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nigel santana
Vender o voto em troca de favores também é crime. Essa recorrente prática persiste nos dias atuais e parece ser difícil de acabar, seja na capital ou no interior. Quem é candidato a prefeito ou a vereador nestas eleições tem se deparado com diversos pedidos para serem recompensados nas urnas.
Como se sabe, caso os políticos atendam as súplicas dos eleitores a situação pode se complicadar. Configurado o tal crime o político tem o mandato cassado, em caso de vitória nas urnas, como explica o juiz da 2ª Zona Eleitoral, Carlos Cavalcanti.
“Todos os benefícios oferecidos ou em troca de votos podem ser caracterizados por crime eleitoral. Essa questão não é permitida pelo Tribunal Superior Eleitoral [TSE]. Também pode ser qualificado como abuso de poder econômico por parte do candidato, e dependendo das investigações, pode haver cassação do mandato”, detalha o magistrado.
Entramos em contato com diversos candidatos a vereador, seja à reeleição ou iniciantes. Certamente, eles pediram para não ser identificados, entretanto vale a pena saber os pedidos mais comuns. Tem de um tudo: de silicone até mulher perdida.
Os eleitores pedem janelas, portas e materiais de construção que irão servir para complementar a reforma ou finalizar a casa. Há quem peça pisos de porcelana. Quando a questão é locomoção, a situação tende a se complicar.
Na região do Agreste e Sertão, por exemplo, os candidatos admitem que os eleitores pedem para efetuar o pagamento das carteiras de habilitação A e B, que serve para moto e carro. A tal carta sai em torno de R$ 1.200. “Antes, só pediam a CNH para carro e agora eles querem os dois. Impossível”, declarou um vereador em segundo mandato.
Contas pagas, remédios e até silicone
Quem é vereador e tem alguma empresa na cidade corre o risco de ter prejuízos ou até mesmo sofrer com alguma ação judicial com base na lei eleitoral. Isto por que o comércio será alvo constante dos pedidos dos eleitores.
Candidato a vereador no interior do Estado, iniciante na política, proprietário de uma farmácia, narrou que antes da campanha eleitoral, os produtos eram vendidos normalmente. Agora, quem chega até o seu comércio pede um desconto muito acima dos 60% ou mesmo querem os remédios de graça.
“Acredite, tem gente que o bom senso muda quando as eleições chegam. Querem tudo de graça e em troca disso afirma que seus pais, avós e filhos podem votar em você ou outro vereador. Basta atender o seu pedido”, sustenta o candidato, que chegou a ser chamado de ‘mão fechada’ por não compactuar com algumas exigências.
O mesmo ocorre com quem possui uma loja de material de construção e até uma casa lotérica. Neste caso, o eleitorado pensa na comodidade de deixar as suas contas de água e energia no local e só pegarem quando todas estiverem pagas. E ainda têm aqueles que madrugam nas residências dos candidatos em busca das benesses. A lista dos ‘pidões’ é grande e sem limite: registro de casamento, carteira profissional, cirurgia, jangada, silicone.
Arena
Para o cientista político Ranulfo Paranhos, o eleitor está à espera do período eleitoral, classificado em termo técnico como ‘arena’. “Essa troca de favores é recorrente. É que chamamos de arena eleitoral. Esse fenômeno ocorre quando o político aparece constantemente nos bairros e comunidades, diferentemente quando eles estão executando, no caso de prefeitos, e legislando, em casos de vereador. Isso também acontece quando não há fiscalização, daí, o eleitor pede e fica ao critério do candidato atender”.