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Geral
06/12/2020 12:00:00

MST denuncia paralisação da reforma agrária na OEA

Audiência com órgão ocorrerá na próxima quarta-feira (9); despejo do Acampamento Quilombo Campo Grande será citado


MST denuncia paralisação da reforma agrária na OEA

Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) realizará uma audiência com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na próxima quarta (9) para discutir a paralisação da reforma agrária no Brasil.

A escalada das violações de direitos humanos contra os sem-terra sob o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) estará no centro da pauta. O movimento citará o despejo truculento do Acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais, ocorrido em meio à pandemia. As famílias são produtoras do Café Guaií e são referência de produção agroecológica na região.

No último dia 30 de novembro, a comissão interamericana notificou o Estado brasileiro para que sejam apresentadas explicações sobre a reintegração. 

Segundo Ayala Ferreira, da coordenação nacional do Setor dos Direitos Humanos do MST, a reunião é fruto de um esforço coletivo e será um espaço em que o movimento demandará uma medida cautelar de proteção aos direitos das famílias que permaneceram mais de 50 horas resistindo à ação da polícia militar em Campo do Meio.

Ela ressalta a paralisação da desapropriação de novos territórios e criação de assentamentos em nível nacional desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto. 

"Muitas dessas medidas de bloqueio da reforma agrária ferem profundamente a Constituição Federal de 1988 e tratados internacionais dos quais o Estado brasileiro é signatário. Nós aproveitamos a ocasião para dizer que ademais do bloqueio da reforma agrária pela não efetivação de políticas públicas, o governo tem assumido uma postura autoritária, de não diálogo, contra famílias de trabalhadores rurais e organizações que representam essas famílias, no caso o MST", afirma Ayala.

O audiência presidida pelo juiz Joel Hernandez, do México, será transmitida ao vivo nas redes da OEA a partir das 11h do horário de Brasília.

"O Estado brasileiro vai ter que se explicar. E é nossa oportunidade, a partir dos sujeitos dos campos, das organizações populares, de denunciar tudo isso que temos enfrentado ao longo do mandato de Jair Bolsonaro", complementa a dirigente.

Grilagem legalizada

Por meio de uma portaria publicada nessa quinta-feira (3) no Diário Oficial da União, o governo instituiu o programa Títula Brasil, que cria novos entraves para a democratização do acesso à terra. 

A portaria assinada pelo secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, o ruralista Luiz Nabhan Garcia, e o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Geraldo Melo Filho, terceiriza o trabalho de vistoria local e de checagem de dados do processo de regularização de terras.

A partir de agora, os municípios ficarão responsáveis por indicar técnicos que poderão executar o trabalho e decidir se as terras em condição regular ou não para a entrega da documentação do imóvel.

A flexibilização e descentralização do processo, que será fiscalizado pela secretaria de Nabhan, pode favorecer ainda mais a concentração fundiária devido à pressão dos latifundiários em suas regiões e resultar na legalização da apropriação irregular de terras devolutas.

Os funcionários passaram por um treinamento on-line dado pelo Incra e serão credenciados como representantes do órgão vinculado ao Ministério da Agricultura (Mapa). 

A aceleração da regularização fundiária, nesse contexto, acentua o impedimento de novos assentamentos da reforma agrária, a demarcação de territórios quilombolas e indígenas, assim como a delimitação de novas áreas de preservação ambiental.

Alinhado com a bancada ruralista, Jair Bolsonaro tem a regularização fundiária como uma de suas principais bandeiras. Ainda que a Medida Provisória 910, que regularizava a grilagem no país, tenha caducado, o plano de beneficiar proprietários ilegais de terras públicas ainda está nos planos do presidente.

Em novembro, de acordo com reportagem do O Estado de S. Paulo, o político disse que enviará uma nova MP sobre o tema ao Congresso em 2021. 

Brasil de Fato



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