Durante
o tempo em que atuo com psicoterapia, principalmente com a hipnoterapia Ericksoniana,
já vi e ouvi pessoas de ambos os sexos relatarem chorando, que vivem num inferno,
devido a um relacionamento compartilhado, ou um relacionamento com constantes agressões,
humilhações diversas e até mesmo traições. E por mais que tentem, não conseguem
sair dessa situação por “amar” muito o parceiro.
O
interessante nesse relato é a pessoa dizer que não tem forças para sair da
situação, mas contraditoriamente tem uma força enorme para permanecer nela;
mesmo sendo humilhada, agredida e insultada. E ainda, ilusoriamente, pensa que
isso que sente é “amor”. Não, não é amor; ao contrário, isso é falta de amor,
falta de amor próprio, ausência de autoestima, porque para amar alguém é
necessário se amar em primeiro lugar. Talvez possa até ser incluído na
categoria de amor, mas como amor insano, amor doentio, amor masoquista.
O
que também me chama atenção é a pessoa dizer que por mais que tente não
consegue sair da situação. Quando isso acontece, realmente é o fim. Isso quer
dizer que foi gerada uma crença negativa de que não adianta mais tentar, porque
não vai conseguir. Então, em virtude desta crença negativa, a pessoa se
desmotiva, desiste de tentar e fica aprisionada a esse relacionamento.
Só
existem duas formas de não se conseguir. Uma é não tentar, a outra é tentar,
falhar e desistir. Se não tentar, ou tentar, falhar e desistir; sabe quando se
vai conseguir? NUNCA! O que teria acontecido se Thomas Edison, o inventor da lâmpada
elétrica tivesse desistido de fazer a lâmpada acender depois de 1200
tentativas? Logicamente, hoje não teríamos a lâmpada elétrica.
Vou
relatar um caso verídico, acontecido no ano de 1968, que vai servir de analogia
com o caso de pessoas que vivem num relacionamento doentio de longa duração.
Na
cidade de Major Izidoro tinha um rico e conhecido fazendeiro; este senhor
fazendeiro, teve uma dor na articulação do dedo polegar da mão esquerda, essa
dor foi ficando insuportável e ele procurou ajuda. Na época, procurou os
melhores médicos existentes em Alagoas; como a medicina não era tão avançada
como hoje, os efeitos não foram os esperados, ou seja, passava alguns dias sem
dor e depois a dor voltava com força total. Esse sofrimento se alongou por
muito tempo e estava ficando insuportável, até que ele não aguentou mais e
resolveu dar um basta definitivo naquela situação.
O
senhor fazendeiro, acordou-se de manhãzinha com uma dor intensa no polegar,
levantou-se, foi até o carro (um jeep) e pegou um facão; dirigiu-se para a
cozinha, pegou a tábua de cortar carne e a colocou em cima da pia, colocou o
dedo em cima e deu um golpe fatal com o facão e decepou o dedo. A dor foi tanta,
que deu um grito violento que acordou toda família e depois desmaiou. A mulher
junto com os filhos, o colocou na cama e passaram álcool no seu nariz e o mesmo
retornou. Logo, estancaram o sangue e fizeram um curativo no seu dedo.
Na
medida em que o tempo foi passando, o dedo foi cicatrizando e a dor diminuindo;
até que com a cicatrização total a dor desapareceu. Depois de cicatrizado, todas
às vezes que ele olhava para o dedo decepado, lembrava que um dia ali houve uma
dor, mas que a falta daquele dedo era apenas a lembrança de uma dor que deixou
de existir.
Como
vocês perceberam o senhor fazendeiro, após um logo e intenso sofrimento, chegou
à conclusão que só tinha duas opções para o seu problema: ou continuava com o
sofrimento de dor infinita, ou sentia uma dor terrível de uma só vez e se
livrava daquele sofrimento.
Num
relacionamento doentio, onde o parceiro é constantemente e longamente insultado,
ignorado, maltratado, desrespeitado, humilhado, anulado, subjugado ou traído;
ou mesmo por outro motivo, que faz com que a pessoa não se sinta bem neste relacionamento,
também existe essas duas opções: ou a pessoa permanece neste sofrimento
emocional infinito que fatalmente o levará a infelicidade e desemboca no
caminho da depressão, ou sente uma dor imensa de uma só vez, dando um basta
neste relacionamento doentio, e espera pela cicatrização.
Existem
pessoas que tentam e conseguem sozinha sair dessa situação; no entanto, existem
outras que tentam sozinhas e falham, mas tentam com ajuda especializada e
também conseguem sair. O importante é tentar, pouco importa a forma.
Portanto,
não deixe de tentar, mesmo que falhe, continue tentando. Se desistir, irá ficar
aprisionada aquela situação de sofrimento e consequentemente vai se enquadrar
naquilo que se chama “a coragem da covardia”.
Covardia,
não é medo de enfrentar o novo, o desconhecido que insegurança está nos
causando. Covardia é ter coragem de permanecer no velho, no desconforto
emocional que está nos aprisionando.
Dr.
Jacinto Martins de Almeida
Psicólogo/Psicanalista/Hipnólogo/Acupunturista
ESPECIALISTA
NO TRATAMENTO DE MEDOS E DORES