No último domingo (2), Dia de Finados, ocasião em que milhares de pessoas lotaram os cemitérios de Arapiraca para prestar homenagens aos seus entes queridos, um fato chamou a atenção de quem passou pelo cemitério Pio XII, o maior da cidade. No túmulo da família Albuquerque Queiroz, onde estão enterrados os corpos do vendedor de planos de saúde, João Ricardo Albuquerque, assassinado no último mês de fevereiro, e de sua irmã, Vera Lúcia Albuquerque Queiroz, que se suicidou após tomar conhecimento do assassinato, a família resolveu cobrar justiça de uma forma diferente, colocando uma placa com as fotos dos assassinos ao lado das fotos das vítimas.
Abaixo das fotos das vítimas, a família colocou a seguinte frase: “Estes dois os coveiros já prenderam. O casal de assassinos está solto! Cadê a justiça?”, com manchas de tinta preta representando o luto da família. Já abaixo das fotos do casal Claudiomar Francisco da Silva e Margarida Lira da Silva, acusados pelo assassinato do vendedor, foi colocada a seguinte frase: “Estes é com a justiça. Cadê a justiça?”, com manchas de tinta vermelha, representando o sangue derramado.
O protesto inovador chamou a atenção de todos que circularam pelo cemitério e, de acordo com os familiares das vítimas, o objetivo da manifestação era chamar a atenção das autoridades policiais, inclusive da Secretaria de Defesa Social, e de toda a sociedade arapiraquense, para que o crime não caia no esquecimento, assim como vários outros que continuam impunes na cidade. A família das vítimas também está distribuindo milhares de folderes pela cidade, com a foto do casal e os telefones do Disque Denúncia e da Polícia Civil.
O casal está com a prisão decretada pela justiça desde o dia 15 de fevereiro, mas os dois continuam foragidos. A funerária São Francisco, pertencente ao casal, continua funcionando normalmente.
Discussão entre comerciante e cliente pode ter motivado o crime
De acordo com a polícia, um dos motivos que podem ter levado a consumação do crime, ocorrido no dia 9 de fevereiro deste ano, pode ter sido uma discussão travada, dias antes, entre a vítima e um empresário do ramo funerário durante a negociação de um caixão, que fora utilizado para enterrar a sogra da vítima. Dias depois, a irmã da vítima, inconformada com a perda do irmão e com uma forte depressão, resolveu atear fogo no próprio corpo, fato que resultou em sua morte.
Na semana anterior ao assassinato de João Ricardo, a sogra do vendedor havia falecido, vítima de problemas de saúde. Vendo o desespero da namorada e dos familiares, João Ricardo resolveu tomar a frente da situação e providenciar todos os detalhes para a realização do velório e sepultamento de sua sogra. Na hora de comprar o caixão, o vendedor se dirigiu até a funerária São Francisco, de propriedade do empresário Claudiomar Francisco da Silva, onde encontrou um caixão de acordo com o preço e o agrado da família.
João Ricardo, na hora da negociação, contestou o preço do produto, que estava sendo comercializado por R$ 1.400, ou seja, um preço bem mais alto que a concorrência. Apesar de poder ter optado em comprar o caixão em outro lugar, João Ricardo preferiu insistir em fazer a compra na funerária São Francisco por conta de uma promoção da casa, que oferecia um parcelamento em 10 vezes sem juros.
Entre uma negociação e outra, cliente e comerciante iniciaram um princípio de discussão, que só terminou quando o dono da funerária resolveu baixar o valor do produto para R$ 1 mil, ou seja, oferecendo um desconto de R$ 400. Apesar de ainda inconformado com o valor, João Ricardo cedeu o seu cartão de crédito para a concretização da venda. Minutos depois a transação foi realizada com sucesso pela administradora, mas quando João Ricardo pegou o comprovante de débito notou que o valor havia sido passado em uma só parcela e não em dez vezes assim como anunciado na promoção.
Indignado, João Ricardo avisou sobre o equívoco a Claudiomar Francisco que alegou que aquele valor só poderia ser cobrado de uma só vez, devido ao desconto. Os dois iniciaram uma forte discussão até que João Ricardo obrigou o comerciante a estornar o valor debitado, pois o comerciante, antes da transação eletrônica deveria tê-lo avisado.
O crime - Dias depois, numa noite de sábado, o vendedor estava saindo da casa de sua namorada, no sítio Cangandu, localizado na zona rural de Arapiraca, quando foi brutalmente assassinado por vários tiros de pistola calibre 380. Testemunhas que moram próximo a casa da namorada viram quando um casal parou um veículo a poucos metros do local e permaneceu como se estivesse esperando alguém .
Um vizinho chegou a reconhecer o veículo Santana Quantum cor prata, que dias antes teria transportado o corpo da mãe da namorada de João Ricardo até o cemitério. De acordo com a testemunha, o veículo chegou ao local tendo na direção Margarida Silva, esposa de Claudiomar, que estava no banco do passageiro.
Outra testemunha chegou a reconhecer Claudiomar e ao se aproximar dele para perguntar o que faria por ali ele simplesmente respondeu: “Eu estou aqui esperando um cabra safado sair daí desta casa para matá-lo”, disse. A testemunha, sequer, teve tempo de acionar a polícia, visto que poucos minutos depois João Ricardo saiu da casa de Raquel, montou em sua motocicleta e foi emboscado por Claudiomar, que, após efetuar os disparos, entrou no carro dirigido pela sua esposa e fugiu com destino ignorado.
Suicídio - A irmã da vítima, Vera Lúcia Albuquerque Queiroz (44), entrou em depressão desde a morte de João Ricardo e, na última terça-feira (12), se suicidou de forma lamentável. Familiares de Vera disseram que o seu comportamento mudou muito após o assassinato do irmão.
Desolada, Vera saiu de casa, pegou um mototaxi e se dirigiu até um posto de combustível localizado em uma das saídas da cidade, onde comprou uma pequena quantidade de gasolina, dizendo que iria abastecer seu veículo que estaria a poucos metros do local.
Ao chegar num terreno baldio, Vera embebedou o corpo com o combustível e, em seguida, ateou fogo. Ela ainda chegou a ser socorrida e levada para a Unidade de Emergência do Agreste, mas não resistiu as queimaduras e faleceu no dia seguinte.