Os problemas de controle
sanitário encontrados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, são o
principal argumento a ser usado pela França para tentar modificar o mandato dado
à Comissão Europeia para negociar o acordo comercial com o Mercosul. "O
mundo mudou nos últimos anos e a segurança alimentar é um tema de grande
importância", disse o embaixador francês no Brasil, Michel Miraillet.
Os franceses
pretendem levantar essa questão no Conselho Europeu, que reunirá os líderes do
continente nesta semana em Bruxelas. Deverão propor que as negociações ocorram
num cronograma diferente. E que a questão de segurança alimentar seja incluída
nas discussões.
A ideia de adiar o
fim das negociações foi levantada pelo presidente da França, Emmanuel Macron,
na quarta-feira. Num evento com produtores agrícolas, ele afirmou que não é a
favor de correr para fechar o acordo em dezembro - uma meta que havia sido
aceita pelos dois lados da negociação. Agora, já se admite reservadamente que
dificilmente será cumprida.
"Nós queremos
o acordo", afirmou o embaixador. "Mas não a qualquer preço."
Depois de ressalvar, como ponto positivo, que os problemas da Carne Fraca foram
levantados pelo próprio governo brasileiro, Miraillet disse que
"nada" foi feito a respeito. E que essa é uma questão que preocupa o
consumidor europeu.
Fontes do lado
brasileiro classificaram o movimento da França como uma manobra protelatória,
reflexo das tradicionais pressões dos produtores agrícolas locais sobre o
governo. Elas avaliam que a proposta francesa tem pouca chance de prosperar,
porque ela é apoiada por um grupo pequeno de países. Para modificar o mandato
negociador, é preciso que haja consenso dos 28 países-membros do bloco europeu.
Se a União Europeia
abrir discussões sobre o mandato negociador, o Mercosul fará o mesmo, dizem
fontes. Isso, na prática, jogará o fim das negociações, que se arrastam desde
1999, para uma data indefinida.
A carne brasileira,
explicam, só ingressa na União Europeia se estiver de acordo com as regras
sanitárias que ela aplica a seus fornecedores do mundo inteiro. Do contrário, a
carga é rejeitada. E não é possível ao bloco europeu estabelecer regras
diferentes só para o Mercosul.
Proposta
Mercosul e União Europeia terão outra rodada de negociações entre 6 e 10 de novembro. O lado sul-americano espera uma nova oferta para o comércio de carne e etanol. Os números propostos há duas semanas foram considerados muito ruins, praticamente uma provocação. A pressão francesa pode ser um complicador para a Comissão Europeia propor cotas anuais maiores do que as 70 mil toneladas de carne e 600 mil toneladas de etanol colocadas sobre a mesa.
O Mercosul esperava no mínimo
100 mil toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol. "A oferta
pode piorar", diz o embaixador. "Não temos o tira bom e o tira mau.
Somos todos maus." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo.