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O ser humano
moderno, Homo sapiens,
apareceu no registro fóssil há aproximadamente 200 mil anos. Mas lá se vão
apenas 50 mil anos que ele dominou técnicas de produção de arte e de
ferramentas de pesca e caça. E, de acordo com um novo estudo, esse homem que
ficou mais sofisticado teria perdido um pouco da masculinidade no meio do
caminho.
Publicado no
início de agosto na revista "Current
Anthropology", o estudo revela que os crânios humanos mudaram de
formato, de uma maneira que indica uma diminuição dos níveis de testosterona no
mesmo período em que a civilização estava florescendo.
"A evolução do homem, que o tornou capaz de criar tecnologia e arte e de
trocar conhecimento, provavelmente veio ao mesmo tempo em que desenvolvemos um
temperamento mais cooperativista", afirma o autor do estudo, Robert Cieri,
estudante de Biologia na Universidade de Utah (EUA), que começou
este trabalho na Universidade de Duke, na Carolina do
Norte.
O estudo, que tem como base as
medidas de mais de 1.400 crânios antigos e modernos, sugere que a humanidade
tenha avançado no momento em que as pessoas começaram a ser mais amáveis umas
com as outras, o que implica em níveis menores de testosterona em ação.
Pesquisas anteriores já comprovaram que o hormônio tem um papel fundamental no
comportamento agressivo. principalmente nos homens.
Uma das mudanças evolutivas mais
fáceis de notar é o formato dos crânios. Os supercílios proeminentes deram
lugar a cabeças mais arredondadas. Embora os pesquisadores não pudessem
determinar os níveis de testosterona ou se os humanos tinham menos receptores
para o hormônio, o estudo mostrou a relação entre a queda de testosterona e o
homem moderno. "Essas mudanças estão relacionadas aos níveis de
testosterona que atuam sobre o esqueleto", diz o antropólogo Steven
Churchill, supervisor da tese de Cieri em Duke.
Cieri comparou o cume da testa, a
forma facial e o volume interior de 13 crânios humanos modernos mais velhos do
que 80 mil anos, 41 crânios de 10 mil a 38 mil anos atrás, e uma amostra global
de 1.367 crânios do século 20 de 30 etnias diferentes.
A tendência revelada foi a de uma redução no cume da testa e um encurtamento da
parte superior da face, características geralmente relacionadas a redução na
ação da testosterona.
Há uma série de teorias sobre por
que, depois de 150 mil anos de existência, o ser humano, de repente avançou
tecnologicamente. Existem várias provas de que, há aproximadamente 50 mil anos,
o homem produziu ferramentas de ossos, chifres e tiras de couro e equipamentos
de caça e pesca. Este avanço teria sido motivado por uma mutação do cérebro,
pelo consumo de alimentos cozidos, pelo surgimento da linguagem ou simplesmente
pelo aumento da densidade populacional?
Os pesquisadores de cognição
animal Brian Hare e Jingzhi Tan, que participaram do estudo, consideram que o
argumento está alinhado com o que já foi estabelecido sobre animais.
"Se nós estamos vendo um
processo que leva a essas mudanças em outros animais, isso ajuda a explicar
quem somos e como chegamos a ser desse jeito", disse Hare, que estuda as
diferenças entre nossos parentes mais próximos, os macacos --chimpanzé comum e
o bonobo, também conhecido como chimpanzé-pigmeu.
"Esses dois macacos se desenvolveram de forma diferente e respondem ao
estresse social de maneira diversas", diz Hare. Chimpanzé comuns
experimentam um forte aumento nos níveis de testosterona durante a puberdade,
mas os bonobos não. Quando estressados, os bonobos não produzem mais
testosterona, enquanto os chimpanzés comuns produzem, mas bonobos produzem mais
cortisol, o hormônio do estresse.
As interações sociais são profundamente diferentes, e relevantes para este
estudo, seus rostos são diferentes, também. "É muito difícil encontrar um
bonobo com supercílios proeminetes", afirma Hare.
O estudo Duke argumenta que viver
em conjunto e de forma cooperativa deixou o ser humano menos agressivo e,
consequentemente, trouxe alterações em sua face e favoreceu a troca de
conhecimento.
"Se os homens pré-históricos
começaram a viver unidos e a desvendar novas tecnologias, eles tiveram que ser
tolerantes entre si", afirma Cieri. "A chave do nosso sucesso é a
capacidade de cooperar e conviver e aprender uns com os outros".