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Comportamento
18/11/2020 22:00:00

12 pessoas refletem sobre como sua ansiedade mudou em 2020

Pessoas com ansiedade compartilham como sua saúde mental foi afetada por este ano infernal, que inclui desde pandemia até injustiça racial.


12 pessoas refletem sobre como sua ansiedade mudou em 2020

Este ano pôs nossa saúde mental coletiva à prova inúmeras vezes. Foram coisas que abrangem desde o medo do coronavírus até os efeitos isoladores do distanciamento social, os protestos contra a injustiça racial, dificuldades financeiras, desastres naturais, as eleições e diversas turbulências políticas.

Com tudo que vem acontecendo, mesmo pessoas que talvez nunca antes tenham tido problemas como ansiedade agora enfrentam questões de saúde mental como essas. Mas o que dizer das pessoas que já conviviam com um transtorno de ansiedade havia anos, muito antes de 2020 e suas agruras?

Muitas pessoas com ansiedade preexistente informam que seus sintomas se agravaram em 2020, mas há um subconjunto delas que contam ter estado menos ansiosas. Para algumas, é porque elas se sentem equipadas para lidar com o momento presente, graças a todo o tempo e o esforço que investiram em trabalhar sua saúde mental. Outras relatam que é porque se sentem menos sozinhas por saber que agora há tantas outras pessoas que se identificam com o que elas sentem.

“Quando a covid chegou, parece que finalmente o mundo externo correspondeu ao que eu vinha sentindo no meu interior. Não sei bem por quê, isso acalmou minha mente.”

- KAYDEN HINES

“Minha ansiedade melhorou durante a covid, porque todo o mundo estava ansioso”, disse ao HuffPost a ilustradora Kayden Hines. “Então finalmente em me senti em sintonia com as outras pessoas.”

Pedimos a algumas pessoas com ansiedade para compartilhar como sua saúde mental mudou ao longo deste ano turbulento. Veja o que elas disseram.

1. Antigamente, ficar em casa aliviava minha ansiedade. Durante a pandemia, ficar em casa tem me deixado mais ansiosa.

“O autoisolamento foi mais difícil para mim do que as pessoas poderiam pensar. É fácil imaginar que uma pessoa que sofre de ansiedade se daria bem quando fosse obrigada a evitar situações estressantes e pudesse ficar à vontade em sua casa. Isso era verdade, até certo ponto, antes da pandemia. Mas quando o isolamento não é por sua própria escolha, e sim para evitar uma doença mortal, pode dar lugar a pensamentos que induzem o pânico e dos quais você não consegue fugir.” – Shelby Goodrich Eckard

2. No começo da pandemia minha ansiedade melhorou, porque a coisa ruim que eu sempre temia que acontecesse aconteceu de fato.

“Não que eu tivesse previsto uma pandemia, mas a ansiedade sempre me dava uma impressão de que algo ruim estava por acontecer. Quando a covid chegou, parece que finalmente o mundo externo correspondeu ao que eu vinha sentindo no meu interior. Não sei bem por quê, isso acalmou minha mente e meu deu um senso de clareza.” ? Kayden Hines

3. Os mecanismos que sempre usei para lidar com a ansiedade deixaram de funcionar

“Antes da pandemia eu utilizava vários métodos para superar ataques de pânico. Muitas vezes eu recorria à técnica de ‘luz no final do túnel’. Eu me concentrava em alguma coisa positiva que ia acontecer no futuro próximo e dizia a mim mesma: ‘Se você conseguir passar por este momento difícil, haverá uma viagem com suas irmãs!’. Ou ‘vai ficar tudo bem. Sua filha vai começar na escola semana que vem.’ Mas a covid enfraqueceu a luz de muitas coisas pelas quais muitos de nós esperávamos com alegria. É difícil libertar-se dos pensamentos ansiosos quando você não consegue pensar no mundo que está desabando e você não sabe quando isso vai parar.” —Shelby Goodrich Eckard

4. Minha ansiedade se intensificou. Fica especialmente forte quando acordo pela manhã.

“Acordo ansiosa quase todo dia. Parece que a preocupação e a ansiedade estão sempre ali no segundo plano de minha cabeça, mesmo quando estou dormindo, e tomam conta de mim completamente assim que acordo. Procuro limitar a leitura de jornais ou os jornais na TV ao longo do dia. Sei que o simples fato de eu ter essa opção é um privilégio, em vista de tudo o que vem acontecendo no mundo.”? Debbie Tung

5. Com os noticiários mostrando tanta violência policial contra pessoas negras, tenho tido que ficar fora do ar pelo bem de minha saúde mental.

“Injustiça racial somada a trauma dá um resultado negativo. Por isso, tenho sido obrigado a fazer um favor à minha doença mental e me afastar das redes sociais. É difícil, porque sei que tenho voz e exerço influência, mas é absolutamente esgotante e angustiante ficar vendo pessoas que se parecem comigo sendo mortas nas ruas. O assassinato de Daniel Prude foi mais um caso a nos lembrar que é perigoso ser negro e ter uma doença mental.”—Sinclair Caesar III

 
Pessoas que já viviam com ansiedade antes da pandemia explicam como o ano de 2020 afetou sua condição.
 
Pessoas que já viviam com ansiedade antes da pandemia explicam como o ano de 2020 afetou sua condição.

6. O peso de minhas responsabilidades, como pessoa e como membro de minha comunidade, parece especialmente esmagador neste momento.

“Como uma pessoa que sofre de ansiedade, já sinto uma responsabilidade pesada e pouco realista em relação a como meus atos e minhas palavras afetam os outros. Passo muito tempo revendo o que eu disse, o que falei, como reagi. Esses pensamentos me levam a fazer uma autocrítica constante. E isso era antes da pandemia. Agora o peso de minhas escolhas parece astronômico. Dá a impressão de ser uma questão de vida ou morte, e isso porque é, de fato, uma questão de vida ou morte, de muitas maneiras.” ? Shelby Goodrich Eckard

7. Num primeiro momento senti muito pânico, mas agora já me adaptei a esta nova normalidade.

“As mortes em todo o mundo foram devastadoras. Parecia que não havia nada a fazer a não ser ficar parada, esperando o tsunami de doença chegar aqui também. Sair de casa para fazer as coisas mais essenciais era psicologicamente exaustivo. As prateleiras vazias dos supermercados eram alarmantes, e estar no mesmo espaço que outras pessoas me dava taquicardia. Comecei a ter ataques de pânico sempre que eu passava mais que alguns minutos num supermercado.

“Mas com o passar do tempo, o isolamento passou a ser a nova realidade, e eu ando tendo menos dias com alto nível de ansiedade. O estresse diminuiu, na medida em que tenho menos compromissos e obrigações. As situações que antes exacerbavam minha ansiedade social hoje estão praticamente existentes. Apesar da sensação de que o perigo está à minha espreita do lado de fora da porta de casa, minha casa é como um refúgio seguro. Mas me preocupo com a ideia de que terei dificuldade em me readaptar e voltar a fazer parte do mundo, depois que houver uma vacina.”— Marzi Wilson

8. Tem sido difícil lidar com a incerteza constante, mas encontrei novas válvulas de escape para acalmar minha ansiedade.

“A pandemia tem sido ao mesmo tempo uma maldição e uma bênção para minha ansiedade. Num primeiro momento, não foi difícil me imaginar vivendo uma vida de isolamento e ficando em casa, que é onde me sinto mais à vontade. Mas com o passar dos meses, e a pandemia adquirindo contornos de um pesadelo que não acaba nunca, minha ansiedade passou a se dever ao fato de eu não saber quando isto vai acabar ou quando as coisas vão poder voltar ao normal.

O lado positivo disso foi que abri um canal no YouTube onde comecei a fazer contatos, a ter interações significativas e até a fazer novos amigos online, tudo graças a essa comunidade que eu não teria encontrado se não fosse pela pandemia. 2020 aliviou minha ansiedade, sob muitos aspectos. Apesar de eu às vezes me sentir preso numa rotina, tenho que me lembrar de continuar positivo e buscar maneiras de manter minha mente ocupada e feliz.” — Javier Montalvo

9. A pandemia me fez ver quanta coisa está fora do meu controle. Isso é estranhamente tranquilizador.

“Antes da covid eu me cobrava tremendamente para ter sucesso em tudo. Atribuía meus fracassos às minhas próprias deficiências. Hoje eu percebo que o mundo é capaz de mudar em um instante e que preciso aprender a me desapegar de certas coisas. Quem sabe o que vai acontecer daqui a pouco? Compreender que o senso de controle que eu sentia ou buscava não passava de ilusão tem sido ao mesmo tempo assustador e libertador.” —Kayden Hines

10. Nos últimos meses ando pensando mais em cenários catastróficos.

“Minha cabeça vai parar diretamente no pior cenário possível, e é nesse momento que as coisas começam a sair do meu controle. Começo a me preocupar com minha família, meus pais que não vejo há algumas semanas devido às regras de lockdown locais. Fico pensando em tudo que meu filho está deixando de fazer. Tento praticar o mindfulness, me concentrar no trabalho, curtir o tempo que passo em casa com meu filho. Tento me sentir grata pelas coisas simples e maravilhosas que ainda podemos fazer diariamente.” ? Debbie Tung 

“Acordo ansiosa quase todo dia. Parece que a preocupação e a ansiedade estão sempre ali no segundo plano de minha cabeça, mesmo quando estou dormindo.”

- DEBBIE TUNG

11. Os maiores gatilhos da minha ansiedade mudaram.

“A covid ainda me assusta muito. Tenho a sorte de estar trabalhando de casa desde março. Não saio de casa para nada. Não quero voltar a trabalhar no escritório, nunca mais. Sinto que se eu contrair covid algum dia, vou morrer. Deve ser por conta da ansiedade.

E há também cada vez mais casos envolvendo desigualdade racial: os assassinatos de pessoas negras pela polícia. As mensagens que o presidente transmite a supremacistas brancos, incentivando-os a ser violentos conosco. As crianças enjauladas devido às leis de imigração atuais. Toda vez que ouço que alguma coisa foi feita ou dita sobre esse assunto, sinto ansiedade extrema e dor no peito.” — Sandra Spellman

12. A covid intensificou o ciclo constante de pensamentos ansiosos em minha cabeça. Mas a incorporação de novos hábitos saudáveis tem me ajudado.

“Devido à minha ansiedade, geralmente fico preocupado com tudo. A covid intensificou tudo isso. Será que vou perder meu emprego? Vai adiantar alguma coisa ter uma consulta com o terapeuta pelo telefone? Como devo encarar meu futuro? Como faço para dormir normalmente? Meus amigos ainda vão querer me rever depois da quarentena? Será que vou poder sair de novo?

O medo de adoecer também faz uma parte grande da ansiedade diária. Não quero que meus amigos e familiares morram. Não quero contrair o vírus e contaminar ou matá-los. Esses pensamentos vão ficando mais e mais tenebrosos, e não param nunca. Ficam tão fortes que me deixam paralisado na cama.

Por isso, tentei fazer alguma coisa de concreto e incorporar novos hábitos saudáveis à minha vida. Eu queria me ocupar e me concentrar em um dia de cada vez (já que não sabemos mais como será o amanhã) e conseguir ter algumas vitórias nos meus dias. Mesmo que fossem pequenas. Estar em casa o dia inteiro, sem poder sair, é o momento perfeito para começar. Comecei a fazer exercícios físicos em casa. Parei de checar meu telefone logo cedo pela manhã e à noite, e fiz várias outras coisas também. Em vez de ficar tanto tempo ao telefone, passei a ler ou desenhar para quadrinhos online. Hoje, passados alguns meses, a ansiedade gerada pela covid já não está tão forte quanto antes – sendo que neste momento a covid está mais forte que nunca em minha cidade na França.” ? Sow Ay

https://www.huffpostbrasil.com/ 



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