26/06/2024 18:47:45

Brasil
21/07/2014 14:01:03

Bolsista, lavador de carros do DF passa na OAB antes de se formar


Bolsista, lavador de carros do DF passa na OAB antes de se formar
Flávio Dias da Silva - o sonho está-se realizando

g1-df //

raquel morais

O sonho de ser chamado de "doutor" chegou bem mais cedo do que o esperado para um lavador de carros do Distrito Federal. Prestes a começar o último semestre de direito em uma faculdade de Taguatinga, o bolsista Flávio Dias da Silva, de 36 anos, foi aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. O resultado coroou uma batalha começada há 18 anos, quando o piauiense chegou à capital do país em busca de uma vida menos sofrida.

"Nasci em Floriano, no interior. Não era uma cidade tão desenvolvida como hoje. Minha mãe criou a mim e aos meus quatro irmãos sozinha desde que meu pai nos abandonou. Ela era professora da rede estadual, então o salário não era muito e sempre havia alguma dificuldade. Só que nossa base de estudo era forte, e ela investiu muito em mim: estudei em escola particular a vida toda. Eu vendia picolé para ajudá-la a pagar a mensalidade", lembra Silva.

Com o ensino médio concluído e a poucos dias de completar a maioridade, o homem decidiu buscar em Brasília oportunidades melhores do que as que encontraria se continuasse na cidade. O objetivo era colaborar com mãe no custeio das despesas da família e com a então namorada, que havia acabado de descobrir que estava grávida.

O primeiro emprego foi como balconista de uma padaria, substituído meses depois pelo de garçom. Foram cinco anos no ofício, ganhando um salário mínimo e aguentando todo tipo de "decepção". "Havia toda exigência de patrão e clientes, e o que eu recebia simplesmente não rendia. Acabava o dinheiro antes de acabar o mês."

O auge da frustração veio no dia em que ele precisou de apenas R$ 1 para uma despesa da qual ele já nem se lembra mais. Sem sobras no salário, Silva pediu a quantia emprestada a um vizinho e acabou recebendo o primeiro chacoalhão que o levaria a mudar de vida.

"Ele me pagou um sermão, e eu juro que isso não me deixou magoado. 'Que idade você tem? Rapaz, você tem que parar de depender dos outros para ter dinheiro. Caça um lote para capinar, um carro para lavar', foi o que ele me disse", conta. "Eu fiquei envergonhado, mas aquilo mexeu comigo. Aí eu me vi obrigado a correr atrás de algo diferente."

A ideia de lavar carros ganhou força com o incentivo de um amigo, que já tinha montado um "ponto" na CNA 2, em Taguatinga. Silva passou algum tempo dividindo os lucros do serviço com o colega, mas de novo sentiu que o rendimento era pouco para as muitas horas de trabalho – de 7h até o momento em que houvesse demanda. A partir daí, já com 25 anos, ele passou a exercer a atividade por conta própria.

O local escolhido foi a CNA 1, perto do Cartório do 5º Ofício de Notas. O tabelião e outros funcionários da instituição, assim como donos de lojas próximas, viraram clientes fieis de Silva. O rendimento dele chegava a R$ 600 por mês –  bem superior ao que até então ganhava nas atividades anteriores. E o jovem mantinha religiosamente uma preocupação: pagar o INSS.


 



Enquete
Se a Eleição municipal fosse agora em quem você votaria para prefeito de União dos Palmares?
Total de votos: 391
Notícias Agora
Google News