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gabriel castro
A pouco mais
de três meses das eleições, a presidente-candidata Dilma Rousseff tem
diante de si um panorama cada vez mais desafiador. O último levantamento do Datafolha aponta
que o segundo turno é muito provável. E, no segundo turno, Dilma tem 44%
das intenções de voto contra 40% de Aécio Neves (PSDB). Como a margem de erro é
de dois pontos percentuais, há empate técnico pela primeira vez.
A queda nas pesquisas é lenta mas contínua. Em fevereiro, por exemplo, o Datafolha mostrava Dilma com 54% das intenções de voto no segundo turno. Aécio tinha 27%. Contra Eduardo Campos (PSB), o placar era de 55% a 23% a favor de Dilma.
Alguns dados específicos ajudam a compreender as dificuldades da campanha petista – que, duas semanas após o início do período eleitoral, ainda não foi às ruas. O cenário é pior nas grandes cidades, que normalmente antecipam tendências gerais do eleitorado. Nos municípios com mais de 500.000 habitantes, a avaliação positiva do governo passou de 30% para 25% do eleitorado. Os que rejeitam a gestão de Dilma agora são 37%, ante 31% no último levantamento. Ela perderia as eleições nessas cidades, assim como nos municípios que têm entre 200.000 e 500.000 moradores.
A rejeição
de Dilma é maior do que a de todos os candidatos presidenciais vencedores desde
1994, considerado o momento da campanha. Hoje, 35% dos eleitores não votariam
na presidente de forma alguma. Também por isso, a possibilidade de uma vitória
de Dilma no primeiro turno são reduzidas: Dilma tem pouco potencial de
crescimento e dificilmente ultrapassará os 40%.
Dessa forma, ganham relevância os número sobre um eventual segundo turno.
É por isso que o empate técnico com Aécio assusta os petistas. "Eu, no
lugar dela, eu estaria muito preocupado com a possibilidade de haver um segundo
turno, que é o que tudo indica", diz o professor Ricardo Caldas, do
Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Caldas também afirma
que, embora possa haver exceções, as tendências dos grandes centros costumam
influenciar o restante da população. Ou seja: a queda mais acentuada de Dilma
nas grandes cidades é um péssimo sinal para a campanha da petista. Mas não foi
só lá que as intenções de voto da petista se reduziram.
Faixas e redutos – No Nordeste, que desde 2002 é uma fortaleza eleitoral dos presidenciáveis petistas, Dilma caiu de 55% para 49% nas intenções de voto para o primeiro turno, de acordo com o último Datafolha. Enquanto Dilma faz campanha apenas na internet, os principais adversários da petista priorizam os estados nordestinos. Nesta fim de semana, Eduardo Campos vai visitar o Crato (CE). Aécio Neves viaja a Juazeiro do Norte (CE), onde vai participar das cerimônias pelos 80 anos da morte do Padre Cícero.
Das quatro faixas de renda consideradas pelo Datafolha, Dilma perderia o segundo turno em três, no cenário em que o adversáro é Aécio Neves. Ela venceria apenas entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos, onde ela perdeu três pontos percentuais na última pesquisa. Dilma também é derrotada no segundo turno entre os eleitores escolaridade de nível médio ou superior. Venceria somente no grupo que estudou até o ensino fundamental.
A presidente tem nas mãos a máquina do Estado e uma militância muito mais numerosa e capilarizada do que PSDB e PSB. Além disso, ela tem quase o dobro do tempo de TV de seus dois principais adversários somados. E, no último Datafolha, os três perderam apoio na faixa dos eleitores que têm renda familiar acima de dez salários mínimos. É um sinal de que as escolhas ainda são voláteis. Hoje, 53% dos eleitores conhecem Dilma "muito bem", mas apenas 17% respondem o mesmo sobre Aécio Neves, e 7% a respeito de Eduardo Campos.
Aécio Neves e Eduardo Campos não têm crescido significativamente nos números do primeiro turno, apenas quando o confronto é direto com Dilma Rousseff - ou seja, nas sondagens sobre o segundo turno. Isso indica que boa parte do eleitor é contra Dilma e votaria no candidato que pudesse derrotá-la, mas não tem forte afinidade com Aécio ou Campos.
Para O PT,
portanto, é mais importante melhorar a imagem da presidente do que atacar os
adversários. O problema é que os petista já vêm tentando fazer isso há um ano,
desde que as grandes manifestações de rua iniciadas em junho de 2013 tomaram o
país. E a estratégia teve pouco efeito.
Dilma convocou representantes de setores diversos para dialogar.
Intensificou as
viagens pelo Brasil, mesmo que para inaugurar obras pouco importantes. Abusou do
direito de convocar cadeia de rádio e televisão. Passou a fazer
discursos mais longos, com menções aos projetos-vitrine de seu governo. Tratou a Copa do Mundo como se fosse um
programa de governo e multiplicou as críticas ao que chamou de
"pessimistas". Adotou a retórica de candidata, com ataques políticos,
em eventos oficiais.
Mas não adiantou. Na Copa, por exemplo, Dilma compareceu apenas à abertura e à
final. Foi vaiada e hostilizada nos dois jogos. As aparições da
presidente diante de uma plateia comum, não selecionada por sua lealdade
política (como acontece nos eventos da Presidência) serviu para mostrar o quão
grande é a rejeição da petista. Serão quinze semanas imprevisíveis até a
eleição.