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vigiaágua
Há
exatamente um ano, o crescimento assustador do número de casos de diarreia
aguda e de óbitos pela doença na região do Agreste de Alagoas obrigou as
autoridades sanitárias a um esforço concentrado que conseguiu controlar a
epidemia após 53 mortes somente no mês de junho, de um total de 233 registradas
de janeiro a dezembro de 2013 em todo o estado. Este ano, a história pode
voltar a se repetir e isto a despeito de se saber que as mortes por DDA
(Doenças Diarréicas Agudas) foram provocadas pela má qualidade da água
consumida pelos alagoanos.
A
confirmação de que a água que se consome em mais de 80% dos municípios do
estado é imprópria ao consumo humano por estar contaminada por coliformes
totais, entre eles o Escherichia Coli - um dos principais vetores das DDA -, é
das próprias autoridades de saúde e consta do Relatório Vigiágua 2013,
elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), através da
Superintendência de Vigilância em Saúde e Diretoria de Vigilância em Saúde
Ambiental, divulgado em fevereiro deste ano.
Junto
com os relatórios de quatro investigações feitas na região de Palmeira, na
época da epidemia, ele confirma o risco a que a população está sujeita
hoje.Diferentemente do que foi divulgado pelo governo do Estado na época, não
foi apenas a água de carros-pipas que provocou a epidemia na região de
Palmeira.
Também
ela, mas, e principalmente, os altos índices de coliformes totais, entre eles o
Escherichia Coli, presentes na água fornecida pelos Sistemas de Abastecimento
de Água (SAA) – assim denominadas as redes da Casal (Companhia de Saneamento de
Alagoas) e dos Serviços Autônomos -, pelas chamadas Soluções Alternativas
Coletivas (SAC), como são denominados os carros-pipas e chafarizes, e nas
Soluções Alternativas Individuais (SAI), a exemplo das cisternas de chuva.
O
alerta do risco de uma nova epidemia de DDA tem sido repassado aos municípios
pela Sesau através dos informes semanais e boletins epidemiológicos instituídos
por força da Portaria Nº 104 do Ministério da Saúde. Datada de 25 de janeiro de
2011, ela tem o objetivo de monitorar e também prevenir a ocorrência de surtos
ou epidemias de doenças como a diarreia aguda, coqueluche, dengue, rubéola e
varíola, dentre várias outras.
A
chamada Lista de Notificação Compulsória Nacional e Estadual, instituída pela
Portaria 104, inclui também o registro e informe obrigatório de casos de
acidente de trabalho, Aids, hanseníase, crianças e gestantes portadoras do
vírus HIV, influenza (gripe) e doenças transmitidas por alimentos consumidos em
embarcações e aeronaves, as DTA. No que se refere especificamente à
situação das Doenças Diarréicas Agudas, o informe da Sesau até a 16ª semana,
relativo ao período de 29/12/13 a 19/04/14, aponta para o registro de 27.121
casos, um aumento de 13,34% em relação ao mesmo período de 2013 (23.929
casos).
Também
foram constatados 41 surtos em seis municípios: Cacimbinhas, Junqueiro,
Maragogi, Pão de Açúcar, Santana do Ipanema e São José da Laje. “No
período em análise, foram registrados no Sistema de Informação de Mortalidade –
SIM, 25 óbitos por diarreia em 14 municípios (Arapiraca, Barra de Santo
Antônio, Capela, Colônia Leopoldina, Feira Grande, Girau do Ponciano, Maceió,
Marechal Deodoro, Murici, Palmeira dos Indios, Pão de Açúcar, Piranhas, São
Sebastião e Teotonio Vilela)”, diz o informe da Sesau, acrescentando que dos 14
municípios com registro de mortes, 4 (28,57%) estão com subnotificação dos
casos, ou seja, o número de doentes e mortes pode ser maior. No que diz
respeito à faixa etária, a mais atingida é formada por maiores de 50 anos com
21 óbitos (84%).“Melhoria da qualidade da água”. Este é o primeiro item das
medidas de controle elencadas pela pasta, somada ao destino adequado de lixo e
dejetos, controle de vetores, higiene pessoal e alimentar.
Propício
ao armazenamento de água em cisternas, o período chuvoso é também o de maior
incidência de DDA, daí a preocupação dos órgãos de saúde em conscientizar os
profissionais da área sobre a necessidade de monitoramento e notificação dos
casos, bem como aos gestores municipais quanto a procedimentos que garantam uma
água de melhor qualidade à população.Alvo de reuniões com técnicos do
Ministério da Saúde, Sesau, Funasa e Ministério Público Estadual (MPE) e
Federal (MPF), o controle das DDA ainda depende de uma participação mais
efetiva das prefeituras, como atestam os resultados obtidos pela Funasa, que
percorre os municípios coletando amostras e realizando análises da água em todo
o estado.
A
EPIDEMIA DE 2013
Entre
5 de maio e 11 de julho de 2013, Palmeira dos Índios registrou 11 óbitos e
5.870 atendimentos por diarreia aguda, sendo que ao longo de todo o ano de 2012
haviam sido registrados 4.842 casos. Denominado à época de surto, mas hoje
reconhecido como epidemia, o registro exacerbado de diarreia aguda no município
gerou quatro investigações de órgãos sanitários e todas apontaram a má qualidade
da água como a responsável.
Segundo
relatório do Ministério da Saúde, que coordenou duas investigações, nas 18
amostras de SAA (Sistemas de Abastecimento) examinadas, em 7 havia grande
incidência de coliformes, sendo que 6 apontaram a presença do Escherichia Coli
(E. Coli). Das 7 amostras de SAC (Soluções de Água Coletivas), 4 tinham
coliformes, sendo que em 3 foi detectado E. Coli, enquanto nas SAI (Soluções de
Água Individuais), as duas amostras coletadas possuíam coliformes, sendo uma
com E. Coli.
Entre
os 89 pacientes internados no Hospital Santa Rita com diarreia em 17 de maio,
74 (83,1%) haviam consumido água da Casal, 24 (27%) utilizaram água de poço, 25
(28,1%) tinham cisternas em casa, 8 (9%) afirmaram fazer o tratamento correto
da água que bebiam, e, 6 (6,7%) haviam utilizado água de caminhão-pipa. A
epidemia de 2013 em Palmeira também foi investigada pela Vigilância
Epidemiológica da Sesau que em 17 de junho de 2013 emitiu uma Nota Técnica
relatando os procedimentos adotados a partir da constatação do crescimento
atípico de casos de DDA através do Sistema de Monitorização das Doenças
Diarréicas Agudas (MDDA), preconizado pelo Ministério da Saúde.
Diante
da gravidade da situação, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), através da
Superintendência Estadual de Alagoas, foi acionada para implantar uma Unidade
Móvel para Controle da Qualidade da Água para Consumo Humano (UMCQA) em
Palmeira dos Índios e a conclusão a que chegou, de acordo com o relatório
emitido em 8 de julho de 2013, sobre as amostras coletadas em 40 pontos para
análise dos indicadores de coliformes totais, E. Coli, turbidez e cloro
residual, foi de que “a grande maioria das amostras não atende às exigências
contidas na legislação para uma água potável destinada ao consumo humano”.
“Em relação
à contaminação microbiológica, 57,5% das amostras revelaram presença de
coliformes totais e destes 40% com presença de Escherichia coli”, diz o
relatório, ainda segundo o qual, “no tocante às análises físico-químicas, 25%
das amostras das águas tinham não conformidade no parâmetro turbidez, ou seja,
uma leitura acima de 5 UT, e 27,5% revelaram ausência total de cloro residual”.
O QUE DIZ A CASAL
Questionada
sobre os altos índices de contaminação, a Casal enviou nota através de sua
Assessoria de Comunicação informando que a água que fornece “é tratada,
analisada e monitorada, não havendo riscos à saúde, conforme atestam os laudos
de análises que são feitos periodicamente pelos laboratórios da empresa,
obedecendo à Portaria Nº 2.914 do Ministério da Saúde; acontece que, em alguns
casos, como o registrado em Palmeira dos Índios no ano passado, os consumidores
usam fontes alternativas de abastecimento ou misturam a água dessas fontes -
cacimbas, barreiros, poços, açudes, cisternas etc. - com a água da Casal,
comprometendo a qualidade.
Nesse
caso, a responsabilidade por contaminação não é da Companhia”. Responsável pelo
fornecimento de água para 76 dos 102 municípios alagoanos, a Casal afirmou,
ainda, não ter quaisquer ingerências no abastecimento dos 26 municípios que são
operados pelas prefeituras, bem como nos casos de utilização de fontes
alternativas”, acrescentando que “construiu estações de cloração em várias
localidades e adquiriu analisadores digitais de cloro para melhorar o
monitoramento e a qualidade do produto que oferece à população”.