No último ano, o acesso a plataformas de conteúdos exclusivos deu um salto por conta da pandemia. O maior exemplo é o britânico OnlyFans, que foi criado em 2016 e, apenas em 2020, saltou de menos de 100 mil criadores de conteúdos para 1 milhão.
O atrativo maior desse tipo de site é poder monetizar com conteúdos sem censura. Ou seja, ainda que haja todo tipo de material disponível, um dos mais procurados e que faz mais sucesso é o com tema erótico. Diversas pessoas – entre anônimos, influencers e famosos, como Bella Thorne, Tyga e Anitta – utilizam a plataforma para compartilhar fotos e vídeos mais íntimos e sensuais com os assinantes.
Aqui pelo Brasil, já surgem marcas com a mesma proposta. A Privacy, lançada em setembro de 2020, veio para dar mais opções aos criadores de conteúdo e aproveitar a nova tendência de mercado. Atualmente, conta com 125 mil membros cadastrados e 17 mil criadores de conteúdo.
“O segmento cresceu tanto que até mesmo as grandes plataformas comerciais se viram obrigadas a se adaptarem. O próprio Twitter tem planos de implementar algo nesse sentido para não perder essa corrida. Não é só uma tendência, é uma realidade”, afirma Fábio Monteiro, um dos sócios da Privacy.
O empresário, que comanda a marca junto com Victor Albuquerque e Vanderson Tibau, afirma que o momento presente vai na contramão da abundância de conteúdos disponíveis. “As pessoas estão gostando de investir para terem acesso a coisas exclusivas”, diz.
Um dos motivos para isso é que o método de assinatura mensal, além de proporcionar preços mais acessíveis, faz com o criador precise se esforçar para manter seu conteúdo atualizado e interessante. O consumidor também tem a opção de sair se não gostar ou desistir por qualquer outro motivo.
“Com isso, fica ali quem realmente se interessa pelo conteúdo, então você cria uma rede de pessoas muito mais engajadas. Poder ser um número menor, mas muito mais relevante. É melhor para todo mundo”, aponta Fábio.
Mas fica o questionamento: no segmento sensual, por que as pessoas estão preferindo pagar por conteúdos em vez de continuar tendo acesso à grande quantidade de pornografia disponível gratuitamente? Para Andreia Fiamoncini, terapeuta sexual do Sexo Sem Dúvida, variedade e qualidade pesam na hora de decidir.
“Conteúdos gratuitos têm um padrão similar, o que pode perder a graça com o tempo. Já os pagos geralmente são mais ricos em detalhes, abarcam contextos distintos e parecem mais reais e pessoais. Isso acaba sendo mais atrativo e gerando novas sensações e excitações. Com maior estímulo da fantasia, o prazer é maior e melhor”, explica.
Sobre ser mais pessoal, Fábio reforça que existe diferença entre consumir um pornô com atrizes, ou mesmo um amador em que não se conhece ninguém, e ter acesso à intimidade de pessoas que se segue.
“Nas redes sociais, quando seguimos e acompanhamos uma pessoa por um tempo, a sensação que temos é de proximidade, de que a conhecemos. Então se por um valor é possível matar a curiosidade de ver aquela pessoa em um momento mais íntimo e sensual, muita gente vai estar disposta a pagar”, diz.
Na perspectiva dos criadores de conteúdos, além da monetização, plataformas nesse formato são uma área fértil para fetichistas – tanto os que têm tesão por exibicionismo quanto para os que querem dividir outros tipos de fetiches. “Sempre há público”, afirma Andreia.
Contudo, a psicóloga alerta que, apesar de ser uma forma válida de estímulo para excitação e variação de repertório erótico, é importante ficar atento para o tempo investido nisso e a quantidade que se consome. “Não é interessante que se torne um fator contribuinte para o desenvolvimento de vícios e compulsões sexuais”, pontua.
Não é à toa que o número de usuários nesse tipo de plataforma cresceu tanto em 2020 e transformou o segmento em tendência de mercado. A pandemia colaborou para a explosão, e um dos motivos é a renda extra que este trabalho pode trazer.
“Com a crise econômica, as pessoas precisaram se reinventar e, ao mesmo tempo, se digitalizar. Tanto que não só esse, mas outros métodos de ganhar dinheiro na internet cresceram muito. Na Privacy, um criador comum consegue faturar, em média, R$ 258 por semana.”, conta Fábio.
Além disso, a privação de interação humana e contatos sociais fez com que as pessoas procurassem novos estímulos e formas de se comunicar. “Para os geradores de conteúdo, possibilita a exploração de novos caminhos para colocar em prática suas ideias e desejos. Para os consumidores, oferece mais possibilidades de estimular a fantasia e a excitação por valores acessíveis”, finaliza.