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01/05/2018 18:07:00

Sonáli da Cruz Zluhan, a juíza gaúcha que não acredita em cadeia


Sonáli da Cruz Zluhan, a juíza gaúcha que não acredita em cadeia

Era dia de revista no Presídio Central, em Porto Alegre, e o detento X, líder de facção, ordenou que seus subordinados dessem um jeito de esconder seu smartphone. A única maneira encontrada foi um deles usar o próprio corpo — é isso mesmo que você está pensando. Inviável, o esconderijo não durou muito, e o dono do celular acabou na solitária: 60 dias em um buraco escuro, sujo de fezes nas paredes e infestado por todo tipo de praga.

 

Depois de alguns dias, pediu para falar com a juíza responsável pelo Central, Sonáli da Cruz Zluhan. Implorou para sair dali. Observando as guias que ele levava no pescoço, teve uma ideia: comprou um romance espírita de Zíbia Gasparetto e deu ao preso. "Se tu leres o livro, fizeres uma resenha e me contares a história de cada um dos personagens, eu te tiro em 30 dias." Ele leu, ela cumpriu o trato, e nunca mais Sonáli ouviu falar de X ou de problemas na galeria que ele comanda.

 

É dessa forma que a porto-alegrense de 58 anos lida com a rotina de fiscalizar o Central, um dos piores presídios do País, onde se amontoam 5 mil presos em um espaço planejado para 1.900. Sonáli é juíza da 1ª Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, é conhecida pelas críticas à forma como polícia e Judiciário conduzem prisões e condenações, que na opinião da juíza, jamais levarão à remissão de criminoso algum. É por isso que, com mais de 20 anos de magistratura, optou por ficar na vara que fiscaliza a execução das penas, em vez de encabeçar o tribunal que condena os criminosos.

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Não tenho mais convicção nenhuma de que prender resolva alguma coisa. O discurso da segurança pública é que prender é a solução. Mas cada vez se prende mais e nos sentimos menos seguros.

 

CAROLINE BICOCCHI/ESPECIAL PARA HUFFPOST BRASIL
Sonáli é juíza da 1ª Vara de Execuções Criminais (VEC) da capital gaúcha.

 

Esse posicionamento vai muito além da certeza de que as cadeias brasileiras não recuperam ninguém. Para Sonáli, toda a lógica de condenações e de aprisionamento está errada. "A prisão deveria ser para casos realmente graves, não para um usuário de crack que trabalha como aviãozinho na boca, entrega droga só para sustentar o próprio vício e vai preso como traficante com duas pedras no bolso. Em 5 minutos, o dono da boca repõe esse cara", explica.



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