Ainda que haja consenso de que Jesus foi uma figura histórica, a data de seu nascimento permanece incerta. Nenhum relato antigo ou passagem bíblica aponta um dia específico para esse evento. A escolha pelo dia 25 de dezembro, por estudiosos, é considerada uma adaptação de festividades pagãs antigas, posteriormente integradas às tradições cristãs. Essa ligação é uma das principais razões que levam certos grupos cristãos a não celebrarem o Natal, diferentemente do que ocorre entre católicos e a maioria dos protestantes.
De acordo com o sociólogo Edin Sued Abumanssur, docente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, há variações internas em diferentes denominações. Entre os adventistas do sétimo dia, por exemplo, algumas comunidades celebram o Natal, enquanto outras optam por não fazê-lo. Igrejas pentecostais do movimento evangélico também apresentam diferentes atitudes, sendo mais comum a comemoração em congregações consideradas mais progressistas.
De modo geral, aqueles que rejeitam o Natal alegam que a origem da data é pagã. Embora essa origem seja verificável na história, o cristianismo incorporou diversas festividades pagãs à medida que se expandia. Além disso, muitos argumentam que, como o nascimento de Jesus não possui uma data confirmada, celebrar em 25 de dezembro não faz sentido. Há ainda quem sustente que o nascimento de Cristo não é o aspecto mais importante na doutrina da salvação, já que o foco central estaria na paixão e ressurreição de Jesus.
Os relatos de Lucas e Mateus, que descrevem o nascimento de Jesus, não indicam qualquer período ou data específicos. Com base nessa ausência de detalhes, as Testemunhas de Jeová afirmam oficialmente que o Natal não deve ser comemorado, pois Jesus teria orientado seus seguidores a rememorar sua morte, como exemplificado na última ceia, quando ele pede que a cerimônia seja repetida em memória de sua paixão.
Além disso, membros dessa vertente religiosa utilizam passagens das epístolas de Paulo para justificar que celebrações com origens pagãs não seriam aprovadas por Deus. Argumentam também que os primeiros cristãos não comemoravam o Natal e que sua instituição formal ocorreu apenas no século IV, muito tempo após a morte dos apóstolos. Para esses fiéis, a ausência de registros bíblicos sobre o nascimento de Jesus reforça a decisão de não celebrar a data.
No âmbito do adventismo, a questão também gera debates. Ellen G. White, uma das principais fundadoras do movimento, abordou o Natal diversas vezes em seus escritos. Em certos trechos, ela critica a comemoração, sugerindo que Deus teria ocultado a data de nascimento de Jesus para evitar que o evento recebesse maior atenção do que seu significado espiritual. Em outros, ela aponta que, por ser uma tradição difundida, o período poderia ser utilizado para promover ações solidárias e boas ações, desde que sem exageros ou consumo excessivo.
Algumas igrejas evangélicas de orientação mais conservadora também aconselham seus fiéis a não decorarem suas casas ou trocarem presentes na época do Natal. Para esses grupos, a data teria perdido seu caráter religioso, passando a ser dominada pelo apelo comercial. Ainda assim, especialistas destacam que essas posições representam uma minoria dentro do cristianismo, uma vez que a maioria das denominações ainda celebra o Natal.
A controvérsia acerca do Natal possui raízes históricas que remontam ao século XVII, quando os puritanos ingleses chegaram a proibir a festa por considerá-la inadequada; a comemoração só foi retomada anos depois, com a mudança no comando político do país. Além disso, há diferenças entre as tradições cristãs quanto à data de realização da celebração. Igrejas ocidentais consolidaram o 25 de dezembro, enquanto igrejas orientais adotam outras datas, como 6 ou 7 de janeiro, ainda presentes entre armênios e ortodoxos russos.
Um caso particular é o da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja dos Mórmons. Eles afirmam conhecer a data exata do nascimento de Jesus, que seria 6 de abril, conforme uma revelação atribuída a Joseph Smith, seu fundador. Ainda assim, os mórmons comemoram o Natal em 25 de dezembro, pois interpretam que essa data foi escolhida pelos primeiros cristãos para ressignificar festividades já existentes.
Pesquisadores explicam que a dificuldade em determinar uma data precisa se deve à coexistência de diferentes calendários na antiguidade, como o judaico, romano e egípcio, que se baseavam em ciclos lunares e solares distintos. Essa diversidade torna ainda mais difícil estabelecer uma data histórica exata.
Ao longo dos séculos, o Natal acumulou múltiplos significados. Festas relacionadas ao solstício de inverno, praticadas no hemisfério norte antes mesmo do cristianismo, celebravam a esperança de retorno da luz e da vida após meses de frio intenso. Os romanos, por sua vez, realizavam cultos ao Sol Invencível, Mitra e Saturno, marcados por celebrações prolongadas, refeições farta e troca de presentes. Com a adoção do cristianismo pelo Império Romano, esses elementos foram reinterpretados sob a ótica da vida de Jesus.
Com o passar do tempo, costumes como a influência da mitologia nórdica ajudaram a moldar a figura do Papai Noel, inspirado também em São Nicolau, conhecido por sua generosidade. Práticas como a ceia abundante e a troca de presentes se popularizaram na Europa e posteriormente nos Estados Unidos, onde o Natal doméstico se consolidou no século XIX como uma alternativa às celebrações públicas.
No século XX, a influência cultural dos Estados Unidos popularizou a dimensão comercial da data, fazendo com que a troca de presentes se tornasse uma das características mais marcantes das comemorações. Essa trajetória explica por que o Natal é visto, simultaneamente, como uma festa religiosa, cultural e econômica, além de justificar a escolha de alguns cristãos por não celebrarem a data, considerando suas origens e evoluções distantes do verdadeiro núcleo de sua fé.