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24/01/2012 21:30:19

Em União dos Palmares, falta de matadouro põe população em risco

Em União dos Palmares, falta de matadouro põe população em risco
Trator derruda matadouro

Destruído há quase dois anos, durante a enchente do Rio Mundaú, o matadouro de União dos Palmares está longe de ser reconstruído. Num município com cerca de 70 mil habitantes, comerciantes fazem uma verdadeira peregrinação a outros municípios para garantir o abastecimento de carne na cidade. Além das despesas com o deslocamento, eles têm perdas de mais de 10 quilos por cada animal abatido, devido às condições precárias de higiene.

 

Prejuízo que também é sentido pelos consumidores, que pagam mais caro por uma carne de má qualidade. O sentimento de revolta é grande, principalmente para quem sobrevive dessa atividade. Quem imagina que a ausência do matadouro público prejudica somente quem vende a carne bovina, está muito enganado. É que toda população da região fica exposta ao risco que uma carne de manejo incorreto causa aos consumidores.

 

No espaço onde funcionava o antigo matadouro, apenas terra, pedras, mato e sujeira. Um cenário incompreensível para quem precisa fazer o abate naquele local. “A enchente só destruiu uma parte, e estava sendo reconstruída, quando, já perto de as obras serem concluídas, a prefeitura resolveu acabar com tudo. Não havia necessidade de destruir o prédio”, conta o comerciante Marcelo Tavares Galvão.

 

Para ele, e outras 500 pessoas, toda essa situação representa o descaso que a administração municipal tem tratado a questão. “O prefeito [Areski Freitas Júnior, conhecido por Kil] não quer o matadouro, simplesmente, é isso. Hoje, somos completamente dependentes de São José da Laje e Santana do Mundaú”, critica o açougueiro Édson da Silva. Os dois municípios são distantes cerca de 25 a 30 quilômetros de União.

 

Galvão, comerciante no ramo há 50 anos, revela que as várias reuniões tidas com o prefeito foram em vão. “Ele [o prefeito] diz que está providenciando, mas nada avança. Ninguém vê alguma coisa sendo feita, e o último encontro foi há uns quatro meses. Nós que somos totalmente prejudicados, pois temos que recorrer aos matadouros de outros municípios que não têm a mesma estrutura que o daqui tinha. Tudo custa mais caro, para levar e para buscar o boi, chegando a gastar entre R$ 40 a R$ 50 por cada um”.

 

E os prejuízos não param por aí. A precariedade do matadouro de São José da Laje, por exemplo, pode trazer riscos à saúde da população que consome a carne: Galvão, não se esquiva em mostrar pedaços de carne cheios de larvas de mosca varejeira. “Não tenho vergonha.

 

Vergonha é União não ter matadouro. Tudo aquilo ali (referindo-se a uma quantidade de lixo amontoada) representa as perdas que temos, porque são partes contaminadas, que jamais colocaríamos à venda. Somente de um boi, perco até 10 quilos. E o pior é que o problema não é com o boi, e sim as condições as quais ele é abatido”, ressalta.

 

Desse modo, inevitavelmente, a população agora paga mais caro por uma carne pior. “Todo mundo na cidade se sente prejudicado. A carne daqui era mais limpa, e o pior é que o preço aumentou. O que eu comprava por R$ 9, agora pago R$ 13”, reclama Helena Divina, proprietária de um restaurante.

 

Para Alexandra da Silva, a situação ainda é mais delicada. “Fica difícil pra gente que trabalha na roça e não tem emprego fixo. Eu pagava R$ 6 e agora compro por R$ 8 o mesmo tipo de carne”, diz. Assim como ela, a maior parte da comunidade local é carente.

 

A comerciante Ana Paula Ferreira conta que o governo municipal até disponibiliza uma Kombi para transportar quem realiza o abate nos dois municípios, porém, isso não é suficiente. “às vezes não tem o veículo, demora muito, quebra. Tem vez que chego lá de meio-dia e volto de meia-noite, como aconteceu na semana do Natal e Ano Novo”, lembra.

 

Em São José da Laje, condições são precárias

 

A equipe de O Jornal foi até o matadouro de São José da Laje para verificar as condições do local. O cenário é de precariedade: além das condições insalubres, muitos trabalhadores, cerca de 50, realizam o abate dos animais sem luvas e até descalços. Um cachorro também passeava pelo local. Na chamada “cozinha”, as vísceras são queimadas à base de lenha. “Falta muita coisa”, reconhece José Benedito da Silva, responsável pelo matadouro.

 

Os animais que vão ser sacrificados passam por uma espécie de “chapão”. Em seguida, são mortos no chão à base de marretadas na cabeça. Percebe-se que o processo é muito sofrido para o animal. Em média, 130 bois de quatro municípios (União dos Palmares, Murici, Messias e da própria cidade) são abatidos por semana, sendo 50 somente na sexta-feira.

 

Na área em torno do matadouro, muito esgoto a céu aberto. E uma das cenas mais chocantes da matança pode ser conferida em frente ao prédio: o deságüe de um rio de sangue no Rio Canhoto, que abastece algumas comunidades. Em sua margem, as carcaças revelam o que muitos tentam não enxergar: um crime contra a saúde pública e o meio ambiente.

 

Sem outra opção, os comerciantes de União reconhecem e até agradecem o apoio dado pelos dois municípios circunvizinhos. “Se não, como teríamos carne aqui? A população de União deixaria de comer carne? Não podemos nem criticar porque eles que estão dando esse suporte” comenta Galvão. No entanto, seu maior lamento é observar a diferença entre esses e o matadouro destruído. “Era moderno, o boi só era abatido pendurado. Era quase igual ao Mafrial. 

 

População pede ajuda a deputado

 

O deputado federal João Lyra (PSD), foi procurado por machantes, açougueiros e agropecuaristas da região. Eles solicitaram uma solução para a questão do matadouro de União dos Palmares. O parlamentar se comprometeu em encontrar uma solução.

 

A promotora de Justiça da 4ª Vara de União dos Palmares, Carmem Silvia Sarmento, admite que a situação dos dois matadouros são bem precárias, porém a interdição, segundo ela, incentivaria o comércio de carne clandestina.

 

“Tanto o de São José da Laje quanto o de Santana do Mundaú não possuem as condições exigidas por lei, mas não se tem para onde correr: se fecha todos, perde-se o controle, porque eles vão passar a abater os animais nos sítios. Daí da início à comercialização de carne clandestina, o que é muito pior”, explica. Sobre a construção de um novo matadouro em União, a promotora afirmou que está em tramitação um projeto para um matadouro regional. “Por isso a demora dela, pois vai ter equipamentos que os outros não tem”, diz.

 

A equipe do O Jornal esteve na sede da Prefeitura de União, mas foi informada que o prefeito e assessores estavam em viagem. A reportagem também tentou entrar em contato pelo celular, mas estava desligado. 

 

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