O grande volume
de notícias falsas na internet e sua crescente velocidade de disseminação em
redes sociais já é alvo de estudos científicos há alguns anos. Diante das
evidências de que esse tipo de informação pode ter consequências impactantes
para a sociedade, os especialistas querem entender melhor como as pessoas
consomem e distribuem as informações.
Veja abaixo as
conclusões de quatro estudos recentes sobre as chamadas "fake news":
Quem compartilha
a notícia influencia mais na credibilidade que a fonte da notícia
Uma pesquisa feita pela agência Associated Press e o
American Press Institute concluiu que o fato de uma pessoa que compartilhou uma
notícia ser considerada confiável influencia mais na confiança que o leitor deposita
na informação que a fonte primária de uma notícia.
No estudo, as
pessoas pesquisadas avaliaram de forma muito diferente as notícias
compartilhadas por personalidades em que confiavam, como a apresentadora Oprah,
por exemplo, em comparação com notícias de alguém em quem não confiavam.
No entanto, não
fizeram muita diferença em relação a se estavam publicadas no site de um
veículo de confiabilidade reconhecida, como o da própria Associated Press, ou
um site qualquer inventado. Para testar isso, os autores do estudo criaram uma
página fictícia chamada DailyNewsReview.com, mas isso pouco afetou na impressão
dos entrevistados sobre as notícias que liam.
O teste foi feito
usando celebridades como fontes de notícias, mas é de se imaginar que o mesmo
valha para pessoas não famosas que compartilham informação em redes sociais. Ou
seja, o usuário tende a valorizar bastante a notícia compartilhada por um
familiar em quem confia mais, por exemplo. O que, evidentemente, pode ter
implicações se esse familiar "confiável" compartilha notícias falsas.
Jovens estudantes
também não têm muita clareza sobre a credibilidade da informação na internet
Pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, aplicaram questionários a alunos
de ensino fundamental, médio e superior, e analisaram mais de 7.800 respostas
para chegar à conclusão de que, de modo geral, eles apresentam pouco
discernimento sobre o que é uma fonte de informação que pode ter credibilidade,
e não separam o que é conteúdo jornalístico de conteúdo patrocinado, mesmo
quando isso está claramente escrito.
"Muitos
assumem que, por serem fluentes nas mídias sociais, os jovens são igualmente
espertos em relação ao que encontram por lá. Nosso trabalho mostra o
contrário", dizem os autores. Mais de 80% dos jovens pesquisados acharam
que um conteúdo patrocinado era uma nota jornalística.
Uma seção
"Sobre o autor" bem escrita e com aparência profissional é o
suficiente para convencer os jovens americanos de que um site é neutro e tem
credibilidade. Eles também não questionam a veracidade de fotografias e a
maioria não consegue avaliar se um tuíte é parcial ou tem isenção.
Exclusão social
tem relação com propensão a acreditar em conspirações
Um
trabalho da Universidade de Princeton concluiu
que o sentimento de exclusão social pode levar as pessoas a buscar significado
em histórias mirabolantes que podem não ser verdadeiras.
Esse pensamento
conspiratório leva a um ciclo perigoso. Quando as pessoas com ideias
conspiratórias compartilham suas crenças, podem se afastar mais da família e
dos amigos, provocando ainda mais exclusão. Isso pode levá-los a se juntar a
comunidades que compartilhem as teorias da conspiração, onde se sentem
bem-vindos, o que, por sua vez, irá reforçar ainda mais suas crenças.
"Tentar
interromper este ciclo pode ser a melhor aposta para alguém interessado em
contrariar as teorias de conspiração no nível da sociedade", diz Alin
Coman, professor-assistente de Psciologia em Princeton. "Caso contrário,
as comunidades poderiam se tornar mais propensas a propagar crenças imprecisas
e conspiratórias."
As pessoas podem
ser 'vacinadas' contra as notícias falsas
Fazendo testes
com um grupo de pessoas, eles notaram que uma notícia verdadeira, ao ser
contraposta a uma mentirosa, muitas vezes é "anulada" -- a mentira,
para um leitor desavisado, tem tanto peso quanto a verdade.
Os pesquisadores,
então, tentaram expor as pessoas de forma preventiva a pequenas doses da
informação mentirosa, como uma forma de alerta, avisando-as, por exemplo, que
existem pessoas espalhando boatos sobre determinado assunto. Expostos a essa
"vacina", posterioremente, quando confrontados com uma notícia
verdadeira e uma mentirosa sobre um mesmo assunto, os participantes da pesquisa
já não deram tanto valor à falsa.
Segundo os
pesquisadores, técnicas de "inoculação psicológica" como essas foram
utilizadas no passado pelas indústrias do tabaco e do petróleo para abalar um
consenso científico junto à opinião pública. <> G1 //