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Educação
06/07/2018 20:37:00

Conheça a creche na Holanda que só aceita matrículas de crianças estrangeiras


Conheça a creche na Holanda que só aceita matrículas de crianças estrangeiras
Ilustração

Com g1

m Haia, uma das maiores cidades da Holanda, uma creche se destaca em sua proposta de inclusão e diversidade. Chamada de Peutercollege, ela só aceita crianças estrangeiras, cujos pais não falem o idioma holandês com elas em casa. O objetivo é que os pequenos já entrem na escola, aos quatro anos, conhecendo a língua e a cultura do país.

 

"Dar à criança autoestima nesse período da vida dela é fundamental. Elas são estimuladas a fazerem perguntas, a interagirem, estimuladas a aprender por meio da brincadeira. A chance dela se desenvolver é muito maior quando ela cria vínculos com a comunidade", diz Fatma Simsek, diretora da creche.

 

Na Holanda, garantir a qualidade de educação para todas as crianças passa por adaptar escolas à diversidade. No país, em média 70% dos pedidos de refúgio são aceitos e, por isso, o desafio de matricular nas escolas as crianças vindas principalmente da Turquia, do Marrocos e do Caribe tem sido enfrentado com parcerias entre o governo e instituições filantrópicas.

Para Tessa Roseboom, especialista em desenvolvimento da primeira infância, iniciativas como essa acompanham evidências recentes de vários estudos realizados na Holanda e internacionalmente. Os pesquisadores mostraram que estímulos muito cedo durante a vida e um cuidado de qualidade para crianças pequenas são muito importantes tanto para a saúde quanto para a habilidade de aprendizado.

“Qualquer investimento em centros para crianças antes dos quatro anos é bem-vindo. Reconheço que a Holanda está numa posição cada vez mais luxuosa no contexto mundial”, comenta.

Até esta sexta-feira (6), o G1 publica uma série de nove reportagens que investigam os fatores educacionais, econômicos e sociais por trás do sucesso holandês

Especialistas em políticas públicas na Holanda vêm olhando para a Escandinávia com o objetivo de aprimorar os cuidados à chamada primeira infância no país. A fase, que vai aos zero aos seis anos, é considerada fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Como o ensino obrigatório público no país começa a partir dos quatro anos, é crescente o cuidado com crianças antes dessa faixa etária.

"Na Escandinávia, os pais podem ter até um ano de licença cada um. Além disso, as creches começam a atender crianças a partir dos dois anos. Estamos começando a flexibilizar essas políticas por aqui também", explica Leotien Peters, chefe da Fundação Bernard van Leer na Holanda, que trabalha com projetos relacionados à primeira infância em várias partes do mundo.

 
Sabah Ajal é marroquina e mãe de Ayaib, que tem dois anos e está aprendendo holandês na Peutercollege (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)Sabah Ajal é marroquina e mãe de Ayaib, que tem dois anos e está aprendendo holandês na Peutercollege (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Sabah Ajal é marroquina e mãe de Ayaib, que tem dois anos e está aprendendo holandês na Peutercollege (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Na Peutercollege, os pais pagam somente taxas de custo, e a escola ainda oferece conselheiras de família, que visita as casas das crianças se os pais pedirem ou devido a alguma dificuldade de adaptação que elas apresentem.

Parceria público-privada

 

É cada vez mais comum instituições como a Peutercollege, em Roterdã, e a Jan Van Nassauschool, que também fica em Haia – as duas foram visitadas pelo G1.

Elas funcionam graças a uma combinação de dinheiro público e privado, vindo de fundações ou instituições filantrópicas. Os pais pagam uma ajuda de custo de material apenas se tiverem condições para isso.

Enquanto a Peutercollege é voltada a crianças com até quatro anos, a Jan Van Nassauschool é uma escola primária (dos quatro aos 13), mas que agora oferece também creche gratuita para crianças a partir dos três meses de idade, quando as mulheres podem voltar a trabalhar.

O público-alvo das duas escolas são filhos de imigrantes, refugiados ou holandeses de menor renda, já que estão localizadas em bairros menos abastados.

 

"Mas aqui vem acontecendo uma coisa interessante. Muitos holandeses mais ricos estão trazendo os filhos para estudarem aqui porque a qualidade do ensino foi ficando muito boa ao longo dos anos", conta a coordenadora da Jan Van Nassau, José Mendes.

 

 
 
José Mendes, coordenadora da Jan Van Nassauschool, e as professoras Charissa e Miranda (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)José Mendes, coordenadora da Jan Van Nassauschool, e as professoras Charissa e Miranda (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

José Mendes, coordenadora da Jan Van Nassauschool, e as professoras Charissa e Miranda (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

 
Estufa na escola Jan Van Nassau, em Haia (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)Estufa na escola Jan Van Nassau, em Haia (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Estufa na escola Jan Van Nassau, em Haia (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Espaço aberto à comunidade

O espaço da Jan Van Nassauschool conta com estufa, amplo espaço de lazer, restaurante de comida natural, complexo esportivo, biblioteca, salão de música – tudo aberto à comunidade fora do horário escolar. São quase 400 alunos de 67 países diferentes, incluindo a Holanda.

"Escolhi que meus três filhos estudassem aqui para eles crescerem com acesso a outras culturas e educação boa e de graça. Acho muito bom a escola funcionar também como um centro comunitário", diz a holandesa Samantha der Bieman, de 32 anos, cuja filhinha mais nova, Zoey, de três meses, em breve começará a frequentar a creche.

“Meu filho adora aqui, está sempre feliz e já aprendeu várias palavras em holandês, diz Sabah Ajal, marroquina, e mãe de Ayaib, de dois aninhos.
 
Samantha der Bieman e a filha Zoey, que vai estudar com crianças imigrantes na Jan Van Nassauschool (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)Samantha der Bieman e a filha Zoey, que vai estudar com crianças imigrantes na Jan Van Nassauschool (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Samantha der Bieman e a filha Zoey, que vai estudar com crianças imigrantes na Jan Van Nassauschool (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

Ela irá conviver com crianças como Oumaima, de 12, cujos pais vieram do Marrocos. Ou Sama, de ascendência egícia, e Gail, do Suriname. Eles estão deixando a escola a caminho da educação secundária. Oumaina foi a aluna mais bem avaliada da escola e irá para uma escola secundária com foco em ciências, disciplina que ela mais gosta.

"Quero ser dentista", diz em inglês perfeito, só não melhor do que o holandês. "Na minha casa meus pais só falam árabe, aprendi tudo aqui nessa escola. Tive um bom começo e acho que posso ser o que eu quiser", comenta a menina.

 

As professoras Charissa de Nodijer e Miranda van Etten acham que a diversidade é ponto alto da escola.

"Nossos alunos têm ótimas habilidades sócio-emocionais, muito por conta dessa diversidade. As notas boas em testes como o Pisa mais pra frente vêm como consequência disso", afirma.

José ainda brinca: "Mais importante do que o Pisa é esses jovens terem oportunidade e, claro, serem felizes. Acho que a inclusão na Holanda vêm realmente melhorando se compararmos a outros países europeus e é claro que ela começa desde cedo e que as escolas têm papel importante", comenta.

Atenção às crianças mais vulneráveis

Segundo o Unicef, nenhuma criança maior de quatro anos está fora da escola no país, incluindo as que encontram-se em centros de refugiados.

"Há situações de vulnerabilidade, é claro, especialmente entre refugiados e alguns imigrantes de países árabes, do Suriname e dos territórios holandeses no Caribe, mas a situação melhorou 90% de uns anos para cá graças a essa inclusão das famílias e especialmente das crianças nas políticas de ensino", diz Laura Westendorp, conselheira-chefe do Unicef-Holanda.

A Holanda recebeu cerca de 60 mil refugiados em 2015. O fluxo diminuiu desde então – em 2017 foram cerca de 16 mil pedidos. Mesmo assim, segundo dados do governo, o país tende a aprovar cerca de 70% dos pedidos de refúgio – índice bem maior do que os 47% da média da União Europeia. Antigas penitenciárias que haviam sido fechadas por conta da criminalidade que diminuiu muito no país são usadas como abrigos.

Os imigrantes vêm em sua maioria da Turquia, do Marrocos, da Indonésia, do Suriname e das antigas colônias caribenhas.

 
As crianças na Peutercollege ajudam a cuidar dos animais da escola (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)As crianças na Peutercollege ajudam a cuidar dos animais da escola (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)

As crianças na Peutercollege ajudam a cuidar dos animais da escola (Foto: Mariana Timóteo da Costa/GloboNews)



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