Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 4,3 milhões de estudantes brasileiros entraram na pandemia sem acesso à internet – 4 milhões integravam a rede pública. Quando se lembra que a educação no País inteiro teve de ser adaptada para o Ensino a Distância (EAD), dados como esse passam a representar enorme desigualdade educacional no Brasil.
“O que mais preocupa é que nós ingressamos em 2021 com a mesma situação de 2020, quando na prática nós poderíamos ter feito um plano nacional de conectividade digital para que essas crianças e jovens de baixa renda pudessem ter atividades remotas em 2021”, afirma o professor Mozart Neves Ramos, do Instituto de Estudos Avançados da USP, Polo Ribeirão Preto, em entrevista ao programa Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Ele também aponta que a falta de recursos, um dos motivos indicados pelo governo federal para não ter tomado medidas mais efetivas a esse respeito, não convence: “Dizer que não há recursos é esquecer que existe o Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações, do qual uma das finalidades é justamente a democratização do acesso a essas atividades digitais usando internet e tem, em caixa hoje, segundo a Agência Nacional de Comunicação, algo em torno de R$ 23 bilhões”.
Como resultado, as desigualdades de oportunidades e acessos foram escancaradas ainda mais nos últimos meses. Para além das divergências entre o ensino público e privado, há também o fator das regiões distintas de um país continental como é o Brasil. “Aqui o seu futuro depende de onde você eventualmente vai nascer. Se você nascer nos grotões aqui do Nordeste brasileiro, sem acesso a atividades digitais em pleno século 21, certamente você vai estar alijado desse futuro”, aponta o professor Ramos.
Assim, considerando que o EAD deve permanecer para boa parte dos estudantes durante mais um tempo, o caminho agora deveria ser baseado em um tripé de planejamento, foco e colaboração. “Vamos ter que levar em conta também 2022 e pensar um continuum curricular, vendo quais são aquelas aprendizagens essenciais, todas aquelas que nós costumeiramente gostaríamos que todos os alunos aprendessem, fazer um trabalho de preparação dos professores e uma avaliação diagnóstica mais regular, mais frequente, para saber se de fato os alunos estão aprendendo.”
Jornal da USP