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Quando as Celebrações de Final de Ano se Transformam em Cenários de Abuso e Violência Familiar

Entenda como conflitos podem evoluir de discussões comuns para situações de risco jurídico durante as festas

Quando as Celebrações de Final de Ano se Transformam em Cenários de Abuso e Violência Familiar

Durante as festividades de encerramento de ciclo, momentos tradicionais de confraternização familiar podem se transformar em armadilhas emocionais, expondo antigas tensões, cobranças e até mesmo episódios de violência.

Para a psicóloga Natasha Taques, esse período funciona como um verdadeiro 'espelho emocional', potencializando sentimentos reprimidos que permanecem ocultos ao longo do ano.

Ela destaca que a convivência prolongada, aliada às expectativas sociais de perfeição e às lembranças afetivas ativadas nessas datas, cria um ambiente favorável ao ressurgimento de conflitos não resolvidos.

Segundo Taques, os encontros familiares frequentemente reativam padrões emocionais antigos, como sentimentos de abandono, rejeição ou desvalorização, que não surgem de repente, mas retornam com força nesses momentos.

Antes do encontro, sinais de que o clima pode se tornar tenso aparecem na prática clínica, como ansiedade exacerbada, pensamentos recorrentes de que algo dará errado, recordações de conflitos passados e sensações de obrigação de comparecer.

O corpo tende a reagir antes mesmo da mente, manifestando-se por meio de rigidez muscular, irritabilidade, fadiga extrema ou desejo de evitar as reuniões.

Para preparar-se psicologicamente, Natasha aconselha ajustar expectativas, reconhecer limites pessoais, planejar pausas e estabelecer limites claros para temas que se está ou não disposto a discutir. Estudos indicam que uma visão mais realista ajuda a diminuir o desgaste emocional e a frustração.

Quando cobranças, comparações ou antigas disputas emergem com força, estabelecer fronteiras saudáveis é fundamental, pois isso demonstra autocuidado, e não confrontamento.

Limites firmes devem ser comunicados com clareza, de maneira direta, sem justificativas excessivas e com firmeza. Ela explica que o desconforto ao impor limites é comum, especialmente em famílias com papéis rígidos por anos, mas não indica que a medida está errada; pelo contrário, representa uma quebra de uma dinâmica antiga.

A expectativa social de que o período deve ser sempre harmonioso pode gerar frustrações, uma vez que, na realidade, famílias são imperfeitas. Uma convivência saudável não significa ausência de tensões, mas a habilidade de lidar com elas com maturidade emocional.

Para isso, é importante ressignificar essas expectativas, trocando a busca por harmonia absoluta por uma aceitação mais realista, que diminua autoexigências e aumente a consciência emocional.

Quando os conflitos ultrapassam o desgaste emocional e evoluem para violência, o cenário muda de nível, passando a envolver questões legais e jurídicas.

Nesses casos, o reconhecimento de que as tensões extrapolaram o limite do conflito saudável é fundamental para buscar ajuda profissional, especialmente quando há repetição de comportamentos agressivos ou violações de direitos básicos dentro do ambiente familiar.

De acordo com a advogada Lavínia Cavalcanti, especialista em Direito de Família, distinguir conflitos comuns de situações que configuram violência é essencial.

Ela explica que desentendimentos fazem parte da convivência, e discussões familiares são naturais, pois a rotina desgasta as relações. Entretanto, a comunicação nunca deve ser agressiva ou desrespeitosa.

Ela reforça que frustrações isoladas não representam violência, mas toda violência costuma iniciar com um conflito. No âmbito doméstico, a legislação reconhece diversas formas de abuso, inclusive na esfera psicológica.

Ofensas verbais, humilhações constantes, ameaças, controle excessivo ou chamá-los de 'louco' são exemplos que ultrapassam o limite do conflito saudável e podem marcar o início de um ciclo abusivo.

Ela acrescenta que qualquer violação de direitos humanos, como ofensas à honra, à imagem, à integridade física ou à saúde, configura uma forma de violência.

Discussões pontuais, por mais desconfortáveis que sejam, não são consideradas violência doméstica, mas quando esses episódios se tornam frequentes, especialmente em datas comemorativas, envolvendo manipulação emocional, intimidação ou desrespeito, o risco aumenta.

Se alguém já se sente tenso antes do Natal ou outras festividades, isso pode indicar que o ambiente familiar não é saudável e que há possibilidade de violência doméstica.

Para agir diante de uma situação de violência, o aspecto mais importante do ponto de vista legal é garantir a segurança.

A lei recomenda que a pessoa afaste-se do local, registre provas como vídeos ou áudios sem colocar sua vida em risco, e chame a polícia se necessário.

Também é importante buscar testemunhas, verificar câmeras de segurança e guardar conversas pelo WhatsApp ou elaborar uma ata notarial como evidência.

Quando menores de idade estão envolvidos, a situação exige atenção ainda maior. O artigo 226 da Constituição Federal atribui ao Estado, à família e à sociedade a responsabilidade de proteger crianças e adolescentes.

A advogada destaca que, nesses casos, o Conselho Tutelar pode ser acionado e o Ministério Público atua na defesa dos direitos dessas crianças e adolescentes, reforçando a necessidade de intervenção em situações de conflito ou violência.