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05/10/2012 21:40:10

Mimeógrafo, uma copiadora à base de álcool


Mimeógrafo, uma copiadora à base de álcool
Ilustração

oestadão //

nayara fraga

 

O que sai do nosso baú hoje era desculpa para aluno demorar a voltar para a sala de aula. “Quem pode pegar os exercícios na mimeografia?”, perguntariam algumas professoras. O estudante ia até o setor da escola responsável pelas cópias e voltava com o número exato de folhas para cada aluno. No papel branco, lá estava o texto azul, geralmente escrito à mão, com cheirinho de álcool.

 

O equipamento que permitia essas cópias se chama mimeógrafo, sugestão do nosso leitor Zoltan Bergmann, de 58 anos, morador de Blumenau, Santa Catarina. Não, ele não usa o aparelho em pleno ano 2012. Mas adora uma peça de museu. Quando o centro espírita onde a mulher trabalhava resolveu se livrar do mimeógrafo, depois de uma limpeza geral, ele pediu a máquina.

 

Em uma análise genealógica, o mimeógrafo talvez possa ser encarado como o avô das fotocopiadoras Xerox. Ele funcionava com a ajuda de uma manivela. O professor escrevia os exercícios numa folha especial, conhecida por estêncil ou matriz, que continha carbono. O texto, então, aparecia do lado oposto do papel. Com a parte escrita voltada para cima, a folha era colocada no entorno do rolo que compõe o mimeógrafo.

 

Era uma técnica bem rudimentar, mas ainda há escolas que a usam, como conta a aposentada Maria Luiza Dias, que trabalhou como professora de 1985 a maio de 2012. Ela diz conhecer escolas públicas do interior de Minas Gerais que fazem cópias com o equipamento até hoje, dada a escassez de verba. “É uma prática barata”.

 

Mas não necessariamente mais prática. Maria Luiza se lembra bem do momento em que os papéis eram colocados para secar, um do lado do outro. (Sim, a folha saía meio úmida da máquina.)

 

É que a matriz só conseguia passar o texto para o papel em branco porque havia uma espécie de feltro umedecido com álcool. Aliás, havia aluno que sentia dor de cabeça por causa do cheiro forte do álcool, como lembra a professora.

 

Saber a quantidade certa de álcool era determinante para o resultado da cópia, segundo Maria Luiza. “Se colocava pouco álcool, ficava clara demais (a cópia). Se colocava muito, borrava.” As primeiras cópias, que costumavam sair mais escuras, eram separadas para os alunos que não enxergavam muito bem.

 

O namorado de Maria Luiza, Günther Schlüter, de 78 anos, também teve “uma vivência muito próxima com o mimeógrafo”, como ele mesmo define. Quando ainda cursava matemática na faculdade, em 1966, ele montou um curso de preparação para adultos, no Rio de Grande do Sul.

 

Para fazer a cópia das apostilas e das provas, usava um mimeógrafo comprado em São Paulo.

“Se em 1985 já era chique, imagina em 66″, brinca Maria Luiza, ao ser questionada sobre o sucesso que o namorado devia fazer naquela época com a máquina.

 

Uma matriz rendia entre 30 e 50 cópias, na lembrança de Schlüter. O contador do mimeógrafo de Zoltan Bergmann — o recebido do centro espírita — exibe o número 5.548. É o número de vezes que a manivela foi girada.

 

Tinta

Houve uma geração do mimeógrafo em que a tinta substituía o álcool, como lembra o nosso colega e colunista do ‘Estado’ José Paulo Kupfer. Ele conta ter rodado muitos panfletos e jornaizinhos escolares nesse tipo de máquina. Mimeógrafos mais “modernos”, do tipo elétrico, também existiram, segundo ele. Nesses, não havia necessidade de manivela.


 



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