além de elevar o risco de doenças relacionadas ao estresse, com impacto negativo no aprendizado mesmo quando adulto.

“O estresse tóxico não é intrínseco da criança, são situações contextuais, uma causa externa ao indivíduo. Tirar o estresse tóxico da criança pode alterar as condições de vida futura.”

Como médico e gestor de saúde, o professor começou a delinear um projeto a partir do ponto de vista da promoção e prevenção à saúde.

https://jornal.usp.br/ 



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