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afp
Um disco ultrafino de
polímero, pouco maior do que um CD, implantado no abdômen poderia mudar a vida
de milhões de diabéticos que dependem de insulina. O pâncreas bioartificial,
desenvolvido por pesquisadores franceses, será testado pela primeira vez em humanos
em 2016.
Com o dispositivo, os
pacientes não terão mais de receber injeções diárias de insulina: o hormônio
será fabricado naturalmente pelas células do pâncreas (obtidas por engenharia
genética a partir de células-tronco), dispostas dentro do bolso artificial.
Este projeto, cuja aplicação
em grande escala não deve ocorrer antes de 2020, "levanta muitas
esperanças e expectativas" para 25 milhões de pessoas com diabetes do tipo
1 em todo o mundo, diz Séverine Sigrist, pesquisadora da start-up francesa Defymed,
responsável pelo protótipo.
A ideia de um pâncreas
bioartificial foi inspirada na técnica de transplante de células pancreáticas,
destinadas a suprir a deficiência do pâncreas e fazer com que o organismo passe
a fabricar a insulina por conta própria, regulando assim a quantidade de açúcar
no sangue. O problema dessa técnica é que, com a escassez de células para
transplante, ela só pode beneficiar uma pequena minoria de doentes. Ela também
exige o tratamento com medicamentos imunossupressores, que trazem vários
efeitos colaterais.
"Daí a ideia de projetar
um tipo de uma pequena caixa dentro da qual seriam colocadas as células
pancreáticas, para que elas fiquem abrigadas contra o ataque do sistema
imunológico", diz Séverine.
O desafio foi projetar uma
membrana semipermeável, que garanta tal proteção ao mesmo tempo em que permita
a passagem da insulina e também dos açúcares, para que as células pancreáticas
"saibam" o quanto de insulina devem produzir.
O disco de polímero será
implantado no abdômen durante uma pequena cirurgia, e deve ser substituído a
cada 4 ou 6 anos. No interior, as células pancreáticas serão renovadas, por
meio de uma injeção subcutânea, a cada 6 ou 12 meses. Os pesquisadores observam
que essa quantidade de injeções não tem nem comparação com o tanto de picadas
que um paciente que depende de insulina tem que levar ao longo da vida.
20 anos de pesquisa
O desenvolvimento dessa membrana levou mais de 20 anos de pesquisa e 6 milhões
de euros. O valor corresponde ao imenso potencial econômico da inovação,
estimado em 4 bilhões de dólares.
Depois de testes em animais,
um estudo com 16 voluntários deverá começar no fim de 2015 ou início de 2016,
em Montpellier, no sul da França e em Oxford, no Reino Unido. Os primeiros
resultados devem estar disponíveis no final de 2017.
Se for bem-sucedido, o
tratamento poderá libertar os diabéticos do "fardo" que representa o
tratamento diário com insulina, diz o médico Michel Pinget, diretor do Centro
Europeu para o Estudos da Diabetes (CEED), que lidera o projeto em Estrasburgo.
"Quando você é
diabético, gosta de toda novidade que possa melhorar o cotidiano", diz
Éric Dehling, presidente da associação Insulib, que reúne mais de uma centenda
de pacientes do leste da França. Para ele, as novas tecnologias, como as
canetas e as bombas de insulina, já melhoraram a vida dos diabéticos. Mas o
pâncreas bioartificial permite que eles sonhem com uma "qualidade de vida
ainda melhor".