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12/06/2013 15:59:05

Em Alagoas, Bolsa Familia e Sem Terra sustentam a cidade de Branquinha


Em Alagoas, Bolsa Familia e Sem Terra sustentam a cidade de Branquinha
Nova Branquinha

terra //

odilon rios

 

Três anos após a pior enchente que se tem notícia, a cidade de Branquinha – zona da mata alagoana, 55 quilômetros de Maceió – está dividida entre o céu, o inferno e a esperança.
O céu é o alto do morro da "nova Branquinha", como é chamada, onde foram construídas e entregues as casas aos desabrigados das chuvas de junho de 2010.
Longe três quilômetros do rio Mundaú, que rugiu às sete da noite daquele 18 de junho, os moradores têm água na torneira, luz, casas de alvenaria e uma unidade de saúde que mais parece um hospital. Melhor que a maior unidade pública de saúde alagoana: o Hospital Geral do Estado, em Maceió, com doentes apinhados pelo chão.
O inferno é a falta de dinheiro, a hiperinflação e o fechamento da Usina Laginha, que movimentava a economia da região.
Todos os moradores da pequena cidade (10.583 habitantes, segundo o IBGE) estão no SPC e no Serasa. O então presidente Lula anunciou linhas de crédito nos bancos estatais para que comerciantes reconstruíssem seus negócios.
 
Mas, como a dona Edna dos Santos vai pagar uma dívida que chega a R$ 20 mil se a lanchonete dela fica vazia quase o dia todo?
"Eu tinha um mercadinho. O rio levou. Perdi a casa. Reconstruí. Montei essa lanchonete. Não vem ninguém. Presidente Dilma, olhe para nós", pede.
Três brigadeiros, uma torta de frango e um refrigerante. A conta deu R$ 5. Uma nota de R$ 50 para o pagamento. A comerciante demorou meia hora para trocar o dinheiro: o policial do outro lado da rua, na delegacia, não tinha; o motorista que levava algumas pessoas a Maceió também estava sem trocados. Outras pessoas foram consultadas. Nada.
"Uma alma boa. Agora está tudo certo", explica a comerciante, entregando os R$ 45.
E a esperança vem de onde?
Ganha dinheiro em Branquinha quem é funcionário público, do Bolsa Família ou sem-terra.
O roçado dos sem-terra produz a macaxeira, o inhame e a laranja.
O dinheiro do Bolsa Família ajuda a comprar a farinha, o feijão e a fava.
E tudo é caro no bolso do branquinhense. A farinha custa R$ 4,80; o feijão? R$ 6. E a fava? R$ 25, o quilo.
"Comida de madame", diz a aposentada Irene Afonso dos Santos. Aos 75 anos, ela reconstruiu a casa em área condenada pela Defesa Civil. Ganhou uma casa do Governo Federal. E vai alugar a outra com risco de ser levada por uma nova enchente.
"Fazer o quê? A cidade não tem dinheiro, aposentadoria não dá. Na minha casa a gente come. Tudo tá caro. Já aguentei muito no feijão, na farinha e no charque. E hoje? Tudo isso é comida de madame".
Quitéria Barbosa da Silva recebe os R$ 160 por mês – pelos três filhos – do Bolsa Família. E vai ter almoço de madame. Encheu a panela de água, comprou o feijão. Vivia de aluguel. Tudo foi arrastado pela cheia. Ficaram os filhos. Vieram as doações: o sofá, o fogão, a caneca para misturar o leite em pó e a água. E desde o mês passado, a casa.
"A cheia me trouxe tudo. Eu não tinha nada antes dela".
Poderia ser uma filosofia…
Miguel Faustino Ferreira, de 68 anos, tem casa nova. E carrega tudo "nas costas".
Ele mora na "Nova Branquinha". O "transporte público" é o mototáxi: R$ 3,50.
"Não tenho dinheiro, tudo caro. Compro tudo e carrego nas costas. Um garrafão [de 20 litros de água mineral] custa R$ 4,50. Se eu sair, a mulher fica, para a casa não ser roubada".
Uma empresa de segurança cobra R$ 10/mês por cada casa. Quem aceita pagar tem uma guarda passeando pela porta, com um apito na mão. Se for comércio, o valor dobra: R$ 20.
"Bandido aqui anda é armado. Vai fazer o quê? Bandido ganha mais".
Na semana passada, o coordenador do Programa da Reconstrução e vice-governador José Thomáz Nonô (DEM) esteve na cidade e inaugurou as 170 casas da "Nova Branquinha". Faltam outras centenas.
Nas 19 cidades atingidas pelas cheias de junho de 2010 em Alagoas, foram prometidas 17.747 casas. Menos da metade foi entregue (7.764).
Branquinha foi a mais destruída de todas. Quatro pessoas morreram. Só a Igreja Matriz e a imagem de padre Cícero ficaram de pé.
Ali, mais da metade das pessoas vive abaixo da linha de pobreza. Dos 10.583 habitantes, 6.974 (mais da metade) é analfabeta ou lê e escreve. Setenta pessoas têm curso superior.
"Dos políticos ninguém nem fala. Quem é amigo de todo mundo fica melhor. E não tem problema. Não é assim em todo lugar?", filosofa dona Edna, a que tem uma dívida de R$ 20 mil.
Em Branquinha é melhor mesmo ser amigo de todos.


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