Desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, a Covaxin é representada no Brasil pela Precisa Medicamentos, importadora e distribuidora de medicamentos, localizada em São Paulo. Trata-se de uma vacina administrada em duas doses, com um intervalo de quatro semanas entre elas, para prevenir a covid-19.
O Ministério da Saúde negocia a aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin. Antes de o governo federal manifestar interesse pelo imunizante, a rede privada já havia anunciado a intenção de compra de 5 milhões de doses, segundo a ABCVAC (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas).
Em nota, a Precisa Medicamentos informou que o preço do imunizante para a rede privada ainda não foi definido e que as “tratativas só serão concluídas se e quando a Anvisa e as demais autoridades brasileiras assim permitirem”. Além disso, a distribuidora também afirmou que não interfere no preço final da vacina repassada pelas clínicas particulares ao consumidor.
Para chegar à rede privada, o imunizante precisa receber o registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não apenas a liberação de uso emergencial. A vacina ainda não tem registro nem autorização para uso emergencial, nem apresentou ainda essas solicitações.
No último dia 13, a Anvisa anunciou que vai realizar uma inspeção na instalação da Precisa entre os dias 1º e 5 de março. A verificação é necessária para que a representante da Bharat no Brasil possa receber o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF).
A Precisa Medicamentos chegou a solicitar a realização da fase 3 de testes do estudo clínico da vacina no país, então um critério para solicitação de uso emergencial, no mesmo dia em que a Anvisa dispensou essa exigência. No dia 9 de fevereiro, a agência cobrou a entrega de novos dados pela Bharat Biotech e Precisa Medicamentos e, com isso, o pedido do estudo foi adiado, ainda sem data definida.
O infectologista Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, explica que a vacina Covaxin é semelhante à CoronaVac, imunizante produzido pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. “O vírus é cultivado em células Vero [linhagem de células utilizadas em culturas microbiológicas], para se multiplicar e crescer, e depois é desativado para inativar sua capacidade de infecção”, explica.
Apesar de já ter sido liberada para o uso emergencial na Índia, a Covaxin não teve sua eficácia divulgada. Os estudos da fase 3 começaram em novembro do ano passado no país e a segunda dose já foi aplicada em 77% dos 25.800 voluntários.
O estudo da fase 1 publicado na Lancet mostrou que a vacina é segura e induziu resposta imunológica. “Há apenas dados de segurança e põe-se que tem uma eficácia semelhante às outras vacinas da mesma natureza”, explica Kfouri.
Um estudo feito pela Bharat Biotech a partir de soros coletados de 26 pessoas infectadas mostrou que o imunizante é eficaz contra a variante britânica do novo coronavírus. Mas, de acordo com Kfouri, o resultado não é suficiente. “Isso não se traduz na prática, é um número muito pequeno, não é suficiente para atestar essa eficácia”, afirma.