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cadu amaral
Quatros meninas de Maceió,
com idade variando entre seis e onze anos, estavam sendo vítimas de abuso
sexual na cidade de Itaporanga D’Ajuda, distante 29 km de Aracaju, capital de
Sergipe. Lá, elas moravam com a mãe que as obrigavam a ter relações sexuais com
o padrasto e com outros homens. As meninas estavam sendo “alugadas”. O caso foi
revelado quando elas vieram passar as férias escolares com a família do pai na
capital alagoana. O caso gerou grande repercussão na cidade sergipana.
A avó e o pai das meninas
denunciaram o caso ao Conselho Tutelar após perceber o comportamento estranho
das meninas, de não querer voltar para casa. Até que elas desabafaram, e
revelaram que estavam sendo estupradas. Segundo Ivan Luciano Araújo,
conselheiro tutelar de Itaporanga D’Ajuda, até a morte de outra criança, as
meninas teriam presenciado.
De acordo com Fernando da
Silva, conselheiro tutelar da 7ª região de Maceió, as denúncias do caso já
estavam ocorrendo desde o ano passado. “As crianças foram soltando as coisas
aos poucos. Antes se achava que era só o padrasto que as violentavam”. Toda a
história só foi revelada no último dia 11 de julho.
Ainda de acordo com
conselheiro, o caso já havia sido denunciado à Polícia Civil de Alagoas “porque
as crianças estão morando aqui”. Após a repercussão e a solicitação das
autoridades sergipanas, Fernando da Silva informou que todo o relatório do caso
já foi enviado a Itaporanga D’Ajuda. No documento, além dos depoimentos da avó,
do pai e das meninas, consta o exame de conjunção carnal para comprovar o abuso
sexual.
O caso será investigado pela
Delegacia Regional de Itaporanga D’Ajuda.
SEQUELAS
Para o psicólogo Raffael
Gonçalves são inúmeras as possibilidades de traumas ou sequelas. A depressão e
a introspecção são as mais prováveis. “com certeza vai dificultar as relações
amorosas que elas terão na vida adulta, pois viverão com a imagem de que
parceiros sexuais são pessoas que se aproveitam e abusam delas”.
O psicólogo destaca a
dificuldade de esquecimento dos momentos que elas viveram. Para ele, o trauma é
muito grande, principalmente por ter sido a mãe a pessoas que as colocou nessa
situação, elas podem crescer fingindo que nada aconteceu, reprimindo as
lembranças e com problemas para confiar em outras pessoas, mesmo que próximas,
em especial, da família da mãe. Mesmo que sejam pessoas que não se envolveram
em nada do que aconteceu.
“Isso faz com que se
desconstrua a relação mãe e filha, que no processo de desenvolvimento da
criança é muito forte e determina muito da personalidade da criança. Os
primeiros contatos são com a mãe e ela é primeira pessoa a receber a confiança.
Essa relação é estruturante da personalidade do sujeito”, explicou.
“Se levarmos em consideração
a psicanálise, existe uma aproximação nas fases de desenvolvimento inicial,
desde a fase oral à libidinal, que se desperta inicialmente no contato
materno”, emendou.
O psicólogo afirmou que não é
possível determinar um tempo de tratamento para as quatro meninas. Isso
dependeria de cada pessoa. “Não se pode dizer nem como ou qual trauma vai se
desenvolver. Isso se altera de pessoa para pessoa e depende da forma como se
dará a assistência dada a elas”, concluiu.
Raffael Gonçalves recomenda
que os pais observem o comportamento dos filhos. Porque também existem casos
que crianças são abusadas por pessoas de fora da família. Em uma escola ou
clube, por exemplo. “É preciso observar se as crianças estão se isolando, estão
introspectivas ou desinteressadas por atividades que antes lhes eram comuns ou
lhes agradavam. Ou mesmo se estão tendo comportamento autodestrutivo”.