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28/12/2025 12:00:00

Avaliação da Ozonioterapia na Medicina: Benefícios, Perigos e Evidências Científicas

Análise das aplicações, riscos e validade do uso do gás ozônio na área da saúde

Avaliação da Ozonioterapia na Medicina: Benefícios, Perigos e Evidências Científicas

A prática da ozonioterapia vem ganhando popularidade nos últimos anos, embora a pesquisa disponível ainda seja composta por estudos de pequeno porte

O ozônio, um gás com forte capacidade oxidante, é manipulado em dispositivos especializados e combinado com oxigênio para procedimentos locais, como aplicações em articulações ou discos intervertebrais, além de tratamentos tópicos, incluindo aplicação de água ou óleos ozonizados na pele.

Existem também métodos sistêmicos, como a auto-hemoterapia (remoção de sangue, exposição ao gás O2-O3 e reinfusão), mas esses procedimentos ainda carecem de ensaios clínicos sólidos que comprovem benefícios clínicos relevantes. Apesar do aumento do interesse na área, a literatura científica ainda apresenta estudos limitados, com protocolos variados e diferentes comparadores, dificultando conclusões definitivas ou padronizações.

Definição e mecanismo de ação
Quando administrado em doses controladas e em pequenas quantidades, o gás O2-O3 provoca um estímulo oxidativo leve, que potencializa as respostas antioxidantes do organismo e regula certos mediadores inflamatórios.

Essa ativação controlada pode temporariamente diminuir a sensibilidade à dor e melhorar a circulação sanguínea na região tratada. Entretanto, a dificuldade reside em transformar esse fundamento biológico em benefícios clínicos consistentes, com doses, concentrações e frequência de sessões bem definidos, objetivos ainda não totalmente alcançados pela pesquisa atual.

Na osteoartrite do joelho, revisões sistemáticas — incluindo uma análise recente — indicam que há uma diminuição temporária na dor, além de um perfil de segurança considerado aceitável.

Contudo, existem críticas à sua eficácia definitiva. Na prática clínica, alguns pacientes experimentam alívio momentâneo, porém, os dados existentes não são suficientes para afirmar que a ozonioterapia seja superior às infiltrações tradicionais com corticosteroides ou ácido hialurônico, nem para estabelecer protocolos padronizados.

Para casos de hérnia de disco com contenção, a quimionucleólise com ozônio demonstrou resultados promissores. Uma meta-análise apontou melhora em comparação ao uso de esteroides ou placebo após seis meses, além de evitar cirurgias em uma proporção significativa de pacientes nesse período.

Tais evidências aumentam a confiança na abordagem em ambientes especializados, sempre considerando as limitações de longo prazo e as incertezas existentes.

Limitações e inconsistências nas evidências
Na área de feridas de difícil cicatrização, como úlceras diabéticas, a revisão da Cochrane não conseguiu confirmar a eficácia devido à ausência de estudos com amostras robustas e comparáveis. Pesquisas recentes indicam que a aplicação de ozônio pode diminuir a extensão da ferida e melhorar marcadores intermediários de cura, mas ainda não há confirmação consistente de que ele acelere a cicatrização completa em relação aos métodos convencionais.


Na odontologia, o uso de ozônio para tratar cáries e doenças periodontais envolve múltiplos estudos de pequena escala e heterogêneos. Uma análise sistemática aponta que a confiabilidade desses estudos é muito baixa, dificultando recomendações para uso rotineiro.

**Aplicações no sistema digestivo**
Para condições como a proctite radioterápica crônica, que provoca sangramento retal meses ou anos após radioterapia pélvica, relatos de casos indicam melhora com aplicações tópicas de óleos ozonizados e insuflações de O2-O3. No entanto, as principais entidades clínicas — cirúrgicas e endoscópicas — não recomendam oficialmente a ozonioterapia para esse fim.


O tratamento padrão inclui técnicas endoscópicas, como plasma de argônio, agentes tópicos como formalina ou sucralfato, além de terapia com oxigênio em condições específicas. Para a colite ulcerativa distal, há um estudo pequeno que combinou ozônio com sulfassalazina, resultando em melhora em quatro semanas; contudo, esse procedimento não é respaldado por recomendações oficiais para doenças inflamatórias intestinais.


Nos procedimentos de pós-operatório de hemorroidectomia, um estudo controlado observou diminuição da dor e cicatrização mais rápida com o uso de banhos de assento em água ozonizada, mas esses resultados ainda não são suficientes para mudar as condutas clínicas.

Quanto às fístulas anais crônicas, a técnica com ozônio mostrou-se pouco promissora em uma análise prospectiva. Assim, o estado atual da evidência indica que a ozonioterapia não é uma estratégia recomendada de rotina no tratamento de doenças do trato gastrointestinal.

Restrições de uso e alegações sem respaldo científico
A ozonioterapia não substitui métodos comprovados de tratamento, como antibióticos para infecções, procedimentos para revascularização em casos de isquemia, cirurgias indicadas ou terapias modificadoras de doença em condições inflamatórias.

Afirmar que ela combate câncer, fortalece o sistema imunológico, promove desintoxicação, elimina Helicobacter pylori ou corrige desequilíbrios na microbiota intestinal é infundado na ausência de ensaios clínicos de alta qualidade que sustentem tais aplicações.

Potenciais riscos e critérios de segurança
Embora raro, o uso de gases pode levar a embolia gasosa, ocasionando acidentes vasculares cerebrais, infartos ou lesões na medula espinhal. Essa complicação é mais provável em pacientes com comunicações cardiacas que facilitam a passagem de bolhas para o fluxo arterial.


Por isso, procedimentos que envolvam administração de gases devem seguir rigorosas normas técnicas, ambientes controlados, avaliação clínica prévia detalhada e consentimento informado claro.

A aplicação intravenosa de ozônio é contraindicada.
Inalar ozônio, por sua vez, é extremamente perigoso, pois o gás é tóxico aos pulmões, podendo agravar a função respiratória e aumentar o risco de eventos adversos respiratórios e mortalidade, segundo estudos populacionais.


Procedimentos seguros e responsáveis costumam evitar modalidades sistêmicas em indivíduos com deficiência de G6PD, devido ao risco potencial de hemólise, além de serem adiados em gestantes, pessoas com doenças pulmonares ativas ou infecções no trajeto de aplicação. Pequenas reações, como dor local, tontura ou reações vasovagais, podem ocorrer, devendo ser manejadas adequadamente.

**Como fazer escolhas na prática clínica**


Antes de considerar a ozonioterapia, é fundamental confirmar a indicação convencional e alinhar expectativas realistas. Para osteoartrite do joelho, o objetivo é apenas aliviar a dor temporariamente em casos que não respondem a tratamentos conservadores. Na hérnia de disco, a quimionucleólise pode ser uma alternativa para postergar ou evitar cirurgia em centros especializados, sempre com um plano de acompanhamento bem definido.

Para feridas crônicas, a terapia com ozônio deve atuar como complemento dentro de programas abrangentes, incluindo descompressão, controle glicêmico, uso de antibióticos quando necessário e revascularização, se indicada.

No âmbito do sistema digestivo, as orientações atuais não apoiam o ozônio como tratamento para sangramento de proctite radioterápica ou outras condições não específicas, devendo-se seguir as opções tradicionais.

Dúvidas frequentes
O ozônio pode curar a artrose?


Não. Pode apenas proporcionar redução temporária na dor por algumas semanas ou meses para alguns pacientes, sem alterar a estrutura da articulação.

Ele é útil contra câncer, Covid-19 ou para potencializar a imunidade?


Não há estudos de qualidade suficiente que comprovem esses usos de forma segura e efetiva; seu uso deve ocorrer apenas em ambientes de pesquisa.

Existe aplicação no intestino ou reto?
Há relatos em casos de proctite radioterápica e um estudo pequeno com colite distal, porém as diretrizes clínicas atuais não recomendam ozônio para tratar sangramento causado por proctopatia.

As abordagens convencionais permanecem endoscopia terapêutica, aplicação de agentes tópicos e oxigenoterapia hiperbárica em casos selecionados.

Este conteúdo é de caráter educativo e não substitui uma avaliação médica individualizada. Sinais de alerta após qualquer procedimento, como dor súbita, fraqueza, dormência, falta de ar, febre ou sangramento retal intenso, exigem avaliação médica urgente.