27/09/2024 21:26:03

Municípios
06/07/2012 11:44:16

Vereador alagoano é denunciado por tráfico internacional de crianças


Vereador alagoano é denunciado por tráfico internacional de crianças
Mãe do garoto tem saudades de filho

cadaminuto //

 

Exatamente dois anos depois que uma matéria do Cadaminuto trouxe à tona uma denúncia feita por uma mãe, da cidade de Maravilha, 232 km de Maceió, que acusava o vereador e advogado José Ronivo Vaz de entregar seu filho para uma família norte-americana, a Polícia Civil resolveu indiciar o advogado por tráfico internacional de crianças.

 

Em junho de 2010, a equipe de reportagem do Cadaminuto, com os jornalistas Teresa Cristina e Glécio Rodrigues, foi à cidade de Maravilha e falou com exclusividade com a aposentada Jovelina Maria de Lima, que descreveu com detalhes o ocorrido há cerca de 15 anos quando, segundo ela, “prometeu” o 13º filho aos advogados José Ronivo Vaz e Pedro Fernandes.

 

Dona Jovelina diz que não recebeu dinheiro pela criança, mas teve a garantia de que Ronivo forneceria remédios para ela depois que o bebê nascesse. “Eu dei ele ainda na barriga e o Ronivo me ajudou porque tive problemas durante o resguardo”, contou ela, acrescentando que também recebeu um colchão do advogado.

 

“Queria ver meu filho, antes de morrer, ele é o meu caçula”, lamenta Dona Jovelina ao relembrar a audiência no Fórum da cidade para informar oficialmente que doaria o filho à adoção. “O juiz me perguntou umas coisas e eu falei a verdade, depois o Ronivo me chamou e disse que eu poderia ter complicado tudo porque falei a verdade. Mas, eu não gosto de mentir. O Ronivo disse que ia mandar uma foto do meu filho e até hoje nunca me deu. Será que vou me acabar e não vou ver o meu caçula”, colocou.

 

“O Ronivo ainda disse que o menino ia ser o meu sustento, mas não entendi”, completou Dona Jovelina.

 

O Caso

 

O filho da aposentada, que recebeu o nome de João Pedro, ficou sob os cuidados de uma jovem e da mãe dela até que o processo de adoção fosse concluído. A mesma situação aconteceu com outras três crianças, que também ganharam pais norte-americanos.

 

A “cuidadora” dos bebês foi Jailma Rodrigues do Nascimento. Ela conta que com 18 anos e pouca informação foi procurada por Ronivo para que cuidasse de crianças até que os norte-americanos viessem buscá-las. “Ele (Ronivo) me falou que o juiz me mandou ficar com os meninos enquanto a adoção não saía. Eu não entendia e fiquei com as crianças”, contou Jailma, que hoje trabalha como agente de saúde na cidade.

 

Jailma disse que os bebê que ganharam os nomes de João Pedro, João Lucas, Bruna e Olívia vivem nos Estados Unidos. Ela afirma que com o passar dos anos achou estranho o fato de a Justiça tê-la mandado cuidar das crianças e questionou o advogado. “Ele me disse que era feito tudo da maneira correta”, frisou.

 

A agente de saúde colocou também que outras três crianças levadas para a sua casa por Ronivo não foram adotadas pelos casais que haviam prometido ficar com os bebês. Dos três, a família de Jailma ficou com dois: Natália e Gabriel, este com seis anos e a última criança que Ronivo levou para que ela cuidasse.

 

“Depois as pessoas falavam que podia ter tráfico de órgãos e eu fui ficando mais esperta. Me apeguei muito às crianças e, por isso, não fazia de novo. Quando a gente estava já com as crianças como se fossem da família, os casais levavam. O Gabriel, o Ronivo disse que iam adotar, mas demorou e o meu pai não quis mais, porque já queria ficar com ele. De duas crianças, a gente ainda teve contato pelo telefone, mas isso já faz tempo”, colocou a agente.

 

Jailma lembrou que duas crianças foram mandadas para Maceió depois que a Justiça descobriu que elas estavam sob os seus cuidados. A juíza Aída Cristina Antunes determinou que dois meninos fossem levados para a capital, pois estavam na casa de Jailma. “Eles se chamavam Noel e Sérgio e depois disso não tive mais notícia”.

 

A magistrada explicou à reportagem do CadaMinuto que determinou a ida dos meninos para Maceió após denúncias de que eles estavam na casa de Jailma. “Verificamos a irregularidade e providenciamos a transferência das crianças para a Creche-Adoção”, colocou Aída.

 

Versão do Advogado

 

Ainda em 2010, o Cadaminuto procurou o advogado e vereador que explicou sua versão sobre o caso, ele disse que tinha participado do processo de adoção, pois atuava como advogado na comarca. Ele afirmou que acompanhou o caso de três crianças, que foram para os Estados Unidos. Sobre a informação de que ele abordava mulheres para encaminhar os bebês para a adoção e que teria determinado que pessoas em Maravilha cuidassem de crianças até o fim do processo, ele colocou que tudo não passa de “armação política”.

 

“Tudo o que ocorreu na época foi feito de maneira legal, tudo foi legalizado. O juiz era o John Sillas e, ele inclusive foi aos Estados Unidos verificar como as crianças estavam. Não houve casais interessados no Brasil e, por isso abriu-se para casais estrangeiros”, disse Ronivo.

 

O advogado e vereador garantiu que nunca procurou mulheres para pedir as crianças para adoção e disse que o magistrado da cidade nomeava pessoas interessadas em cuidar dos menores até que se encontrassem novos pais para eles. Ronivo afirmou que adoções como as de Maravilha aconteceram também em outras cidades alagoanas há cerca de 15 anos.

 

“Antes não havia a comissão de adoção e hoje a coisa é diferente. Mas, antes era dessa forma e todas as famílias sabiam que os filhos iam para o Exterior. Não entendo porque essa história veio à tona tanto tempo depois, só pode ser intriga da oposição”, disse Ronivo.

 

Juiz desmente

 

O juiz John Silas, que atuou em Maravilha na década de 90, desmentiu Ronivo e disse que nunca determinou que as crianças deixassem suas famílias e fossem cuidadas por outras pessoas enquanto esperavam pela adoção. O magistrado colocou que participou do processo de adoção de duas crianças e confirmou que, em viagem aos Estados Unidos, as visitou.

 

“Eu desconheço que havia pessoas que cuidassem das crianças, até porque elas ficavam com as mães e tudo era feito dentro dos parâmetros legais. Desconheço qualquer determinação para nomear pessoas da cidade para atuar como cuidadoras dos bebês. Na época havia uma comissão que visitava as famílias, não apenas em Maravilha, e verificava as condições e, se, realmente os bebês iriam para adoção. E eu nunca autorizei ninguém a usar meu nome para dizer que tinha que cuidar de crianças. O advogado participou do processo porque atuava na comarca”, colocou o juiz.
 


 



Enquete
Você Aprova o retorno do Horário de Verão?
Total de votos: 26
Google News