Em um ano de pandemia, o coronavírus infectou mais de 10 milhões de pessoas e matou mais de 250 mil no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Somente na Bahia foram 710.900 pessoas atingidas pela doença, em um ano do primeiro caso confirmado de Covid-19 no estado, segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica em Saúde da Bahia (Divep-BA). Pacientes com quadros mais graves de Covid-19 apresentam como principal sintoma a falta de ar, podendo evoluir para insuficiência respiratória. Dos pacientes infectados, uma fração de 9.8 a 15.2% vai necessitar de ventilação mecânica invasiva ou, em menor proporção, membrana de oxigenação extracorpórea (ECMO).
A infectividade do SARS-CoV-2 é elevada, superando inclusive o H1N1 e SARS, ocorrendo sua transmissão por contato, gotículas e aerossóis. Por isso, há uma grande preocupação relacionada a qualquer procedimento capaz de gerar aerossóis, os quais normalmente se relacionam à manipulação das vias aéreas dos pacientes, como a intubação orotraqueal, traqueostomia, broncoscopia, ventilação com pressão positiva não invasiva e ventilação com máscara. A necessidade de suporte ventilatório costuma ser prolongada, em média 21 dias, portanto, muitos serão candidatos à traqueostomia, procedimento cirúrgico que consiste em promover a comunicação entre a traqueia e o meio externo.
O Especialista em Cirurgia Torácica Oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), Pedro Leite, explica que a traqueostomia é realizada através de uma incisão no pescoço, em que após a abertura da traqueia é inserida uma cânula que permitirá a passagem do ar até os pulmões. O procedimento tem sido indicado em casos mais graves da infecção da Covid-19 associados a longos períodos de internação em UTI e ventilação mecânica prolongada. “Entre os benefícios da traqueostomia estão o auxílio no desmame da ventilação mecânica, diminuindo o risco de pneumonia bacteriana, prevenção de complicações, associadas à intubação prolongada como estenose de traqueia, menor necessidade de sedação, maior conforto ao paciente e facilidade na manipulação e limpeza das vias aéreas”, informa.
De acordo com o especialista, a traqueostomia, de modo geral, é temporária, podendo ser utilizada por um período indefinido, sendo sua retirada dependente principalmente da resolução da causa de base. “Após a recuperação da função respiratória do paciente são realizados alguns testes clínicos para avaliar a possibilidade da retirada da cânula de traqueostomia. É muito importante que o paciente tenha um acompanhamento médico especializado regular tanto para seguimento e orientações dos cuidados básicos, como para o planejamento da retirada da traqueostomia”, esclarece Pedro Leite.
Riscos
Mesmo sendo um método seguro e de baixo risco, Dr. Pedro aponta os efeitos adversos da cirurgia. “Apesar de ser incomum, ela não está isenta de complicações como sangramentos e infecção local ou até mesmo problemas graves como lesão da traqueia e esôfago”, conta.
A estenose de traqueia aparece como mais um risco, quando os pacientes ficam internados com intubação orotraqueal por muito tempo. Mesmo aqueles submetidos à traqueostomia também não estão livres dessa possível complicação. Após receberem alta, os traqueostomizados devem manter os cuidados locais com a cânula. “É necessário realizar aspirações para a remoção de secreção, substituições de cânula periodicamente e inalação para ajudar a expectoração”, orienta o cirurgião torácico.
A traqueostomia também é uma das técnicas com mais risco de contaminação da Covid à equipe médica, por estar manipulando diretamente a via aérea do paciente. “Para aumentar a segurança, utilizamos os equipamentos de proteção individual como gorro, máscara, avental descartável, luvas, óculos, faceshield, bota e elmo, além de evitar o uso de bisturi elétrico, associado a maior dispersão de aerossóis, e uso de sedação e bloqueador neuromuscular, uma medicação venosa que evita a tosse do paciente durante o procedimento”, relata o cirurgião torácico.