Em depoimento
gravado em vídeo, o operador financeiro Lúcio Funaro afirmou que o advogado
José Yunes, ex-assessor especial de Michel Temer, "tinha certeza" de
que entregou a ele uma caixa com dinheiro em setembro de 2014, às vésperas da
eleição. Ao falar sobre desvios na Caixa Econômica Federal,
Funaro disse ter "certeza" que o ex-deputado Eduardo Cunha "dava
um percentual também para o Michel Temer" do esquema que ele, Cunha,
"capitaneava".
"Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair (Altair Alves, operador de
Cunha) deve ter entregado, assim, algumas vezes. O Altair às vezes comentava
que tinha que entregar um dinheiro para o Michel", disse.
+ Juiz
determina que votação em caso de Aécio seja aberta
Funaro disse ainda que o presidente atuou em defesa de interesses de
empresas portuárias durante a tramitação da MP (Medida Provisória) dos Portos,
em 2013.
A Folha de S.Paulo teve acesso à gravação do depoimento prestado por
Funaro à Procuradoria-Geral da República em 23 de agosto. Seu acordo de
colaboração foi homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal
Federal).
Parte da delação foi usada na última denúncia da PGR contra Temer, sob
acusação de obstrução de Justiça e organização criminosa, à espera de
apreciação da Câmara.
Até hoje, haviam sido divulgados trechos da delação retirados de termos de
depoimentos e do anexo (espécie de roteiro de apresentação) que ele entregou na
negociação.
Nos vídeos, agora revelados pela Folha, Funaro conta sua participação num
esquema de desvios ligados ao PMDB. Ele detalha, por exemplo, sua versão sobre
o episódio que levou à saída de Yunes da assessoria de Temer em dezembro.
O relato de Funaro diverge do de Yunes, que afirmou ter sido
"mula" do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) para receber do
delator um pacote com dinheiro. O delator afirma que essa versão do advogado
"é impossível", e que ele é que foi até Yunes receber o pacote.
"Ele [Yunes] tinha certeza que era dinheiro, ele sabia que era
dinheiro, tanto que ele perguntou se meu carro estava na garagem, porque ele
não queria que eu corresse risco de sair com a caixa para a rua. E até pelo
próprio peso da caixa, para um volume de R$ 1 milhão, é uma caixa bem
pesada", afirmou Funaro.
No relato, Funaro diz que foi pegar no escritório de Yunes uma caixa com
R$ 1 milhão a pedido do ex-ministro Geddel Vieira Lima, hoje preso na Papuda.
"Todo mundo sabe que a caixa tem dinheiro. Isso aí está óbvio que a caixa
tinha dinheiro", disse Funaro.
A PGR então perguntou: "O José Yunes sabia que existia dinheiro na
caixa?"? "Lógico, lógico. Ele sabia que eu iria lá retirar dinheiro.
[...] Eu fui receber dinheiro que ele [Yunes] tinha recebido da Odebrecht, a
parte que era destinada a financiar a campanha do Geddel", afirmou.
No vídeo, Funaro relatou a visita ao escritório do ex-assessor de Temer:
"Parei o carro na garagem e a secretária dele me levou até a sala dele,
que ficava no primeiro andar. É uma casa que tem até um elevador dentro. Subi
nesse elevador e fui até a sala dele".
"E aí desci, quando desci junto com ele e aí ele falou: o seu carro
está aí dentro? Eu falei 'tá'. Aí ele pegou e solicitou que a secretária
entregasse uma caixa pra ele e ele pegou essa caixa, me entregou e eu pus essa
caixa não sei se foi no banco de trás do carro ou no porta-mala de trás do
carro", disse.
PORTOS
Funaro contou ainda que soube da interferência de Temer na medida
provisória dos Portos porque Cunha lhe contou. O delator mencionou supostas
relações de Temer e Cunha com três empresas que operam no porto de Santos, no
litoral paulista: a Rodrimar, o grupo Libra e a Santos Brasil, além da Eldorado
Celulose, que pertencia ao grupo J&F, controlador da JBS, e que tinha
interesse em atuar em uma área própria em Santos.
A Rodrimar é alvo de um inquérito aberto recentemente no STF para
investigar suposto favorecimento à empresa na edição de decreto sobre portos
assinado por Temer em maio deste ano.
"Essa MP foi feita para reforma do setor portuário e ela ia trazer um
grande prejuízo para o grupo Libra, que é um grupo aliado de Cunha e, por
consequência, de Michel Temer, porque é um dos grandes doadores das campanhas
de Michel Temer", disse Funaro. Com informações da Folhapress.