20/09/2024 10:34:08

Polícia
19/10/2012 20:11:06

PCC finca raízes em Alagoas e tem mil ‘soldados’


PCC finca raízes em Alagoas e tem mil  ‘soldados’
Logomarca da facção criminosa

Audácia, atrevimento, ostentação do poder. Sindicato do crime, partido do mal, organização criminosa ou facção. Todas estas e outras expressões podem classificar o maior grupo focado em ações delituosas que se conhece e se combate no País. O Primeiro Comando da Capital – ou, resumindo, o PCC – encontrou no solo onde foram erguidos os presídios paulistas a oportunidade de comandar as maiores facetas que buscam desestruturar as forças da segurança pública. A semente que tinha a finalidade de dar ‘voz’ aos detentos brotou na terra fértil e germinou pelo Brasil afora. Em Alagoas, suspeita-se que a fertilização aconteceu quase dez anos após o desabrochar. Aqui, enraizou e o seu caule é nutrido pelo tráfico de drogas, o principal responsável pelo aumento da violência em todo o estado.

E quem poderia imaginar que de uma partida de futebol marcada entre detentos da Casa de Custódia de Taubaté, no ano de 1993, poderia se transformar em um grupo tão fortalecido? Os presos agendaram o racha e a matança juntos. Os dois fatos aconteceram. A partir dali, começaram as reuniões para o nascimento do “partido”, classificação que eles mesmos usam. E a estruturação do PCC é, de fato, muito parecida com a formação de uma legenda política. Ele tem o organograma bem definido, o planejamento dos crimes delineado, um estatuto estabelecido e a divisão de tarefas que nem sempre a administração do poder público possui.

Autoridades ouvidas pelo portal Gazetaweb confirmam a atuação da facção criminosa em Alagoas. Há quem especule que os integrantes estão neutralizados dentro das penitenciárias e há quem discorde dessa opinião. O fato é que são unânimes em atestar a existência de integrantes do “partido” no estado e que sabem de casos em que eles ditaram as ordens para a execução de crimes dentro e fora dos presídios. Por meio dos consultores, a reportagem descobriu que já passam de mil os batizados no PCC aqui em Alagoas. E a força de espalhar o terror já foi provada em várias situações: os ataques aos ônibus ano passado e a ameaça, atestada por meio de documentos, a autoridades do Poder Judiciário. A polícia também prendeu ‘figuras’ que, posteriormente, foram identificadas como ‘soldados’ do crime.

Para esvaziar a facção, a Defesa Social agiu rapidamente. Transferiu dezenas de reeducandos taxados como sendo de alta periculosidade para penitenciárias federais em outros estados. Além disso, colocou em campo uma equipe para estudar as ações do grupo. Por conta dessa estratégia, membros do PCC reagiram, mas a atitude foi mantida pelo estado.

Um dos primeiros registros da presença do PCC em Alagoas aconteceu em 2002. No mês de abril de dez anos atrás, os policiais alagoanos conseguiram prender Dionísio Aquino Severo que havia sido resgatado de helicóptero de um presídio de São Paulo e veio parar em terras alagoanas, mais precisamente em Marechal Deodoro.

Considerado homem articulado no crime organizado, era citado em assalto a banco em Aracaju e, depois, resolveu migrar para Alagoas.

À época, a polícia alagoana divulgou a prisão de Dionísio e outros dois assaltantes (José Carlos Barros e Rubens Ferreira Landim) como um grande acontecimento. E contextualizou o caso com o fato de criminosos do Sudeste do País estarem migrando para o Nordeste com a intenção de montar bases na região.

Dionísio Severo foi assassinado depois que voltou para São Paulo durante uma rebelião de presos.

O delegado Robervaldo Davino atuava como integrante da cúpula de Segurança Pública e lembra o caso. “Já prendemos algumas pessoas ligados ao crime organizado. Um desses que me lembro bem aconteceu em 2002, foi o Dionísio, que era do PCC. Eles cometem crimes lá fora e fogem para não serem pegos. Alagoas é um desses destinos que querem montar raízes”, declarou Davino.

A vinda para Alagoas de Ozélio de Oliveira, acusado no sequestro de Wellington Camargo (irmão do cantor sertanejo Zezé Di Camargo), causou um rebuliço no sistema prisional alagoano. Para o especialista em segurança, Daniel Saraiva, esse acontecimento pode ser apontado como motivo que gerou “intercâmbio” entre presos de Alagoas e de outras regiões do País. Em 2002, o acusado e mais três reeducandos fugiram do Instituto Penal São Leonardo.

Ozélio de Oliveira veio para Maceió por conta de um convênio entre o estado de Alagoas e o Ministério da Justiça. “Na década de 1990, o governo tomou uma atitude de importar presos de outros estados. Um exemplo disso foram os irmãos Oliveira, acusados de sequestro. Isso se tornou um grande problema para Alagoas”, declarou Saraiva.

De acordo com o especialista, a ampliação do sistema prisional acabou favorecendo a vinda de presos de outras regiões, que, “misturados” a detentos da terra, provocou “troca de experiências” no mundo da criminalidade. “Hoje é possível dizer que o PCC tem ramificações em Alagoas. Não há chefes, mas eles estão atuando”, informou.

Em janeiro de 2006, a polícia civil apresentou João Marcelo da Silva, preso no município de Santana do Mundaú, acusado de ser um dos um dos líderes do PCC. Mais conhecido como “Coronel Tatuagem”, ele teria participado de vários assassinatos de policiais militares em São Paulo, segundo informações da época.

Em outubro de 2006, foi preso, no conjunto Eustáquio Gomes de Mello, Ronaldo Calado Mendonça, considerado um dos homens mais respeitados do PCC – ele seria integrante do segundo escalão da facção – na cidade de Bauru (SP). Ele foi acusado de cometer incêndios criminosos naquele município, além de ser apontado como um dos comandantes das ‘operações financeiras’ de tráfico em vários estados onde o Comando atua. Na mesma época, ele foi transferido para o sistema prisional de São Paulo.

Um dos casos mais emblemáticos foi a ousadia de Saulo de Sá Silva, mais conhecido como “Barão do Pó”. Ele ostentava na internet sua vida de luxo. Em janeiro de 2008, ele foi preso em Maragogi e, em seguida, transferido para o Rio de Janeiro, onde atuava como um dos maiores fornecedores de drogas da Favela da Rocinha.

A operação que culminou na prisão do traficante foi comandada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e contou com o apoio da polícia alagoana.

Em Alagoas, articulações começaram com remanejamento de presos

Para autoridades da Justiça e do Ministério Público Estadual, a prisão em Alagoas de integrantes de organizações criminosas que atuam em outras regiões e a volta de presos após período fora do estado, normalmente levados para presídios federais, ajudaram no surgimento e fortalecimento desses grupos.

Eles “aprendem” artimanhas, organizam e transferem o conhecimento de práticas criminosas dentro do sistema prisional. “O mais provável que tenha acontecido é que a ida dessas pessoas para presídios federais e depois a volta deles acabou instalando raízes aqui”, declarou o juiz da Vara de Execuções Penais, José Braga Neto.

O promotor Alfredo Gaspar de Mendonça, coordenador do Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), concorda com a tese defendida por Braga Neto e diz que a prisão de criminosos de fora em Alagoas acabou levando “gente experiente no crime organizado para dentro do sistema prisional”. “Essa prisão de gente de fora aqui acabou provocando a adesão de pessoas a essas organizações”, reforçou Alfredo Gaspar.

Os números apresentados pelo coordenador do Gecoc são estarrecedores. De acordo com Alfredo Gaspar, mais de mil pessoas estão trabalhando para organizações criminosas em Alagoas. São chamados de “soldados” – seguem ordens de pessoas mais articuladas – e executam crimes.

Um exemplo dessas ações aconteceu no Village Campestre, em 2010. Um grupo ordenou a execução de seis pessoas, tudo isso por causa de uma dívida de R$ 2.300 de traficantes. “Tinha essa ordem para matar. Soubemos que poderia acontecer a chacina e chegamos a tempo de impedir”, informou o promotor.

O juiz José Braga Neto diz que o problema é identificar os integrantes dessas organizações criminosas.

 

gazetaweb // regina carvalho e thiago gomes



Enquete
Você Aprova o retorno do Horário de Verão?
Total de votos: 11
Google News