Agência Brasil - Em apenas cinco anos, o patrimônio líquido dos
Correios, ou seja, a diferença entre os ativos e o passivo, encolheu 92,63%. A
conclusão é da Controladoria-Geral da União (CGU), que analisou os dados
econômicos e financeiros da estatal relativos ao período de 2011 a 2016. Além da perda patrimonial,
os resultados dos últimos seis exercícios fiscais já fechados apontam a
deterioração da capacidade dos Correios saldarem dívidas no longo prazo;
aumento do endividamento da empresa e sua maior dependência de capitais de
terceiros.
O resultado da avaliação da CGU enfatiza que, com prejuízos crescentes a partir de 2013, a empresa vem se revelando menos rentável. E que, além do "aumento exponencial" das despesas diretas, a sustentabilidade da empresa foi impactada pela "transferência elevada de recursos para a União, o que ocasionou" redução significativa na capacidade de investimentos na empresa no curto prazo".
Entre
as principais causas elencadas pelos analistas da CGU estão a queda no volume
de correspondências transportadas e o que os analistas classificam como uma
“defasagem” dos valores das tarifas cobradas pelos serviços.
Segundo
o relatório
de análise de gestão, a queda no volume anual de encomendas e objetos
transportados é de, em média, 16,28%, enquanto a “defasagem” tarifária
acarretou prejuízos na receita líquida de vendas e dos serviços, principalmente
nos três últimos exercícios. Isso apesar de os valores das tarifas terem sido
reajustados em 9% em dezembro de 2015, para recompor as perdas ocorridas entre
junho de 2012 e junho de 2014, quando o aumento tarifário não foi aprovado.
Os
técnicos da CGU também apontam entre as causas do mau desempenho financeiro da
empresa o aumento dos custos total com pessoal que, entre 2011 e 2016, aumentou
de R$ 7,59 bilhões para R$ 12,35 bilhões. Um crescimento de 62,6%, ainda que,
no período, o número de funcionários tenha subido apenas 0,43%, passando,
segundo a CGU, de 114.972 para 115.469.
Aos
olhos dos técnicos da CGU, um custo que aumentou “vertiginosamente” foi o
empenhado com indenizações e benefícios pós-emprego. Só em 2016, essas despesas
consumiram cerca de R$ 201,7 milhões e R$ 410,36 milhões, respectivamente.
Outros
problemas encontrados a partir da análise das contas dos Correios foram o
aumento de insumos necessários às operações da empresa e a redução em
aplicações financeiras entre 2011 e 2016. Mas, principalmente, a “elevada
transferência de recursos para a União” nos exercícios de 2011, 2012 e 2013,
período durante o qual a empresa repassou, a título de dividendos e juros sobre
capital próprio, um total de R$ 2,97 bilhões. Só em 2013, quando a empresa
contabilizou um prejuízo de R$ 312,51 milhões, foram transferidos dos caixas
dos Correios para a União cerca de R$ 401 milhões em dividendos. Para os
técnicos da CGU, isso levou “a uma redução drástica da capacidade de
investimento da empresa e da sua viabilidade econômica e financeira”.
Considerada
a distribuição do valor adicionado, que indica entre quem e como são
compartilhados os resultados financeiros, percebe-se que o governo é o segundo
setor que mais absorveu recursos distribuídos no período analisado, ficando atrás
apenas da remuneração ao trabalho, que engloba gastos com salários, honorários,
benefícios e encargos sociais.
Recomendações
Além
do diagnóstico da presente situação econômica e financeira dos Correios, o
trabalho da CGU também apresenta sugestões de ações que a empresa pública deve
desenvolver para evitar futuros prejuízos e reequilibrar suas contas. As
sugestões são de melhorar a qualidade dos serviços para, assim, tentar reverter
a queda no volume de objetos transportados e as indenizações pagas em virtude
de atrasos nas entregas ou de objetos extraviados, roubados ou avariados à
redução dos custos com insumos operacionais, excluindo os referentes a despesa
com pessoal, entre várias outras.
O
documento tornado público pela CGU traz dois alertas. Um é que diversas
recomendações dependem da atuação de agentes externos aos Correios, como o
Ministério das Comunicações, ao qual a empresa está subordinado. Desta forma,
diz o documento, “algumas medidas estão baseadas em premissas que podem não ser
cumpridas em razão de decisões políticas, colocando em risco a execução e o
prazo de implementação de determinadas ações”, mesmo que, segundo os técnicos
da CGU, seja “de suma importância que as medidas de reestruturação interna se
mantenham em andamento a fim de que a empresa apresente continuidade
operacional e de investimentos no setor”.
O
segundo alerta é de que se medidas não forem adotadas, a empresa tende a se
tornar dependente de recursos de custeio transferidos pela União - os técnicos
apontam inclusive que, seguindo a tendência dos últimos anos, já este ano a
empresa pode apresentar um passivo a descoberto, ou seja, quando o valor das
obrigações para com terceiros é superior ao dos ativos, caso a União não injete
recursos públicos.
Correios
Em
entrevista à Agência
Brasil, o presidente dos Correios, Guilherme Campos Júnior,
admitiu que a estatal precisa se reinventar, o que, segundo ele, já vem sendo
feito. “A atividade postal está em franco declínio no mundo todo. Assim como
todas as grandes empresas do setor, os Correios precisam se reposicionar,
precisam buscar identificar outras atividades que possam substituir a postal”,
declarou Campos após reconhecer os principais dados do relatório da CGU. “São
todos números públicos e já divulgados pela empresa”.
O
presidente dos Correios também admitiu que os recursos repassados pela empresa
à União fazem falta. “Se há prejuízo, é preciso tirar dinheiro de algum lugar.
No caso, do patrimônio. E entre 2007 e 2013, a União, que é nosso patrão e
único acionista, retirou do caixa da empresa mais de R$ 6 bilhões a título de
dividendos e antecipação de dividendos. Uma quantia que está nos fazendo muita
falta e que, desde o ano passado, estamos pedindo [ao governo que seja
reinvestida]. A resposta é que o governo não tem dinheiro”.