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charles nisz
Cícero Batista, 33 anos, nasceu em Brasília, numa família com outros
nove irmãos. O pai morreu quando ele tinha apenas 3 anos e a mãe virou
alcoólatra como forma de fugir das dificuldades impostas pela vida. Um dos
irmãos mais velhos passou a usar e traficar drogas. Diante desse cenário,
Batista precisou lutar pela subsistência e, muitas vezes, precisou achar no
lixo a alimentação dele e dos irmãos.
“Eu tinha que chafurdar no lixo para encontrar comida. E muitas vezes encontrava pedaço de carne podre, iogurte vencido, resto de comida que ninguém queria. Era aquilo que me alimentava. E no meio do lixo surgiu a minha oportunidade de uma vida melhor., contou Batista, em entrevista ao portal R7.
No entanto, no lixo ele encontrou também livros e discos. A partir deles, Batista começou a construir a possibilidade de uma vida melhor. O brasiliense ia à casa de um vizinho para escutar os discos com obras de Beethoven e Bach. Matriculado pela irmã numa escola pública de Brasília e com a ajuda dos professores e colegas ele chegou ao ensino médio e resolveu fazer um curso técnico de enfermagem.
Ao fim do curso, um pequeno
triunfo: Batista foi aprovado no concurso para enfermeiro no Hospital Regional
de Taquaritinga. Acostumado a cuidar dos irmãos desde pequeno- eles tinham
doenças causadas pela necessidade em comer alimentos vencidos - Batista passou
no vestibular para Medicina em uma faculdade particular em Araguari. Para
frequentar um curso em período integral, ele era obrigado a dar plantão de 40h
aos fins de semana.
Mesmo perdendo as aulas de
segunda-feira, ele contava com o apoio dos professores. O salário era gasto
somente para pagar a mensalidade. Para comer, contava com doações de amigos e
conhecidos. A rotina era extenuante e Batista resolveu prestar o Enem e tentar
uma bolsa em uma universidade particular.
Batista passou a estudar
Medicina no Gama, outra cidade no entorno de Brasília, e além da rotina de
estudos, enfrentava o preconceito racial. No dia 6 de junho de 2014, Batista
formou-se médico. Ele ainda mora com a mãe na mesma casa, mas sonha com dias
melhores: "Quero justificar a confiança depositada em mim, dar uma vida
melhor para minha mãe e me especializar em psiquiatria ou pediatria".