dr.marcoantoniomotagomes //
Os
quase 33 anos de trabalho na medicina têm me ensinado o que os livros não
trazem escrito. Podemos chamar isso de experiência, que somada à velhice
(risos) nos dá a ousadia de dizer coisas que antes não ousávamos. Hoje prefiro
correr o risco de errar com uns poucos, desde que acerte com muitos. Sabemos
que medicina não é como matemática (onde 2 + 2 = 4, e às vezes a casa ainda
cai). Com isso quero dizer que prognosticar em medicina é correr riscos
desnecessários. Assim, prefiro sempre tranqüilizar o meu paciente, que
submetê-lo a estresses cruéis, mesmo quando o diagnóstico não é tão favorável.
Vou aproveitar esse espaço semanal para, ao menos uma vez ao mês, tratar de
observações da minha prática clínica diária. Vou começar essa série de
informações falando de um tema palpitante (as famosas palpitações): o trabalho
do coração é quase sempre silencioso e imperceptível, mas em algumas situações
(normais ou patológicas) o paciente percebe que tem coração, e isso o incomoda.
Para o médico raciocinar a partir desse tipo de sintoma exige que ele sempre
investigue se a queixa é expressão de uma doença que está escondida ou algo
passageiro geralmente ligado ao lado emocional. Esse tipo de relato pode
acontecer quando o coração bate forte, descontrolado ou rápido. Uma boa
investigação permite ao médico distinguir o que está acontecendo. A perturbação
do ritmo mais comumente encontrada corresponde à presença das famosas
extra-sístoles.
De vez em quando a seqüência normal de batimentos é interrompida por um
batimento precoce, e o paciente pode perceber essa falha porque existe uma
sensação de vácuo (muito comparada à sensação de andar em elevador). Em pessoas
jovens quase sempre são benignas e passageiras. O tratamento com medicamentos é
pouco recomendado. Em geral acontecem em determinadas situações de estresse, e
vão embora quando essas situações são controladas.
Ouvir de um médico uma informação desse tipo é meio caminho andado para a cura.
Receber uma informação inadequada pode ser o suficiente para o desenvolvimento
da chamada síndrome de pânico (mesmo assim, o Ministério da Saúde adverte: em
caso da persistência dos sintomas procurar um médico – risos).
Marco Mota / Médico cardiologista /
E-mail: mota-gomes@uol.com.br