Uma cerimônia ocorrida na madrugada desta segunda-feira, 6, reuniu na Serra da Barriga, cerca de cem pessoas, entre religiosos de matriz africana e grupos culturais, que lembraram a destruição do Quilombo dos Palmares, ocorrida em 6 de fevereiro de 1694.
O evento foi organizado pela representação alagoana da Fundação Cultural Palmares, com o objetivo de reunir os descendentes que sobreviveram àquela batalha que dizimou milhares. Um momento para refletir o que foi a luta do povo negro em busca da liberdade.
Representantes de religiões de matrizes africanas de Maceió estiveram presentes ao ato, entre eles o representante da Federação dos Cultos Afro, Pai Paulo, a ialorixá Mãe Mirian, a ialorixá Mãe Neide, que vieram junto com inúmeros religiosos. Também participou da cerimônia o Grupo de Estudos Culturais Vixe Maria em parceria com a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), que trouxe representantes dos municípios de Maceió, Branquinha, Messias, Santana do Mundaú e União dos Palmares.
Já passava das 00:00 horas quando teve início no Sítio Recanto, na Serra da Barriga, o pedido de permissão aos ancestrais, por intermédio dos religiosos, para prosseguir com o cortejo até o platô. Nesse momento teve início a declamação do poema Escalando a Serra da Barriga, de Abdias Nascimento, na interpretação do ator Chico de Assis.
Mãe Miriam falou do pedido formal de perdão à população afro-alagoana e à religiosidade afro-brasileira, feita pelo Governo do Estado em cerimônia no Palácio dos Martírios na última quinta-feira,2, referente ao massacre do Quebra.
Iniciado o cortejo em direção ao Platô da Serra, centenas de pessoas, entre religiosos, grupo de jovens e populares, refletiam em meio à cantoria e orações. Na segunda parada, o tema violência contra jovens em sua maioria negros, foi debatido com uma dramatização feita pelo Grupo Vixe Maria e PJMP.
A última parada foi na entrada do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o momento foi de muita celebração, onde os religiosos entoavam cantigas e orações aos antepassados. Nesse momento o Poema Serra da Barriga de Jorge de Lima, foi recitado pelo ator Chico de Assis.
Em sua fala a ialorixá Mãe Neide, do Grupo Espírita Santa Bárbara, destacou a importância da celebração dessa data, “Estamos refazendo a história e resgatando o que nos foi tirado”, disse. A ialorixá parabeniza a FCP pela elaboração do projeto, “Genisete precisa cada vez mais de nosso apoio, estamos juntos”, concluiu.
A representante da Fundação Cultural Palmares em Alagoas, Genisete Sarmento, disse que esse evento foi o início das atividades culturais para celebrar a Consciência Negra este ano, já que as comemorações eram restritas ao dia 20 de novembro. Genisete lamentou a ausência dos quilombolas, pois foram convidados pela FCP em algumas cidades do estado. Mas, devido a fatores desconhecidos, os mesmos não compareceram ao evento.
“Sinto-me feliz e realizada pela presença de todos vocês, sinto-me uma descendente dos sobreviventes da batalha de 1694”, disse Genisete Sarmento, fazendo alusão ao nome do evento 'De volta a Angola Janga', uma referência às origens, tanto africanas, quanto palmarinas.
O evento emocionou e trouxe o passado sofrido à realidade dos nossos dias. Para a assistente social Nádia Seabra, a volta ao passado serve para se trabalhar o combate a descriminação e o racismo, que ainda hoje é gritante. Emocionada, Nádia diz que ainda existem muitas pessoas que vivem sob o regime da escravidão, na terra onde se travou uma batalha épica.
Um café da manhã foi servido aos participantes no restaurante Kùuku-Wàana (Banquete Familiar), encerrando evento.
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joão paulo farias - texto e fotos