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Saúde
12/04/2021 22:00:00

Doenças bucais também são fator de risco para covid-19

Assim como a obesidade e o diabetes, a periodontite e outras complicações na cavidade oral aumentam a probabilidade de um infectado pelo Sars-CoV-2 ser acometido


Doenças bucais também são fator de risco para covid-19

Desde os primeiros casos de covid-19, em dezembro de 2019, foram estabelecidos alguns fatores de risco para a forma grave da doença. Idade avançada e comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, mostram-se fortes preditores de um prognóstico menos favorável. Recentemente, estudos começaram a sugerir que há outro elemento associado à probabilidade de infecção e à gravidade dos sintomas: a saúde bucal.

Estudos de caso e pesquisas epidemiológicas realizadas com pacientes de covid-19 estão evidenciando o que já se sabia sobre outros micro-organismos patógenos: os males que eles causam não se restringem à boca. Bactérias na cavidade oral podem, por exemplo, cair na corrente sanguínea e chegar ao coração, causando a endocardite bacteriana. Da mesma forma, estudos genéticos encontraram RNA de diversos tipos de vírus alojados nas bolsas periodontais, os espaços entre a gengiva e os dentes formados por placas bacterianas.

Com base nesse conhecimento, cientistas começaram a publicar, no ano passado, artigos que sugerem a associação da doença periodontal com o Sars-CoV-2. Mais recentemente, estudos em laboratório confirmaram que o coronavírus se aloja em vários pontos da boca, se mantendo ativo e potencialmente infeccioso. Outras pesquisas observacionais — que não investigam a relação de causa e efeito — com pacientes de covid demonstraram, estatisticamente, que infecções e inflamações na boca podem levar à forma grave da doença.

“Os tecidos que revestem a cavidade bucal são prováveis portas para infecção, replicação e transmissão do Sars-CoV-2, pois apresentam células capazes de expressar a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) e a serina protease transmembranar 2 (TMPRSS2), fatores que permitem a entrada do coronavírus no hospedeiro”, explica a odontóloga Elisa Grillo, mestranda da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora voluntária do Hospital Universitário da UnB (HUB). “A compreensão dos tipos de células que expressam esses fatores de entrada é importante para determinar por quais regiões do corpo o vírus pode ter acesso ao organismo. O mapeamento de células que compõe os diferentes tipos de tecidos de revestimento da mucosa oral é fundamental para a avaliação do risco de infecção pela boca”, diz a cirurgiã-dentista da clínica PerioLife. Ela ressalta que a conexão entre cavidade oral e covid, porém, ainda não está bem elucidada.

O maior estudo realizado, até agora, associando o risco de covid grave e periodontite foi publicado, em março, no Journal of Clinical Periodontology, a revista da Federação Europeia de Periodontologia (FEP). A pesquisa, com mais de 500 pacientes infectados pelo Sars-CoV-2, descobriu que aqueles com a doença gengival tinham 3,5 vezes mais probabilidade de serem internados nas unidades de terapia intensiva (UTIs), e um risco 4,5 vezes maior de necessitar de um ventilador. O mais grave: o risco de morrer da doença foi nove vezes mais elevado, em comparação com os pacientes de covid sem gengivite.

Os marcadores sanguíneos que indicam inflamação no corpo foram significativamente maiores em pacientes de covid-19 com doença gengival, em comparação aos que não tinham, sugerindo que a inflamação pode explicar as taxas elevadas de complicações.

Segundo Lior Shapira, presidente eleito da FEP, a associação entre periodontite e doenças pulmonares, como asma, pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), já está bem estabelecida. “Esse estudo adiciona mais evidências às ligações entre saúde bucal e problemas respiratórios. A periodontite é uma doença comum, mas pode ser prevenida e tratada. Os resultados sugerem que a inflamação na cavidade oral pode abrir a porta para o coronavírus se tornar mais violento. A higiene bucal deve fazer parte das recomendações de saúde para reduzir o risco de resultados graves de covid-19”, alega.

“A inflamação na cavidade oral pode abrir a porta para o coronavírus se tornar mais violento.
A higiene bucal deve fazer parte das recomendações de saúde para reduzir o risco de resultados graves de covid-19”

Correio Braziliense



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