O outro lado da moeda não é mais animador. Mesmo aqueles que são contra a reabertura das escolas nesse momento reconhecem que o custo de mantê-las fechadas também é alto, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo.
“O prejuízo causado pelo fechamento das escolas para as crianças é inequívoco, especialmente quando se prolonga por muito tempo, como atualmente ocorre na maior parte do Brasil. Evasão escolar, impactos cognitivos e pedagógicos, risco de violência, depressão e outros distúrbios da saúde mental, agravos nutricionais, necessidade de abandono do emprego pelos pais para cuidar das crianças, entre outros, se relacionam às graves consequências associadas ao fechamento dos estabelecimentos de ensino”, já dizia a SBP, em setembro do ano passado, quando o fechamento das escolas tinha “apenas” sete meses. “Saliente-se que o retorno às aulas presenciais em um ambiente seguro é de extrema importância para a saúde de crianças e adolescentes.”
O impacto mais óbvio é o do atraso de aprendizado, pelas aulas perdidas, que pode se transformar num prejuízo de longo prazo, ou até mesmo permanente, se o aluno abandonar a escola ou não tiver condições de completar os estudos na idade adequada. Simulações feitas pelo Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (Clear), vinculado à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), sugerem que o retrocesso na educação brasileira em função da pandemia pode chegar a quatro anos, principalmente em matemática e língua portuguesa.
O modelo de ensino remoto ajudou a reduzir os prejuízos, mas passou longe de substituir por completo o ensino presencial, em termos de eficiência pedagógica. Um levantamento feito por pesquisadores do Clear e da Rede de Pesquisa Solidária revela que os planos de ensino a distância, em geral, foram “mal desenhados” e tenderam a exacerbar desigualdades sociais preexistentes, em função da dificuldade de acesso das populações mais vulneráveis às tecnologias digitais necessárias. “A maioria dos programas foi introduzida com pouca ou nenhuma preocupação com o acesso às aulas e com a supervisão dos alunos. Por exemplo, a maioria dos planos falhou em oferecer estratégias de interação com professores, supervisão e estímulo à presença”, diz a pesquisa.
Daniel Cara, da USP, acredita que esse prejuízo pedagógico seja recuperável. “Não existe prejuízo irrecuperável na educação”, diz. O prejuízo que mais o preocupa nesse momento, segundo ele, é o “emocional”.
Vários estudos apontam para um aumento nas taxas de depressão entre crianças e adolescentes durante a pandemia, além de outros distúrbios de saúde mental e emocional. “Um dos fatores de risco mais importantes para a depressão é o sentimento de isolamento, de solidão”, diz o médico psiquiatra Guilherme Polanczyk, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental da USP, e chefe da Unidade de Internação do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria, da Faculdade de Medicina da USP.