Iniciarei este artigo com uma citação do legendário poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare; sobre o ressentimento.
"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra" (William Shakespeare). Geralmente, não percebemos ou não aceitamos que somos portadores de ressentimentos; por isso, não nos ajudamos ou procuramos ajuda para tratarmos desta ferida aberta que nos levará às doenças emocionais e consequentemente as doenças físicas.
Acredito seriamente, que muitas pessoas não sabem o significado de ressentimento e quais são as consequências danosas a nossa saúde quando o mesmo se instala. Por isso, vamos definir no sentido literal da palavra e no sentido psicológico o que é ressentimento.
Os dicionários da língua portuguesa definem “ressentimento” como um substantivo masculino que quer dizer: mágoa, rancor; lembrança de algo desagradável.
Na linguagem psicológica, ressentimento tem um sentido amplo, abrangente e muito diferente do sentido literal da palavra. Podendo ser definido como:
- Sentir de novo com a mesma intensidade todas as emoções ruins provocadas por uma mágoa guardada no coração e enraizada pelo tempo.
- É ficar contemplando cenas de um passado doloroso, através de imagens mentais; revivendo-as com as mesmas sensações e intensidade do momento ocorrido. O ressentimento é o produto de uma ferida não curada, não tratada, que volta em forma de dor, cujo objetivo é
somente adoecer nossa alma. Quando o mesmo se inicia, iremos sentir amargura e raiva das pessoas ou das coisas que nos prejudicaram; causando assim, a repressão da raiva crônica e eterna, transformando-se em uma ferida que vai aos pouco nos corroendo sutilmente.
De modo geral, o ressentimento desencadeia uma cascata de emoções desagradáveis e nos tira a alegria de viver. Quando o ressentimento se instala, vamos perdendo aos poucos a nossa alegria e avançamos em direção à melancolia, extinguindo-se o prazer pela vida. Se não for removido, causará graves consequências físicas e psíquicas que impedirão o nosso crescimento, tornando-nos uma pessoa amarga, desagradável e cheia de rancor; contribuindo para desenvolver uma grave depressão que poderá acabar nos destruindo.
Se prestarmos atenção ao discurso de uma pessoa ressentida, vamos perceber que é um lamento repetido e sem fim que não pode ser esquecido. Geralmente, para quem o escuta sente desconforto, em virtude de ouvir uma retórica recorrente do ressentido de se colocar no lugar de vitima para justificar seu rancor. No ressentimento, a pessoa se satisfaz naquilo que o machuca, que são os seus lamentos doloridos. Ela tem prazer em falar da dor e não tem consciência disso.
Em nenhum momento devemos nos permitir em guardar ressentimentos. Ao guardar qualquer ressentimento, estamos nos acorrentando a alguém que achamos que nos fez mal. Estamos re-sentindo a dor que só existe em nosso pensamento e que irá nos levar aos poucos a perda da alegria de viver. Portanto, se formos ofendidos, temos toda razão de ter sentido decepção, mágoa, tristeza, revolta e desapontamento no momento em que a ofensa ocorreu. Então, sentir tais coisas, só tem lógica se for naquele momento. Se esse estado perdurar, e estivermos até hoje sentindo essa decepção, essa tristeza, essa mágoa, essa revolta e aquele desapontamento com aquela pessoa; certamente, estaremos ressentidos com ela.
Então eu pergunto: quais os ganhos que teremos ao usarmos a nossa mente para sentirmos novamente coisas ruins? Nenhum; sentir coisas ruins novamente não tem absolutamente nenhuma função, nenhum sentido; exceto, nos prender ao passado e nos tornar uma eterna vítima de alguém que nem mesmo está tentando mais nos prejudicar. Parece até insensatez ou insanidade, permitir que a simples lembrança da dor nos faça sentir tudo novamente.
Até o presente momento, não existe remédio alopata ou homeopata que elimine o ressentimento. No meu entender, o único remédio que pode eliminar o ressentimento, é o perdão. Somente o perdão.
Por isso, o perdão é considerado um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de raiva contra outra
pessoa, decorrente de uma ofensa recebida. Perdoar é deixar sair à mágoa do coração, fechar as portas do sofrimento e colocar um ponto final no passado.
Quando guardamos mágoa de alguém e não o perdoamos, acabamos convivendo intensamente com a esta pessoa.
Ficamos escravo dela, ela domina nossa mente, pensamos nela o tempo todo. Somente quem perdoa, libera o pensamento das algemas de ódio que forjou para si mesmo.
Dr. Jacinto Martins de Almeida
Psicólogo e Acupunturista