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07/12/2013 17:43:00

A história das mulheres que abandonaram o mundo do crime


A história das mulheres que abandonaram o mundo do crime
Ilustração

cadaminuto //

gilca cinara

 

“Todas as vezes que fui presa, os policiais sempre diziam para não ficar no meio da sociedade. Por muito tempo fui excluída, mas hoje estou recomeçando a minha vida e as pessoas já não me olham mais da mesma forma de quando estava no mundo do crime. Hoje estou no meio da sociedade e dentro de uma escola, onde várias crianças estão construindo suas vidas, também estou erguendo a minha e conquistando tudo que perdi”.

 

O depoimento da ex-traficante Ivanadja Gomes dos Santos, 28 anos, conhecida como Ná, também traduz a realidade vivida pelas reeducandasIssandra Cássia Lima Vieira, 22 anos e Saneide Tavares da Silva,38 anos. Personagens dessa reportagem, elas também fazem parte do universo de dezenas de mulheres que ingressaram no mundo do crime e que hoje procuram por espaço e respeito.

 

 Dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostram que no ano de 2012, a população carcerária feminina aumentou em torno de 256%, enquanto o crescimento para os homens, no mesmo período, foi de 130%. Em todo o país, 7% das pessoas que cumprem pena são mulheres, o que corresponde a algo em torno de 36 mil detentas. Nas unidades prisionais há mais de 550 mil pessoas em presídios no país e um déficit de 240 mil vagas, das quais 14 mil são para mulheres.

 

Em Alagoas, 4.927 pessoas cumprem pena em regime fechado, provisório, medida de segurança,  aberto, semiaberto e presos recolhidos nas unidades federais. De acordo com o mapa carcerário da Superintendência Geral de Administração Penitenciária (SGAP), o total da população excedente é de 1.116 presos.

 

Pesquisas nacionais elaboradas pelo Depen mostram que o crescimento assustador do número de mulheres presas se deve a dois fatores: a participação delas em crimes cometidos pelos esposos, namorados ou irmãos, e a prática do tráfico de drogas.  Ao traçar um perfil dessas mulheres no Brasil, o Ministério da Justiça diz que são jovens entre 18 e 34 anos; sendo 55% negras, 45% pardas, de acordo com a nomenclatura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

A realidade

A relação de Ivanadja Gouveia dos Santos, 28 anos, conhecida como Ná, com o mundo do crime teve início quando ela tinha apenas 14 anos e residia com a família em um barraco, na Vila Brejal, no bairro da Levada. Assim como diversas meninas da sua idade, Ná vivia intensamente cada dia, “como se fosse o último”. Na mesma época conheceu o pai da sua primeira filha, hoje com 12 anos, e começou a praticar pequenos delitos.

 

A menina pobre da comunidade ganhou fama, não nas páginas das celebridades, mas nas páginas policiais, procurada pela Polícia de Alagoas, apontada em crimes de tráfico de drogas e assaltos. Após a sua separação, Ná conheceu Edivânio Vieira – o “Tatuzinho”, traficante conhecido na parte baixa da cidade e muito temido pelos moradores da Levada e região, com quem ficou casada até a morte do mesmo, que tinha ligações diretas com o traficante conhecido como Caetano, detido no presídio Federal de Catanduva.

 

Na noite do dia 13 de março de 2008, Tatuzinho foi assassinado durante uma troca de tiros com a polícia, na Rua da Areia, no Vale do Reginaldo. “Ele era um traficante procurado pela polícia alagoana,eu era muito conhecida no mundo do crime e as pessoas me temiam muito, também procurada pela polícia, já fui presa três vezes, a primeira vez foi por formação de quadrilha e porte ilegal de arma; A segunda foi posse de arma e, a terceira por homicídio. Tinha envolvimento com tráfico de drogas, mas nunca fui presa por esse crime, por falta de provas”, lembra a ex-traficante.

 

Mesmo com a morte do companheiro, Ná decidiu continuar o “legado” deixado pelo parceiro aumentando sua ficha criminal. Os moradores da comunidade comentavam que a fama adquirida por ela estava atrelada a presença do marido, mas com o tempo foram percebendo que nada mudaria. “Quando ele morreu muitas pessoas disseram que a minha coroa tinha caído. Acho que foi por conta disso que decidi continuar”, confessa a ex traficante.

 

Ela foi presa a primeira vez após participar de um assalto ao escritório de uma usina, no interior do Estado, e conseguir fugir do hospital. A história parece ter saído de um conto policial, mas foi pura realidade. Ná conta que na tentava de resgatar uns comparsas se deparou com policiais e foi atingida por um disparo de arma de fogo. “Essa foi a primeira vez que levei um tiro. Passei quatro dias em coma e por sorte, e por Deus ter me dado o livramento, consegui sobreviver, após oito dias internada, consegui fugir do hospital, antes que a polícia chegasse”.


 



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