Embora os dados em Alagoas ainda divirjam em relação ao
custo de acidentes envolvendo motociclistas no Estado, um ponto é pacífico: a
Região Agreste do Estado — entreposto entre os municípios circunvizinhos,
inúmeros povoados e o Sertão — vive uma situação crítica com a recorrência de
acidentes envolvendo motos.
Segundo dados do Observatório
Nacional de Segurança Viária (ONSV), há uma estimativa de que o custo anual com
acidentes de motos para o Estado de Alagoas seja algo em torno de R$ 1
bilhão contabilizando todos os tipos de acidentes (carros, motos,
caminhões e outros). Neste mesmo estudo, se for considerado que os motociclistas
representam pelo menos 40% das vítimas fatais no Estado, estima-se que o
custo/ano esteja na ordem de R$ 400 milhões só com acidentes de moto.
Já o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) estima o custo hospitalar de uma vítima grave em
acidente de trânsito em R$ 230,6 mil, número que diverge do ONSV, ao mostrar um
custo estimado em 270 milhões/ano em Alagoas com esse tipo de acidente.
Mas segundo o especialista e
urbanista que responde como subchefe de Estudos e Estatísticas de Acidente no
Departamento Estadual de Transito de Alagoas (Detran-AL), Renan Silva, os dados
ainda não consideram a fundo a subnotificação nos casos.
“Como dá para ver
nesses dados, as estimativas são controversas. Eu realizei um estudo, com base
na metodologia do Ipea, considerando os números dos acidentes gerais, e estimei
um custo na ordem de R$ 370 milhões para o Estado de Alagoas anualmente. Porém,
considerando a subnotificação que tínhamos naquele momento, acredito que a
cifra em torno de R$ 1 bilhão para Alagoas seja a mais próxima da realidade,
considerando-se todos os tipos de acidentes. Sendo assim, eu estimaria um custo
de acidentes com motos girando entre R$ 400 a R$ 500 milhões por ano”,
informa o especialista.
O fato é que,
independentemente do fechamento dos números entre os institutos e o Detran, os
acidentes envolvendo motociclistas são os mais graves nas estradas alagoanas
cujas vítimas dão entrada nos dois hospitais de referência em Alagoas, o
Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, e o Hospital de Emergência do
Agreste Doutor Daniel Houly, onde são atendidas por uma equipe
multiprofissional, tal as gravidades das lesões.
No Agreste, índices respondem pela grande maioria de casos
O fato é que,
independentemente do fechamento dos números entre os institutos e o Detran, os
acidentes envolvendo motociclistas são os mais graves nas estradas alagoanas,
cujas vítimas dão entrada nos dois hospitais de referência em Alagoas, o
Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, e o Hospital de Emergência do
Agreste Doutor Daniel Houly, onde são atendidas por uma equipe
multiprofissional, tal a gravidade das lesões.
Nos últimos quatro anos,
Hospital de Emergência Daniel Houly atendeu 40.340 pacientes de colisões e
quedas de motos.
Já na maior unidade de
atendimentos de emergência localizada na capital alagoana, o Hospital Geral de
Emergência, os números são mais “modestos” de acordo com as estatísticas
divulgadas pela assessoria do órgão durante o mesmo período: o total nos
últimos quatro anos chega a 25. 459, contabilizados até novembro deste ano.
Maior referência no
tratamento a vítimas de traumas de média e alta complexidade no interior de
Alagoas, o Daniel Houly, em Arapiraca, já atendeu, nos últimos quatro anos,
46.566 vítimas de acidentes no trânsito.
O levantamento mostra que as
colisões e quedas de motos somaram 40.340 atendimentos, o que representa 86,6%
do total dos acidentes com veículos nas cidades do Agreste e Sertão de Alagoas.
As estatísticas do HE do
Agreste revelam que, no ano de 2014, foram contabilizados 12.322 acidentes de
trânsito e 11.536 assistências a vítimas de colisões e quedas de motos.
No ano seguinte, os dados do
hospital mostram 11.747 atendimentos a vítimas de acidentes no trânsito. Em
2016, as estatísticas apontam um novo crescimento, com 12.352 casos, sendo
11.254 a vítimas de colisões e quedas de motos.
O mais recente levantamento,
de janeiro até novembro deste ano, o Hospital de Emergência Daniel Houly
atendeu 10.145 vítimas de acidentes no trânsito e 9.149 pessoas com traumas
provocados em acidentes com motos.
Ufal e USP traçam perfil de motociclistas no Estado
Pesquisa realizada pela
Universidade Federal de Alagoas, Campus de Arapiraca, em parceria com a
Universidade Estadual de São Paulo (USP) e Detran/AL, constatou que as maiores
vítimas de acidentes com motocicletas, atendidas no Hospital de Emergência do
Agreste, são jovens com idade entre 18 e 29 anos.
A maioria das vítimas tem
ocupação na agricultura e comércio e residem na área rural dos 52 municípios
atendidos pelo hospital público, que é vinculado à Secretaria de Estado da
Saúde (Sesau).
O estudo foi coordenado pela
professora-doutora Ana Paula Nogueira de Magalhães, e está servindo de
referência para outra pesquisa, desenvolvida também em parceria com a USP e
Detran/AL.
As motocicletas é o tipo de
transporte preferido pelos moradores da área rural, principalmente os jovens,
que utilizam esses veículos para os deslocamentos dos sítios e povoados até as
cidades mais próximas.
“O fato é que são
assustadores o índice de pessoas que dão entrada no Hospital Daniel Houly por
causa de acidentes com motos”, endossa Antônio Monteiro, coordenador de
Segurança do Trânsito do Departamento estadual de Trânsito de Alagoas.
Álcool, drogas e imprudência: o tripé das tragédias
A coordenadora do Serviço de
Epidemiologia Hospitalar do HE do Agreste, em Arapiraca, assistente social Ana
Lúcia Lima, também diz que os dados são muito preocupantes.
“Em nosso trabalho diário,
constatamos que as maiores vítimas dos acidentes com motos continuam sendo os
jovens”, afirma.
Ana Lúcia Lima revela que o
consumo de bebidas alcoólicas e a imprudência no trânsito são as principais
causas dos acidentes.
“A grande maioria das vítimas
não usa capacete e apresenta sintomas de embriaguez durante o atendimento”,
acrescenta a coordenadora.
Em razão disso, o estudo das
universidades públicas avançou e, desde o início deste ano que a pesquisa tem
abordagem agora na presença de substâncias psicoativas e demais fatores de
risco associados aos acidentes com motocicletas no estado de Alagoas.
Por meio de análises
toxicológicas, as professoras-pesquisadoras Ana Paula Nogueira, da Universidade
Federal de Alagoas (Ufal), e Daniele Sinagawa, da Universidade de São Paulo
(USP), estão colhendo amostras para o novo estudo, com o apoio de estudantes do
curso de Enfermagem.
Os condutores de veículos são
abordados para aplicação de um questionário, bem como a realização do teste da
saliva.
Esse novo método busca
identificar se o motorista consumiu alguma droga ilícita ou ingeriu bebida
alcoólica.
Por meio de um bastão
descartável, uma lâmina de plástico, também descartável, é passada na língua do
condutor do automóvel ou motocicleta.
A análise demora 10 minutos e
indica se houve consumo de alguma droga nas últimas 24 horas.
Os dados coletados do
questionário e do fluido oral nos condutores de veículos estão sendo
armazenados para consolidar a pesquisa, que deve ser divulgada ainda no
primeiro trimestre de 2018.
Plano de Segurança Viária começa a sair do papel
Desencadeado desde o ano
passado, o Plano de Segurança Viária para Motociclistas do Estado de Alagoas
pelo Detran-AL, a proposta é identificar soluções que reduzam a mortalidade e a
gravidade dos acidentes com moto, por meio de ações integradas de educação,
fiscalização e engenharia de tráfego. Nesse plano estão envolvidos
representantes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Corpo de Bombeiros,
Polícia Rodoviária Federal, Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito
de Maceió (SMTT), Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Departamento de
Estradas de Rodagem (DER), Sindicato dos Motociclistas e outras entidades
representativas.
“O primeiro foco é a
educação, sabendo-se o perfil da vítima, se tem habilitação ou não, e aí a
gente direciona as campanhas para conscientizar e atingir este público,
principalmente o jovem. O outro ponto é melhoria na sinalização, na
engenharia e as condições de pavimento, outra razão de boa parte dos
acidentes envolvendo motociclistas. Segundo o gerente do projeto e chefe
do setor de Segurança de Trânsito, Antônio Monteiro, é necessário que os
motociclistas sintam-se parte do processo de busca de solução para que possam
se comprometer com a aplicação do plano.
“O acidente de trânsito deve
ser visto como um fato que, na maioria das vezes, poderia ser evitado se
fatores de risco identificados fossem corrigidos e medidas preventivas fossem
adotadas”, destacou Monteiro.
Estão sendo realizadas
oficinas com os diversos órgãos das áreas de saúde, segurança pública e
trânsito para que durante as discussões sejam construídos elementos do atual
cenário das cidades de Maceió e Arapiraca, onde o plano será implantado de
foram experimental. A partir dos dados apresentados por técnicos e
especialistas envolvidos serão identificados e priorizados os principais
fatores e condutas de risco.
Além da alta velocidade,
mistura de álcool e direção, outras causas dos acidentes de trânsito apontadas
pelo Detran no acidente com moto em Alagoas é falta de experiência do condutor
e o não uso dos equipamentos de proteção, além dos obrigatórios.
Fonte: Tribuna Hoje / Wellington Santos e Davi Salsa